(11) - UM GRANDE SEGREDO

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            Na segunda feira, acordei com a luz do sol em meu rosto. O despertador de meu telefone ainda não havia tocado, demonstrando que eu levantara mais cedo que o de costume. Minha perna doía um pouco menos, mas o suficiente para despedaçar minhas expectativas de nadar naquela semana.
            Sentei na beirada da cama e esfreguei os olhos.
            Levantei da cama e andei para o corredor do segundo andar. Todas as portas estavam fechadas, o que indicava que todos da casa estavam dormindo. Desci para o primeiro andar e abri a porta dos fundos. Caminhei em direção à piscina e me sentei na borda, com os pés na água.
            A água, apesar de bastante fria, me acalmava e fazia com que eu me sentisse mais segura. Pude sentir minha canela pulsar um pouco, mas nada que demorasse tanto e me preocupasse. A brisa fria daquela manhã corria sob minha pele e balançava meus cabelos soltos.
            Eu tinha certeza que não havia caído da plataforma. O piso sempre era antiderrapante e eu estava tão acostumada a dar saltos que sabia de cor todo o processo para me lançar do alto. Margarett havia me empurrado sem sombra de dúvidas. O que eu precisava no momento era convencer as pessoas do que aconteceu naquela tarde.
            Quando o sol brilhou mais forte, tirei meus pés da piscina e segui para dentro de casa, onde eu tomaria café e iria para o colégio. Eu estava me preparando psicologicamente para as possíveis perguntas que eu receberia sobre o acidente. Mesmo não conhecendo tantas pessoas no colégio, senti que as perguntas surgiriam de alguma forma.
             Scott e meu pai já estavam no carro quando terminei de escovar os dentes.
             - Por que você não fica em casa hoje? – perguntou Scott, no banco da frente. – Você se machucou! Se fosse eu, faria o maior show pra não ir pra aula!
             - Prefiro mancar em mil colégios do que mancar em casa com a mamãe.


              Chegando no colégio, a maioria dos olhares nos corredores se voltaram para mim. Continuei olhando para frente e algumas vezes mexia no telefone para disfarçar o nervosismo.
              - Você caiu feio, hein! – disse um garoto, cutucando meus ombros.
              Quando me virei para responde-lo, Victoria interveio:
              - Você é horroroso e nem precisou de cair de alguma altura!
              Victoria e Judy foram comigo até a sala do primeiro horário. Elas se sentaram em carteiras ao meu lado para que pudéssemos conversar. Quando as pessoas nos encaravam, Victoria lançava a elas um olhar de desdém e logo direcionavam sua atenção à outras coisas.
              Judy me olhou, como se esperasse que eu começasse a contar toda a história. Eu não queria mentir para as únicas pessoas que me receberam no colégio, mas eu também não queria acusar Margarett sem provas. Eu estava em uma situação extremamente desconfortável e não consegui pensar em uma maneira melhor de começar a contar o que havia acontecido.
              - Fala a verdade, Han. – começou Victoria. – Não é possível que você simplesmente despencou lá de cima. Você não teria esse descuido, não é?
              - Quando você vai contar ao treinador o que aconteceu? Ela pode ser expulsa!
              - Eu sei que devo... – comecei, sem graça. – Mas não tenho provas contra ela. O que vale a palavra de uma pessoa que não está nem há três meses na cidade contra a de outra pessoa que estuda aqui há tanto tempo?
              Victoria olhou para Judy, que deu uma sorriso. As duas se encararam por mais alguns segundos, até Victoria dizer:
              - A melhor parte desse acidente foi a cara da Margarett quando o Connor saiu carregando você do ginásio. Só faltava ela espumar pela boca quando vocês saíram pela porta principal.
              Olhei desacreditada para Victoria e Judy. Por que Connor não me disse que ele me carregara do ginásio e da piscina?
              Salva e carregada por Connor Forest para fora da piscina e do ginásio. Eu estava me sentindo o centro das atenções naquele momento, o que era ruim. Mas no fundo, senti uma chama de felicidade crescendo.
              Optei por não contar às meninas sobre minhas conversar com Connor e nossa saída no sábado. Era algo que eu queria guardar como segredo até que sentisse que era a hora certa de contar para alguém. E esse era o único acontecimento em minha vida que as pessoas ao redor não ficavam sabendo. Era boa a sensação de ter algo só pra mim, só que eu sabia.
              Assim que o professor de álgebra entrou na sala, todos os alunos fizeram silêncio e se sentaram em seus lugares. Ele tinha o hábito de ser intolerante com conversas alheias e arrogante quando desapontado. Victoria e Judy se entreolharam mais uma vez e focaram – ou pelo menos fingiram – sua atenção na lousa escrita.

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