Episódio 18

17.1K 1.3K 32
                                    

*Enzo

Hoje meu dia começaria cedo, irei checar uma paciente que tinha se tornado especial. Seu nome era Kelly Colorado, 78 anos e operou um tumor cerebral complexo.

Ela era casada há 43 anos com o senhor Nelson e tinham quatro filhos. O que fez eu ter apego na paciente foi a maneira como ela conheceu o marido,em um navio e como ela falava do amor. Ela me disse que o amor entre os dois cresceu a cada dia e que ela tinha até medo de um dia não caber tanto amor dentro do coração e ele explodir.

A cirurgia foi complicada, eu acompanhei o doutor Márcio nela, o tumor estava grande já e operar era nossa melhor chance. Queria chegar logo e ver se Kelly já tinha acordado e se teve sequelas.

Mas quando cheguei no quarto fiquei sem chão, ela tinha morrido. Doutor Márcio estava anunciando o óbito.

-Horário do óbito 9:55. Irei avisar a família, vem comigo Enzo?

-Vou sim.

Essa era sempre a pior parte, avisar para a família que aquela pessoa que eles amavam não acordaria mais. Quando chegamos estavam todos lá, vieram em nossa direção assim que nos viram.

Doutor Márcio que deu a notícia, e todos começaram a chorar, deixamos eles a sós e voltamos pro trabalho.

Eu tinha me apegado demais nesse caso e a morte dessa paciente em especial mexeu muito comigo, me fez ver que realmente não somos nada. Ser médico vai muito além do salvar vidas, carregamos uma responsabilidade imensa nas costas. O dinheiro é consequência de toda a dedicação que temos com nossos pacientes e famílias, o pagamento é ver a alegria nos olhos das pessoas que tratamos.

Quando qualquer paciente morre é um choque para mim, porque querendo ou não acabamos nos envolvendo na vida deles.

Algo que a senhora Kelly me ensinou foi que se cultivamos o amor, ele apenas cresce. Cada paciente marca de uma maneira e foi assim que a Kelly me marcou.

Agora estou me lembrando dos casos de sucesso que ocorreram, é algo que sempre faço para conseguir lidar com a morte dos pacientes, é o que me motiva a continuar firme e forte, uma força que adquiri através de todo esse tempo até chegar aqui na residencia de neuro e que pretendo ampliar com o passar dos anos.

Sei como é estar do outro lado esperando as melhores noticias, e acabar recebendo as piores. Quando meu pai morreu eu consegui perceber apenas pelo olhar do médico e eu jamais me esqueci de suas palavras "Ele infelizmente faleceu, sinto muito por sua perda". Outra coisa da qual nunca me esqueci também foi de seu rosto, ele me marcou e quando penso nisso vejo que também estou marcado na cabeça de familiares de pacientes.

Eu amo a profissão que escolhi e por isso consigo seguir em frente.

Meu momento de reflexão vai ter que acabar agora, pois acabei de ser bipado na emergência, acidente de carro dois feridos, um paciente é uma grávida de 32 semanas com uma lesão na cabeça.

Cheguei no leito e a grávida estava desacordada. Havia uma obstetra na sala e ela foi logo dizendo.

-Preciso tirar esse bebê agora, ele tá em sofrimento.

-Mas a mãe não está em condições para uma cesariana, os batimentos estão fracos e ela precisa ser urgentemente levada para o centro cirúrgico por conta do trauma na cabeça!

-Se eu não tirar esse bebê agora ele morre, você não quer perder os dois, quer?

-Não.

-Perfeito, me traz agora os itens para uma cesariana, não temos tempo para irmos até o centro cirúrgico!

A doutora começou a cesária e de repente ouvimos um chorinho, o bebê, era um menino, ele foi levado para o centro pediátrico e corremos contra o tempo para conseguir operar o trauma na cabeça. Antes de começar a cirurgia fui até a paciente e disse em seu ouvido.

-Você não pode morrer, você precisa conhecer seu filho.

Fiz uma oração e inicie a cirurgia junto do doutor Marcio. A paciente se estabilizou durante o procedimento e conseguimos conter o sangramento, foi um sucesso a cirurgia.

Fui acompanhar o pós operatório da paciente e doutor Marcio foi dar notícias para a família. A paciente está se recuperando bem, deixei ela nas mãos do médico intensivista e fui visitar o bebê.

Cheguei no berçário e lá estava o menino, no colo do pai que estava com a perna quebrada.

Hoje eu vi uma vida chegando ao final e outra apenas começando a sua. É por isso que amo a medicina!

*O que vocês acharam desse capitulo focado no ponto de vista de Enzo sobre sua profissão?

**Oiie espero que estejam gostando da história, comente sua opinião e deixe uma estrelinha eu ficarei muito feliz.

***Obrigada a todos que estão lendo, comentando, dando estrelas isso me deixa muito feliz.

Segredos MédicosOnde histórias criam vida. Descubra agora