Prólogo

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Eu sou Ace Falls, tenho 17 anos e a um ano atrás, fui selecionada para ser a protagonista de uma comemoração anual do lugar onde moro, que é basicamente um sorteio em que participam garotas de 16 anos, uma delas é sorteada para passar um ano no palácio da cidade, e depois a menina é morta na frente de toda a cidade, e sua alma é entregue aos deuses, em troca de saúde, sorte na colheita e coisas desse tipo.

Agora são 4:50 da tarde, faltam 10 minutos para a colheita começar. Sinto meu corpo tenso, tenho 10 minutos de vida, agora estou em cima de um palco, atrás de uma cortina, vejo guardas circulando a praça onde, em dez minutos toda a cidade vai estar. As pessoas já começam a chegar, como sempre, vejo as garotas colocando seus nomes em uma grande caixa de madeira e se colocando numa linha reta, em frente ao palco.

Um dos guardas aparece do meu lado (ele simplesmente brota lá, surge do chão, me assustando, claro) e começa a falar sobre como vai ser e o que eu terei que fazer em cima do palco, não escuto nada fico apenas pensando como ele é bonito: tem cabelos castanhos, olhos da mesma cor, uma pele clara e aparenta ser forte, acho que o nome dele é Drake.

Eu continuo a encara-lo, observando sua beleza, quando Drake chama minha atenção me perguntando se entendi. -Quê?- pergunto, ele revira os olhos e ri de leve, - Você vai entrar no palco, ouvir o que as pessoas que estiverem lá tem a dizer depois vai sortear um papel da caixa, e entregá-lo para o homem que estará na sua frente, e eu vou matá-la logo depois. Entendeu agora?- concordo com a cabeça, ele me encara por um tempo, e vai embora.

Ao julgar pelo sol, ainda não são 5 horas, penso faltar uns 5 minutos ainda, volto a olhar
pelo pequeno espaço entre as duas cortinas do palco, já consigo ver boa parte da população da cidade se juntando para ver ansiosamente minha morte e a seleção da outra nova garota, vejo minha família num canto do palco ao lado, minhas amigas e conhecidos, encaro as meninas novas, todas com sorrisos nos rostos, esperando ansiosamente essa seleção começar.

Começo a pensar no que acontecerá quando minha hora chegar, o que irá ocorrer quando aquela pequena faca percorrer meu pescoço, será que vou conseguir chegar até meus deuses? Meu sangue irá adiantar de alguma coisa para nossa colheita, ou para a saúde da população?
Meus pensamentos são interrompidos por Drake, que estava me chamando para entrar no palco, respiro fundo, as cortinas são abertas, dou um passo a frente, a população me encara, eu vos encaro também, um homem barbudo começa a falar, como sempre, não presto atenção, apenas percorro meus olhos pela minha família, e chego até minha irmã, ela é bonita, seus cabelos são loiros, tem os olhos acinzentados, assim como eu, mas seu rosto é mais triste que o meu.

O homem barbudo para de falar. Agora ele olha para mim, encaro Drake, que faz um sinal em direção à grande caixa, concordo com a cabeça, chego até o recipiente com os nomes das garotas, e pego o primeiro papel que sinto em minhas mãos e o entrego para o barbudo, que sorri para mim, retribuo o sorriso, ele se afasta de mim, e começa a fazer as orações aos deuses enquanto Drake chega por trás de mim e posiciona uma faca em meu pescoço, pela última vez, meus olhos percorrem as próximas candidatas e param numa menina. Ela tem os cabelos lisos, longos e ruivos, seus olhos são azuis, um pouco esverdeados, e sua pele é branca, ela é bonita, admito, olho para trás, Drake a encara, e ela encara ele, não sei por que, mas aquela menina me chamou a atenção, será que é o seu nome aquele escrito no pequeno papel que entreguei ao barbudo? Será que ela será nossa próxima oferenda? E por que estou pensando numa garota que não conheço, e nunca vou conhecer, se esses são meus últimos minutos de vida? Não deveria estar pensando em minha família, ou nas oferendas que nossos deuses vão retribuir-nos pelo meu sangue, ou até mesmo, estar fazendo minhas preces? Não sei, nunca saberei, e nunca terei essas respostas, pois agora, a faca posicionada em baixo do meu rosto corta minha pele, não sinto dor, não sinto nada além da sensação de estar me afogando em meu próprio sangue, caio no chão, não consigo escutar mais nada, minha visão vai escurecendo e sinto meu corpo parar de funcionar, meu coração não pulsa mais meu sangue, meu pulmão não tem mais ar, minha última lembrança era a
menina ruiva e Drake.

Está tudo escuro não sinto mais nada. Eu estou morta.

A Quase SacrificadaOnde histórias criam vida. Descubra agora