Capítulo 1 parte 1/4

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Christopher Uckermann consultou o relógio e olhou ao redor do salão de baile do Plaza Hotel.

Tudo transcorria bem. De acordo com as informações que tinham acabado de ser transmitido a ele pelo fone de ouvido, o avião do embaixador havia pousado em segurança no La Guardia e o homem chegaria para a festa a tempo.

Uckermann correu os olhos pela multidão resplandecente. Era a típica cena ostentosa que sempre exibia em jantares como aquele, a 5 mil dólares o prato. Mulheres adornadas com joias e vestidos longos de gala, homens de smoking; o patrimônio líquido coletivo do salão chegava à estratosfera. No meio da multidão agitada, negócios eram feitos, novos pares românticos se formavam e o desdém social era trocado por meio de sorrisos. O ambiente estava repleto de beijos lançados ao vento e inúmeros apertos de mão.

Debaixo dos lustres daquele elegante salão de baile, todos eles pareciam ter o controle do mundo. Uckermann sabia bem disso. Havia sido contratado por alguns deles e aprendera seus segredos sujos e seus vícios ocultos. Tinha até mesmo testemunhado como alguns receberam o despertar para a vida real.

Ser o alvo de um perseguidor armado, isso sim era motivo de preocupação. Ter seu filho encurralado por um maluco que quer acabar com você por causa de alguns milhões de dólares? Aquilo sim era um problema. Estivesse ou não o implante de silicone de sua amante simetricamente em jogo.

O perigo, assim como a doença, era o grande equalizador de tudo, e os ricos rapidamente aprendiam o que realmente importava quando a tragédia vinha bater à porta. Como cortesia da visita, eles também recebiam algumas lições sobre suas profundezas interiores. Uckermann já tinha visto empresários muito bem-sucedidos se descontrolarem e chorarem de medo. Também havia testemunhado uma força grandiosa e súbita emergir em uma mulher cuja única preocupação era as suas roupas.

Ser um especialista em segurança pessoal era um trabalho perigoso, mas era a única coisa que ele se imaginava fazendo. Com seu conhecimento militar e inteligência, e como não aceitava muito bem receber ordens, aquela função lhe caía bem. Observador, protetor, e até assassino, se necessário. Uckermann estava no topo entre os profissionais de sua área, e sua pequena empresa, a Black Watch Ltda., lidava com todos os tipos de público, de homens do Estado a investidores e figuras internacionais.

Para alguns, aquela teria sido uma vida difícil. Por conta da profissão, Uckermann viajava ao redor do mundo, dormia em quartos de hotéis, hospedava-se na casa de outras pessoas e se deslocava de um trabalho para o outro sem intervalo. Para ele, a falta de continuidade era um atrativo. Uma necessidade.

Uma mochila do exército repleta de roupas e duas maletas de metal cheias de equipamentos eram tudo o que ele possuía. O dinheiro que ganhará uma quantia considerável estava espalhado em diversas contas bancárias com nomes diferentes. Ele não tinha um número de segurança social válido, tampouco registro na Receita Federal, e nenhum outro órgão do governo possuía seus dados. Para todos os efeitos, Uckermann era um fantasma.

Mas isso não significava que ele não fosse notado.

Uma mulher com um vestido preto e justo passou por ele, encarando-o com um olhar convidativo – irresistível para qualquer homem, imaginou. Ele a observou passar e a mediu da cabeça aos pés. Não estava interessado em um caso rápido com uma socialite. A experiência ensinara-o a se relacionar sempre com mulheres do tipo dele.

As mulheres com quem ele saía normalmente pertenciam à comunidade de inteligência ou às forças armadas. Elas entendiam como era a vida dele e não esperavam nada além de uma noite ou duas, um corpo para aquecer suas camas. Mulheres comuns costumavam olhar para o futuro depois que eles faziam sexo, e lidar com as expectativas equivocadas delas demandava tempo e paciência – algo que ele não tinha de sobra.

Seu fone de ouvido emitiu um sinal. O "pacote" estava na limusine, esperando para ser levado ao Plaza.

– Obrigado, Tiny – respondeu ele em um pequeno transmissor preso em seu pulso.

Ao passar os olhos pela multidão, não avistou nenhum problema. O lugar estava coberto pelos seus homens. Uckermann conhecia e confiava em todos eles, e os escolhera a dedo diretamente da corporação militar de elite. A Black Watch era o único lugar que ele conhecia onde ex-soldados, ex-fuzileiros navais e ex-militares da US Navy Seals, a Força de Operações Especiais da Marinha dos Estados Unidos, poderiam trabalhar juntos sem distribuir porradas. Se algo de errado acontecesse naquela noite, eles trabalhariam juntos e fariam o possível e o impossível para proteger o embaixador.

Salvo o fato de que Uckermann estava preocupado porque sabia de algo que ninguém mais tinha conhecimento. O homem que estava perseguindo o embaixador tinha sido morto há cinco horas em um posto militar no seu país natal. Uckermann fora avisado por um velho amigo; considerando a fonte, ele podia confiar que a informação era verídica. Aquilo não significava que o embaixador estava fora de perigo, pois os assassinos poderiam facilmente ser substituídos, mas diminuía as chances de problemas naquela noite em particular.

Apesar da redução do nível de ameaça, Uckermann não estava menos alerta. Ele sabia onde cada pessoa estava naquele salão de baile, os padrões de seus movimentos, e como entravam e saíam do espaço. Nem o melhor serviço de inteligência do mundo mudaria a exatidão de sua visão periférica ou sua capacidade de rápida assimilação de informações.

A vigilância era uma característica natural dele, tão imutável quanto a cor dos seus olhos.

Uckermann sentiu alguém se aproximando pelas suas costas. Virou-se e olhou para o rosto preocupado de Christian, o anfitrião da festa. O homem era o típico ícone das relações sociais, com a cabeça prematuramente repleta de fios de cabelos brancos e os óculos com a armação em formato de chifre. Uckermann gostava dele. Era um cara fácil de lidar.

– Peço desculpas por incomodar, mas você viu a minha mulher?

Houve uma ligeira cadência na pronúncia das vogais em inglês, sem dúvida um resquício de quando seus ancestrais atravessaram o Atlântico. Em 1630.

Uckermann balançou a cabeça.

– Ela deveria estar aqui há um bom tempo. Ela odiaria perder a entrada do embaixador –

Christisn aproximou os dedos finos até sua gravata borboleta. – Embora eu tenha certeza de que ela vai aparecer.

A tensão no olhar do homem era mais verdadeira que as suas palavras.

– Quer que eu mande um dos meus homens até a sua casa?

Como Christian era uma pessoa de espírito muito esportivo, Uckermann não se importaria em fazer um esforço a mais. Além disso, aquilo não demandaria muito tempo. Seus homens tinham um jeito de contornar o trânsito que deixava os taxistas da cidade de Nova York sentindo-se como se pertencessem à sociedade Amish1.

Christian esboçou um sorriso preocupado.

– Obrigado. É muito gentil de sua parte, mas não quero arrumar problemas.

– Se mudar de ideia, basta me avisar. A propósito, o embaixador está a caminho e chegará a tempo.

– Fico feliz que você esteja aqui. Curt Thorndyke estava certo. Você é capaz de tranquilizar a mente de qualquer homem.

Uckermann voltou a olhar ao redor do salão. Dentro de vinte minutos, o embaixador chegaria.

Começaria a sessão de praxe de fotografias e genuflexões e, então, o jantar seria...

Os olhos de Uckermann perceberam algo.

Ou alguém.






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