Cap. 14

42 7 0
                                    

- Katherine, não vai dar oi ao seu irmãozinho gêmeo? - Olho o garoto, estranhamente parecido comigo, de cima para baixo, com uma cara de espanto estampada em meu rosto, depois de muito tempo encarando o moço que se diz ser meu irmão, consigo falar alguma coisa - annhh... Oi? - digo, ainda confusa, ele, dá um passo para frente e eu olho para Drake, com esperanças que ele saiba de algo, mas assim como eu, não tem ideia de quem é aquele homem, - você é meu irmão?... - às vezes acho que tenho algum tipo de retardo mental, sabe? Sei lá, talvez por causa das perguntas que eu faço.

-Kat... - o moço começa, quem ele pensa que é para me chamar de "Kat" ? Que intimidade é essa o filho da puta? - Kat, meu nome é Matt, nossa mãe já deve ter falado de mim para você...- ele diz, e eu respondo, logo depois -hum... Não. - acho que Matt ficou um pouco decepcionado com a minha resposta, mas eu não ligo. Se ele fosse realmente meu irmão, eu teria alguma lembrança dele, não teria? Decido perguntar isso ao meu suposto irmão - onde você esteve todo esse tempo, então ? - ele suspira, me encara por um tempo, e depois começa a contar sua história: - - Quando nós nascemos, a casa que estávamos começou a pegar fogo, por que algum filho da puta acidentalmente deixou cair a vela que iluminava o quarto de madeira, um segundo depois, tudo estava pegando fogo, queimando as pessoas vivas, você e nossa mãe foram levadas para fora do quarto pelo nosso pai, já eu que estava no colo de uma amiga da mãe, fui salvo por nossa tia, que me criou. Quando nossa mãe morreu, a mulher que fingia ser minha mãe, me contou toda essa história, dai eu vim aqui falar com você. - eu realmente não sei se acredito na história. Algo me diz que ela é verdade, mas... Tudo isso parece muito estranho... -Matt...- começo, mas antes de conseguir falar mais alguma coisa, uns três guardas chegam, pedindo para que Matt se retire da mansão, pois o horário de visitas ( que eu nem sabia que existia) já tinha acabado. Que merda.

Enquanto tiravam "educadamente" Matt da mansão, eu e Drake, ainda incrédulos, por causa do episódio que acabou de acontecer, voltamos para nosso quarto em silêncio, tentando digerir aquelas informações que Matt nos dissera, se perguntando para si mesmos se aquilo era verdade.

Horas depois, eu já estava na cama tentando dormir, mas não conseguia parar de pensar naquele homem. Matt. Busco no fundo da minha mente qualquer informação sobre ele. Nada. Nunca soube da sua existência. Nunca soube da existência do meu próprio irmão. Isso é horrível. Eu me sinto horrível.

Fecho meus olhos novamente, e por incrível que pareça, pego no sono rapidamente.

Eu estava num quarto de uma mulher, sabia disso por causa da decoração que me cercava e por causa dos quadros que completavam as frias paredes de madeira, ao lado da cama havia uma cabeceira, também de madeira, em cima dessa, uma vela. Olhar para aquela vela me dava os mesmos calafrios do que olhar para uma espada. Alguma coisa ruim iria acontecer. Eu sabia. Me assusto quando uma mulher, acompanhada de outras duas, entra no quarto aos berros. Ela está prestes a dar à luz. São gêmeos, uma menina é um menino. A mãe dos bebês já está melhor, ela olha os filhos com um lindo brilho nos olhos. Ela beija a testa do menino. E o entrega para um homem que acabou de chegar, que suponho ser o pai das crianças, marido da mulher. Ela beija a testa da recém-nascida filha. Eu sinto o beijo na minha testa. Isso me faz pensar. Esse quarto... Essas pessoas... Esses bebês... Isso foi quando eu nasci. Essa pequena menina sou eu. Esse pequeno menino é Matt. Ele está no colo de uma outra mulher. Eu sei o que vai acontecer. Mas eu não posso evitar. Não consigo. Alguém, não consigo ver quem, esbarra na vela. Gritos. O fogo começa a queimar a roupa da mulher que segurava o outro bebê. Gritos. O pai das crianças recém-nascidas corre para fora da casa, levando junto sua mulher e a menininha, que suponho ser eu. Eles fogem. Deixam o outro filho para trás. Por sorte uma jovem mulher, talvez minha tia, salva a vida do pequeno bebê. Correndo para longe também. Cada um para um lado. Cada um para uma direção no mundo. Volto a olhar para o quarto, agora em chamas. Vejo varias mulheres sendo queimadas vivas. Gritos. Mais gritos. A dor consome seus corpos, elas não conseguem mais correr. Seus olhares clamam por misericórdia. Por uma morte menos agonizante. Sinto uma dor gigante nas costas. Isso me faz despertar.

Abro os olhos, olho para os lados, estou deitada no chão. Sim, eu cai da cama.

Levanto com dificuldade por causa da dor em minhas costas. Olho para a cama, Drake ainda dormia. "Como ele não acordou comigo caindo da cama?" Me pergunto, enquanto volto a deitar na cama, pois ainda é cedo.

Deitada na cama, penso um pouco. Se esse "pesadelo" que eu tive realmente não me deixou tão desesperada quanto o pesadelo do barco, se Drake ainda está dormindo quer dizer que eu não gritei, nem me debati na cama. Apenas caí.

Isso me faz pensar que talvez eu não tive um pesadelo, e sim um trauma de infância já superado, ou uma memória do dia em que eu nasci.

A Quase SacrificadaOnde histórias criam vida. Descubra agora