(8) - O TESTE

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                No dia do teste de natação, acordei mais cedo. Eu estava tão nervosa e tão ansiosa que mal consegui dormir durante a noite. E, por incrível que parecia, eu não estava cansada. O sol ainda estava nascendo quando me levantei da cama e abri as cortinas. Fui em direção ao closet para escolher a roupa do famigerado dia. Peguei uma leggin preta, uma blusa branca com alguma frase aleatória e meus tênis azul escuro.
               Sentei na poltrona próxima à janela que dava para a piscina e comecei a mexer no celular para tentar me distrair, com a esperança de que o tempo passasse mais rápido. O sol terminara de nascer quando ouvi algumas batidas na porta de meu quarto.
              - Hannah, o café está na mesa! – gritou minha mãe do outro lado.
              Não a respondi. Simplesmente peguei minha mochila, que continha meu maiô e os outros equipamentos de natação caso fossem necessários, e desci para a cozinha.
              Todos da casa estavam comendo os pãezinhos e tomando o suco de laranja que minha mãe fizera. Senti o cheiro da comida e senti meu estômago enjoar. Meu psicológico era totalmente conectado com meu sistema digestório.
              - Você precisa comer alguma coisa! – disse Scott, com a boca cheia. – Hoje é um dia muito importante pra você dar um treco por falta de se alimentar, Hannah.
              Dei um bufo leve e peguei um copo de suco.
              - Vai dar tudo certo, Hannah. – disse meu pai. – Você só precisa manter a calma...
              - Caso contrário, você só vai desastrar sua apresentação. – disse minha mãe.
              Revirei os olhos assim que minha mãe terminou de dizer. Finalizei o copo e peguei minha mochila, caminhando em direção ao carro na garagem.
              Após esperar alguns minutos por meu pai, entrei no carro e me sentei no banco da frente. Apesar de estar nervosa, eu estava animada e bastante confiante. Comecei a cantarolar algumas músicas aleatórias que vinham em minha cabeça, até que meu pai entrou e percebeu aquilo. Ele colocou um dos seus pen-drives no rádio e as músicas começaram a tocar.
             - Espero que isso ajude um pouco. – ele disse, sorrindo.
             Não era preciso responder. Apenas dei um sorriso sem mostrar os dentes e ele dirigiu o mais rápido possível em direção ao colégio.
             As aulas não demoraram tanto a passar como eu imaginava. Passei grande parte do tempo lendo um livro que estava em minha mochila e conversando com Victoria. No último tempo, o tempo antes do teste de natação, o professor nos deixou uma atividade e saiu da classe. Virei para trás e vi que Victoria tinha guardado seus materiais.
             - Também acho que tem alguma coisa errada. – eu disse a Victoria. – Dá pra sentir a angústia de longe.
             Victoria me olhou confusa por alguns milésimos de segundo, mas entendeu rapidamente sobre o que eu estava falando.
             - Como você chegou a essa conclusão? – ela perguntou, curiosa, enquanto mexia em seu cabelo.
             Pensei por um tempo se eu deveria contá-la que nos encontramos em meu quarto há alguns dias atrás. Como não tinha nada a perder, disse:
             - Nós conversamos um dia. E acho que pelo fato de sermos vizinhos, isso ajuda a nos conhecermos mais.
             - Espera... Vocês são vizinhos?
             Dei um sorriso sem graça e senti meu rosto queimar de vergonha.
             Expliquei tudo o que estava acontecendo à Victoria para deixa-la à par da situação. Assim que terminei, Victoria olhou para mim e disse:
             - Uau... Será que teremos aqui uma pessoa que pode possivelmente tirar o pódio de Margarett?
             Dei um sorriso sem graça e continuei a olhar para ela.
             - Mas cuidado, Hannah. - ela retomou. - Margarett não é uma pessoa com quem de seve brincar... E no mais, ela é a primeira pessoa que Connor correspondeu... Mas que se foda. Estou no seu time e torcendo por você.
            O sinal tocou. Arregalei os olhos para Victoria, que esfregou as mãos umas nas outras. Senti meu estômago revirar como de manhã e minhas mãos gelaram rapidamente. Respirei fundo e esperei que todas as pessoas saíssem da sala, até ficarmos somente eu e Victoria.
            Victoria pegou em minha mão e a apertou forte. Dei um sorriso fraco, mas ainda sim segurei suas mãos.
            - Bom, agora que todos já saíram pra ver o teste, podemos sair sem sermos amassadas como purês de batata.
            Eu e Victoria saímos da sala e nos encontramos com Judy e Gerogie no corredor. Os três me deram um abraço grupal forte e um pouco demorado. Eu senti que aquele momento me traria forças.
            Todos nós fomos caminhando rápido em direção ao ginásio. Os corredores que davam até ele estavam cheios. As pessoas estavam curiosas para saber quais seriam os próximos nadadores do time. E também queriam saber quais seriam as gafes cometidas ali. Um filme passara em minha cabeça até aquele momento.
            Assim que chegamos até lá, me despedi de todos e fui em direção ao vestiário, que também estava cheio. Victoria tinha me seguido até lá, pois como ela era uma atleta, tinha passe livre para transitar entre os esportistas. Ela colocou as mãos em meus ombros e os apertou levemente.
            - Você está bem tensa. – disse ela. – Não se preocupe. Não vi você nadar, mas tenho certeza que essa vaga é sua.
            Quando o treinador Raymond entrou no vestiário, Victoria saiu de fininho pelo lado. Pelo jeito, ele só queria os participantes por ali. Connor estava ao seu lado, segurando uma prancheta, e Margarett, ao lado de Connor. O treinador a encarou com uma feição séria e ela seguiu para a fila que estava se formando com os competidores.
            - Boa tarde, competidores. – disse o treinador. – Sou o treinador Raymond e como vocês já devem conhecer, este é Connor Forrest.
            As pessoas ao redor deram boa tarde ao treinador e Connor seguiu falando:
            - Hoje é um grande dia. Precisamos avaliar todos vocês para vermos quais serão os sortudos a entrarem nesse time excelente. No estado, temos a fama de ganharmos grande parte dos campeonatos estaduais e procuramos manter essa posição e esse nome por anos.
            - Espero que todos vocês façam boa prova. E quero que saibam que todos são iguais aqui. – disse o treinador, olhando para Margarett. – E todos tem a chance de entrar igualmente no time.
            Margarett revirou os olhos, mas ainda sim continuou atenta às explicações dadas por Connor e pelo treinador. Os dois foram passando de pessoa em pessoa, perguntando os nomes, sobre a roupa de natação e dados extras para colocarem nas fichas. Eu era a última da fila e pude sentir o nervosismo na medida em que eles se aproximavam de mim. Quando se aproximaram, o treinador disse:
            - Nome?
            - Hannah... – eu disse.
            - Hannah Collins. – disse Connor, dando uma piscadinha para mim.
            Dei um sorriso curto e discreto. Connor fez o mesmo.
            - Você é iniciante ou já nada há mais tempo? – perguntou o treinador Raymond.
            - Nado há mais tempo. – respondi, tentando manter a calma. – Já participei de algumas competições.
            Enquanto o treinador anotava em sua prancheta meus dados, pude ver como Connor me encarava e encarava minha roupa de nado.
            - Fast skin. – sussurrou Connor em meu ouvido. – Esse material é caríssimo! E é muito difícil de ser encontrado... E... uau, isso te deixa... te deixa com uma vantagem a mais pra passar no teste, Han.
            O treinador Raymond olhou para Connor, que logo voltou a sua posição normal e séria. Olhei para baixo sem graça, mas dei um sorriso leve de satisfação.
            - Espero que possamos continuar, Forrest. – disse o treinador Raymond.
            - A roupa está em... – disse Connor. – excelentes condições, treinador. Excelentes até demais...
            Assim que o treinador completou a ficha, ele e Connor se afastaram de mim e foram para o início da fila, próximo à porta de saída. Pude ver que Margarett me encarava friamente e fiquei um pouco assustada com seu olhar. Talvez ela estava daquela forma depois de Connor conversar comigo durante a avaliação.
           O treinador Raymond apontou para duas pessoas da fila e as dispensou, alegando que o traje não era adequado à situação. Ambas saíram bastante chateadas e silenciosas do vestuário. Era possível ouvir os gritos de reprovação vindos da arquibancada cheia.
           - Temos cinco vagas. – disse Raymond. – Tivemos um pequeno problema com a contagem de integrantes do time. Mas não se sintam intimidados. Os melhores estarão conosco.
           Connor deu uma leve piscada para mim, que correspondi da mesma forma. Margarett começou a me encarar novamente.
           Cinco vagas para dez inscritos. Seria um grande desafio. E eu precisava bastante manter a concentração e focar apenas no meu maior objetivo: ser uma das nadadoras do Michigan City High School.

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