(17) - CÂIMBRAS AQUÁTICAS

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            No o colégio no dia seguinte, o time de natação teria um treino pesado após as aulas. Ao lembrar daquilo, meu foco na aula era totalmente desviado para a parte da minha cabeça em que eu me concentrava no esporte. As aulas se tornaram totalmente inviáveis, apesar da minha racionalidade saber da sua importância. Portanto, peguei meu caderno de desenhos e comecei a fazer alguns traços indefinidos em uma folha em branco.
            Victoria não estava naquela aula, então eu estava sozinha e absorta em meus pensamentos. Usei aquele tempo da aula de história das américas para tentar entender o que tinha acontecido com nós três no meu quarto na noite anterior. Quando me diziam que o silêncio era como uma adaga que cortava aos poucos, eu nunca pensei que fosse verdade, até ver Connor calado, sem dizer uma palavra sequer sobre o que Victoria tinha dito. Não que eu tivesse dito alguma coisa; as palavras ficaram engasgadas em minha garganta e a única coisa que eu conseguia fazer era respirar o mais profundamente possível e não sair correndo.
             O silêncio perdurara até aquele fim de manhã, quando o horário de almoço se aproximava e as respostas pareciam ainda mais distantes de mim. Após a saída de Victoria da minha casa, ninguém disse mais nada. Connor voltou para seu quarto e disse que nos veríamos no treino. O desconforto causado por Victoria não era intencional, eu reconhecia, muito pelo contrário. Talvez era uma das formas que ela encontrava de me ajudar a solucionar o problema. Mas era ali que as coisas se enganavam: eu não queria uma solução. Ou pelo menos parte de mim acreditava nisso. A outra parte só queria que as coisas parassem de ser tão confusas, então por certo lado foi bom aquilo ter acontecido. E naquele dia de treino, as coisas seriam, de certa forma, esclarecidas.
               O sinal tocou e eu juntei minhas coisas na mochila sem pressa. Esperei todos da sala saírem e saí devagar, parando em frente a meu armário para guardar alguns livros. Os corredores estavam cheios e as pessoas iam em direção ao pátio para fazerem seus almoços. Victoria veio até meu encontro junto de Judy, algo que era inédito depois de algum tempo. Judy estava sorrindo e assim como Victoria, as duas pareciam mais inseparáveis do que nunca. Resolvi, então, não perguntar o que se tinha resolvido ali. A satisfação aparente das duas era o suficiente para que eu ficasse feliz por Victoria.
              - Não vamos poder ir ao seu treino hoje, Han. – disse Victoria, enquanto caminhávamos em direção ao refeitório. – Me desculpa. O time de vôlei precisa de treino pesado também, antes que os atletas pensem que aquilo virou uma bagunça.
              - Ei! – disse Judy. – Eu não acho que tenha virado uma bagunça!
              Victoria riu e após esse comentário, nos sentamos em uma mesa de pedra, na parte aberta do pátio. Dei uma mordida no sanduíche natural e um gole no suco de maçã, que estavam deliciosamente incríveis. O lanche de MCHS era simplesmente maravilhoso. Judy recebeu uma chamada no telefone e saiu para longe de nós para atendê-la. Victoria olhou para os lados e se certificou de que não havia ninguém perto de nós. Ela disse:
              - Qual o resultado de ontem? O empurrãozinho ajudou ou vai ser necessário um pontapé?
              Dei uma risada sem graça e um gole no suco de maçã.
              - Sem resultados. – eu disse. – Cada um no seu canto. Preciso esquecer essa história e seguir com minha vida e com a natação. É só um conto de fadas que não deu certo.
              - Hannah, não teve nem tempo de vocês dois processarem o que eu disse! – respondeu Victoria, impaciente. – O campeonato é na semana que vem e vocês dois seguem nervosos pra ele. Não deu tempo de pensar e...
              - É... Talvez não tenha dado tempo de pensar. E nem vai dar. A natação ocupa muito a nossa cabeça.
              Victoria olhou desapontada para mim e continuou comendo seu almoço. Ela balançou a cabeça negativamente, mas aceitou que era melhor não interferir daquela vez. Judy havia desligado e ligação e se sentou novamente com a gente.
              - Vocês acreditam que Kyle Jenkins pediu pra sair comigo? – disse Judy, empolgada e comendo suas uvas.
              Victoria deu um sorriso dolorido mas ainda sim animador e começou a ouvir o que a amiga tinha a dizer sobre um dos estudantes da Marquette.

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