(7) - O PULO

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            Depois de muito treinar muito em casa, faltava apenas um dia para a prova de natação. Meu nervosismo misturado com ansiedade estava me deixando inquieta. Competir por uma das vagas com doze pessoas era um desafio. Um desafio em que, apesar do pavor, eu estava confiante.
             Eu estava tentando parecer não tão nervosa e prestar atenção nas aulas, mas não conseguia acompanhar o raciocínio dos professores depois de muito tempo. Abri minha mochila, peguei meu caderno de desenho e um lápis preto. Comecei a fazer traços firmes e fracos para desenhar um rosto delicado.
             Peguei um lápis de escrever em meu estojo e desenhei os lábios carnudos e um nariz extremamente pequeno e arrebitado. Puxei um pescoço fino porém perfeitamente proporcional à cabeça e desenhei até a parte dos seios um vestido tomara que caia com alguns rasgos. Voltei-me novamente para o rosto e desenhei olhos completamente redondos e cílios que toda garota desejaria ter. O olhar me parecia triste e nervoso. Desenhei finas sobrancelhas e, por fim, desenhei, fio à fio, os cabelos azuis com toques negros e uma coroa de flores quase mortas em sua cabeça.
             Finalizando, desenhei um véu que caía por trás do desenho, identificando a garota como uma noiva. Uma noiva simples e sem arranjos chiques para um casamento que ela, provavelmente, não seria feliz.
             - Adorei a noiva. – disse Victoria, enquanto esticava o pescoço para ver meu desenho. – Você tem um dom e tanto, Hanhah! Deveria ganhar dinheiro com isso.
             - Obrigada, Vic. – respondi, sorrindo.
             - Hoje é o último treino do time antes do teste de amanhã. Você quer assistir?
             Pensei por alguns minutos na pergunta de Victoria e como eu me sentiria bem se ela estivesse comigo.
             - Han? – ela me chamou.
             - Ah, claro, Vic. – respondi. – Pelo menos você divide alguns olhares feios comigo.
             Rimos e ficamos conversando até o fim da aula. Como minhas notas estavam medianas e, em algumas matérias, boas, resolvi relaxar um pouco antes do grande dia. Falamos sobre a escola, as pessoas da escola, nossos irmãos, a escola de nossos irmãos, de tudo um pouco. Na medida em que ia conhecendo cada vez mais Victoria, senti que podia confiar realmente nela. Até que chegamos no nome de Connor.
             Começamos a cochichar para que as pessoas ao lado não percebessem que estávamos falando sobre ele. Victoria sabia de tudo um pouco sobre as pessoas da escola, mas, sobre Connor, ela sabia um pouco mais, graças à sua vaga de capitã.
             - Quando ele foi eleito capitão, a escola ficou muito feliz. – disse ela. – Ele era um dos melhores nadadores e ainda só estava no primeiro ano!
             Fiz uma expressão de surpresa, mas internamente, eu já imaginava algo assim.
             - Ele sempre foi bonito. – continuou ela. - Uma grande parte das meninas da escola, quando passavam por ele, ficavam olhando como idiotas. Mas não sei que raios ele viu na Margarett. Tanta gente legal...
             - Você se inclui nisso? – perguntei em um tom de brincadeira.
             - Ele não faz meu tipo. – respondeu ela com desdém, enquanto olhava para as unhas.
             O sinal que sinalizava o fim das aulas soou. Juntei meus materiais rapidamente e fui, junto com Victoria, correndo em direção ao pátio. Fomos uma das primeiras da fila a pegar o almoço e após engolirmos a comida, corremos para o ginásio.
             Diferente da última vez, o ginásio estava um pouco mais cheio, preenchendo todo o primeiro degrau completo da arquibancada. Margarett, como de costume, estava em um lugar privilegiado. Eu e Victoria começamos a subir e nos sentamos no último degrau, no mais alto da arquibancada, para ver o treino.
             Nada mudara desde a última vez, exceto os exercícios e o ritmo um pouco mais puxado que Connor limitou os nadadores. Quando Connor pulava na piscina para corrigir um dos integrantes do time, Margarett o esperava sair para lhe dar uns beijos.
             - Isso é um porre. – disse Victoria.
             - O treino? – eu respondi, concentrada nos mergulhos e braçadas.
             - Não, esses gritos... Ela!
             Percebi que Victoria sentia mais raiva do que antes, quando falamos de Margarett.
             - Com certeza há alguma coisa que prende Connor à Margarett. – continuou ela. - Judy e eu sempre discutimos essa teoria, apesar de grande parte das minhas ideias ela considerar paranoias loucas e sem pé e nem cabeça. Mas não é possível...
             O apito final do treinador indicava o fim do último treino antes do teste. Minhas mãos suaram e todas as pessoas aplaudiram os nadadores. Fiquei intacta, juntamente com Victoria, que não fez nada também. Ficamos sentadas até a grande maioria das pessoas saírem da quadra e ficamos esperando lá em cima.
              Margarett, esperou por Connor e os dois saíram juntos. Victoria revirou os olhos e começamos a descer os enormes degraus. Os nadadores estavam reunidos com uma grande lista nas mãos e sussurravam entre si. Assim que chegamos perto dos nadadores, pude ouvir alguns sussurros.
              "Quem será Hannah Collins?"

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