(2) - OS ESPORTES

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            Depois de algumas horas após terminar os mínimos detalhes da mudança, tudo estava finalizado. A sala estava limpa e organizada com todos os livros, a cozinha estava com todas as panelas guardadas nos armários, a sala de jantar estava brilhando de limpa e os quartos estavam todos arrumados. Exceto o meu. Ainda haviam algumas bagunças.
          Fui até o jardim de trás da casa e me sentei na grama com os meus pensamentos. Como seria a escola no dia seguinte? As pessoas seriam diferentes ou conseguiriam ser iguais à todas as outras? A ansiedade estava me matando a cada pensamento. Deitei na grama e olhei para o céu de fim de tarde, que estava alaranjado e com poucas nuvens, na esperança de algum disco voador me tele transportar para algum lugar onde eu me sentisse em casa.
          - Hannah, entre! – gritou minha mãe. – O jantar está pronto!
         Minha mãe sempre me chamava aos gritos. E por causa disso, passei a odiar tons de vozes altos. Me levantei e entrei pela porta da cozinha, indo em direção à sala de jantar.
         - Você pode, por favor, parar de me gritar o dia inteiro? – eu disse para minha mãe. – Manda uma mensagem no celular!
         - Detesto ter que ensinar boas maneiras pra você durante a vida toda! – disse minha mãe, brava. – Desce da mesa, Hannah!
         Era inevitável: eu gostava de provocar Lauren Collins o tempo inteiro.
         - Onde está Scott? – perguntei a meu pai.
         - Ele disse que foi dar uma volta pra conhecer a cidade. – respondeu ele, colocando uma concha de sopa bem cheia em seu prato. – Cada um lida com essa mudança de formas diferentes.
         Eu e Scott nos dávamos muito bem. Nosso relacionamento fraternal era bem diferente de todos que já conheci. Sempre fomos muito amigos e muito companheiros, apesar da diferença de um ano.
         Meu pai me ajudava com os treinos de natação quando podia. Como era o único esporte que manifestei interesse quando pequena, meu pai decidiu investir nisso. E isso nos rendeu algumas medalhas, algumas brigas, mas sempre boas lembranças.
         Scott sempre fora ajudado por minha mãe no basquete. Como atacante, ele precisava de um treino a mais, o que cabia à responsabilidade de minha mãe.
         - Pai... - eu disse. – Por que vocês escolheram uma casa com cestas de basquete e não com uma piscina? Tem um quintal enorme lá atrás!
         Minha mãe olhou para meu pai e para mim com uma feição de dúvida, mas voltou a mexer com as vasilhas.
         - Querida, - disse minha mãe, um pouco cínica. – não sei se é uma boa ideia... Piscina é muito trabalhoso para limpar e uma cesta de basquete é... Simples...
         - Lauren! – repreendeu meu pai. – É o esporte deles! Não vou tirar o espírito esportivo dos meus filhos. Já basta termos nos mudado outra vez e tirado os dois do time deles.
         - Charles, - disse minha mãe. – o problema é que sempre limpava as piscinas era eu. Quem conserta a cesta de basquete é você. Quando eles machucam, nós sempre os levamos aos médicos e...
         - Eu limpo a piscina! – eu a interrompi antes de ouvir mais desculpas. - E o Scott conserta a cesta quando quebrada. A gente se vira com o resto! Eu só quero nadar...
         Após minha fala, meus pais permaneceram em silêncio. Meu pai deu um chute leve em minhas pernas embaixo da mesa e eu revidei. Às vezes éramos como crianças. Demos um sorriso escondido um para o outro, até que fomos interrompidos pelo barulho da porta da frente. Scott havia chegado de seu passeio.

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