Cap. 29

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Já havia se passado alguns dias que eu estava sozinha, eu me sentia totalmente perturbada. Eu estava com minha faca, e a sua lâmina refletia meu rosto. Eu estava pálida, fraca, doente. Meu cabelo estava horrível, minha roupa inteira suja, e meu corpo, cheio de machucados. Não estava nem um pouco bem. Minha comida havia acabado ontem. E eu sabia que logo morreria, e não tinha nada que poderia evitar isso. Eu me pergunto pelo que morreria primeiro, fome? Frio? Sede? Loucura? Ou de alguma doença?
No momento sinto que posso estar morrendo lentamente por cada um dessas opções. E é isso que está acontecendo, a cada minuto que passa, mas complicado fica lutar contra cada uma dessas coisas.

Deito na canoa, sua madeira já está bem danificada por causa das fortes chuvas. Minha mente começa a viajar e eu penso em diversas coisas. Fecho meus olhos por um momento, fazia horas que eu não dormia. A fome e a sede não me davam o luxo de dormir, por mais que todas as doenças que eu estava me faziam querer apagar. Mas eu também temo que se fechar meus olhos para dormir eu nunca mais acordarei.

Consegui livrar minha mente de todos esses pensamentos ruins, e um momento sem preocupações foi o necessário para que eu pegasse no sono.

Uma noite de sono. Consegui dormir uma noite. Nos dias que vim passando esses últimos tempos, uma noite de sono tranquila, sem pesadelos, já era como uma vitória. 

Eu abro meus olhos e vejo uma árvore cheia de maçãs. Estico meus braços, afim de pegar uma delas. Mas quando toco na mais próxima, a árvore some. Ótimo. Outra miragem. Elas vinham acontecendo muito durante esses dias em que a comida era escassa, e desde um tempo atrás, ela é nula.

Pego minha faca e começo a fazer desenhos na madeira da canoa. Era com isso que eu ocupava meus dias. Onde será que eu estava? Digo, em que lugar estava? Indo para que país? Não, eu não tinha nem tocado nos remos da canoa. Ela ia na direção em que o barco a mandava. Seria muito bom se eu chegasse em algum lugar, talvez tivesse chance de sobreviver se isso acontecesse.

Por alguns minutos, Drake invadiu minha mente, fazia tempo que eu não pensava nele. Eu estava com saudades. Se eu tivesse um desejo agora, seria que ele estivesse ao meu lado, dizendo que tudo vai dar certo, que vamos sair dessa bem e vivos. Mas ele não está aqui. Mas eu não vou sair bem dessa, nem viva. Mas do que adianta? Já perdi todo mundo. Já não tenho ninguém mais.

Sabe quando as pessoas que estão sofrendo muito falam que o único motivo pela qual elas estão vivas, é por que elas não desistiram? Então. Eu já desisti faz muito tempo, mas continuo viva. Por que? Não sei. Talvez a vida queira me castigar, gargalhar de mim, ou talvez me testar, ver qual é o meu limite, ver até onde aguento.

Sinto saudade do tempo em que minha vida era fácil. Por que eu tive que ser sorteada para isso? Me pergunto aonde estaria agora se Ace tivesse tirado outro nome ao invés do meu. Minha mãe estaria viva, mas eu nunca teria conhecido Drake ou Matt. Minha vida ainda seria na Grécia. Mas o que adianta pensar nisso? E por que estou pensando nisso? É isso que é estar quase morrendo? É ficar pensando nas pessoas que você se importa? É ficar pensando no que estaria acontecendo se você não tivesse feito uma escolha, que agora te causará a morte? Estar quase morrendo é ver a sua vida passar pelos seus olhos, pensar em todas as suas escolhas, é pensar em todas as pessoas? Pois é isso que está acontecendo comigo agora. Toda a minha vida passa pelos meus olhos, todos os meus erros, minhas escolhas, minhas lembranças, minha família, meus amigos... Enfim, minha vida.

Lentamente, fecho meus olhos e apago.

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O fim está mais próximo do que você imagina.

A Quase SacrificadaOnde histórias criam vida. Descubra agora