Três semanas se passaram após o acidente na piscina. Connor me ajudava a treinar todos os dias, escondido de minha mãe. Conversávamos sobre os mais diversos assuntos e desabafávamos um com o outro. Ninguém, nem mesmo Victoria e Scott, sabiam da nossa amizade. Preferimos deixá-la guardada como algo precioso, como se fôssemos crianças que escondem seus brinquedos para brincarem sozinhas por gostarem demais deles.
Minha perna estava quase completamente recuperada. Eu não mancava e não sentia uma dor constante. Ela estava pronta para entrar na piscina de modo legal e com a permissão de todos a minha volta.
Naquele dia de manhã, Victoria estava lixando as unhas, enquanto Georgie a observava calmamente. Seu olhar para ela era de profunda admiração e carinho. Seus olhos brilhavam e ele sequer piscava. Eu os observei por alguns segundos, até que Victoria interrompeu seu estado de transe, dizendo:
- Tem uma festa hoje à noite, na casa do McLaggen. Todo mundo está dizendo que vai ser uma das melhores festas que essa escola já viu. E não podemos deixar de ir, Hannah! Georgie pode nos levar de carro, não é, Georgie?
Ele apenas assentiu com a cabeça, ainda encarando-a. Victoria estalou os dedos e ele finalmente se concentrou no que estávamos falando.
- Vamos passar na sua casa às sete, ok, Han?
Assenti com a cabeça e mentalmente planejei o que iria vestir.
Minha cama estava repleta de roupas, uma mistura de cores claras e escuras. Os sapatos estavam espalhados pelo tapete de veludo e eu sentia que todos estavam me encarando bravamente e me perguntando: "E aí, qual de nós vai ser?!".
Eu tinha perdido as contas de quantas vezes eu trocara de roupa naquele fim de tarde. Estava saturada de não conseguir encontrar alguma coisa que me fizesse sentir bem, então me sentei na poltrona próxima a cama e mandei uma mensagem para Victoria, perguntando-a qual tipo de roupa ela usaria.
Assim que ela disse que usaria tons neutros, decidi pegar uma camisa preta de alcinha, larga no corpo. Coloquei um short jeans claro cos alta um pouco mais largo e um tênis cano médio preto. Por cima, joguei um cardigã verde escuro, que não esquentava muito. Olhei no espelho e me senti um pouco menos nervosa, mas não o suficiente.
Ouvi um assobio vindo do lado de fora da casa, então olhei para a janela e vi que Connor estava sentado em seu parapeito, usando uma calça jeans preta, uma blusa polo cinza claro. Ele ainda estava de meias, que, por sinal, não eram nada discretas. O laranja destoava de toda a combinação de cores.
- Essa é sua meia da sorte? – perguntei, enquanto ele ainda me encarava pela janela.
- Uau. – ele disse lentamente. – Quer dizer, sim! Aliás, não sei. Foi a única meia limpa que encontrei na gaveta.
Dei um sorriso sem graça e me debrucei no parapeito de minha janela.
- Você já tem carona? – perguntou ele, descendo de sua janela, aparentemente pronto para sair de casa.
Olhei para Connor em tom de dúvida. Ele retribuiu seu olhar calmo e sincero para mim, que disse:
- Victoria. Ela deve estar quase chegando, inclusive.
- Então... – disse Connor, fechando a janela. – Nos vemos lá, ok?
Sorri novamente para ele e fiz o mesmo.
Olhei para o relógio e vi que faltavam apenas dez minutos até o horário combinado com Victoria. Corri até o banheiro e fiz uma maquiagem rápida, porém completa, com um delineado delicado e bochechas rosadas. Peguei minha bolsa e desci para a sala, esperando ansiosamente pela buzina do carro de Georgie.
- Há quanto tempo você não passa um reboco, hein?! – disse Scott, colocando um punhado de batatas chips em sua boca.
- Cala a boca. – eu disse, rindo nos cantos da boca. – Você pode dizer à mamãe que fui para a casa de uma amiga? Não quero que ela estrague minha noite me ligando sem parar e...
- Estou bem aqui, Hannah. – disse minha mãe, passando pela porta da cozinha, cruzando os braços e me encarando. Seu olhar de nojo me incomodava. – Não me importo aonde você vai. Você pode fazer o que quiser, desde que não volte para essa casa grávida. Ou machucada. De novo.
Respirei fundo para que não começássemos a brigar. Nossas épocas de discussão iam e voltavam constantemente. Mas desde que chegamos na nova cidade, começamos a nos estranhar cada vez mais e com mais frequência.
Georgie começou a buzinar diversas vezes e agradeci pela carona ter chegado bem no momento em que as coisas iriam esquentar. Peguei minha bolsa que estava em cima do sofá e fui correndo para dentro do carro.
Victoria estava usando um vestido marrom escuro e coturnos pretos. Seus cabelos estavam metade presos e metade soltos, realçando seu rosto e suas maçãs salientes. Judy usava uma calça leggin branca e blusa roxa escura, seus cabelos em coque disfarçavam seu under cut.
- Pontual? – disse Victoria, no banco da frente, olhando para trás. Dei um sorriso sem mostrar os dentes. – Certo. Gosto assim.
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No Nível Da Água
Romance"É sério, eu não sei como, mas sou uma pessoa que atrai muitos problemas. E naquela mudança, eu tentaria ser diferente. Sim, eu ia focar na natação e fazer novos amigos. As pessoas não ficavam muito tempo na minha vida. Mas tudo mudou quando eu bat...