Capítulo 10 parte 2/2

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Acordou agitada e, aos poucos, percebeu que ele estava em pé na porta do quarto. Na penumbra, ela pôde ver os lábios dele se movimentarem, mas não conseguiu ouvir a sua voz.

O som entrava e saía do ouvido dela como se fosse uma ligação ruim.

O que... ela perguntou a ele em sua mente. O que você está me dizendo?

Ele estava com a expressão apreensiva, e Dulce observava enquanto ele falava ainda mais rápido.

Não consigo ouvir você.

E então, e pela primeira vez desde que ele morrera, ela conseguiu ouvir a sua voz.

Calla lily.

Dulce acordou subitamente e impulsionou o corpo para frente, sentado-se na cama, com o coração batendo forte e a respiração presa em algum lugar dos seus pulmões. Afastou as cobertas para longe, colocou os pés no chão e concentrou-se antes de se virar. Olhou para a porta do quarto. O pai tinha ido embora.

Ele nunca esteve lá, corrigiu a si mesma.

No escuro, Dulce caminhou tropeçando até o banheiro e tateou o ar ao redor à procura do copo vazio. Girou a torneira e deixou a mão esperando pela corrente de água fresca. Disse para si mesma que aquela pia era real, que o mármore debaixo dos seus pés era real e que a luz tênue que entrava pela janela era real.

Mas a imagem que viu do pai não.

Encheu o copo, tomou alguns goles e experimentou o sabor de metal da água. Depois de colocar o copo debaixo da torneira uma vez mais, respirou fundo e ficou imóvel.

O cheiro de tabaco invadiu suas narinas, fazendo-a sentir vontade de espirrar – como

sempre acontecia quando o pai acendia um dos seus charutos.

E o copo de vidro, bem como a sua sanidade, escorregou da sua mão.

Christopher tinha acabado de acender um charuto e estava olhando para o nada quando ouviu um estrondo. Atirou o charuto num cinzeiro, pegou a arma e saiu correndo pelo corredor.

Ao chegar abruptamente na porta do quarto de Dulce, ele ouviu a voz dela vindo do

banheiro.

– Estou aqui.

Ao acender a luz, Christopher viu Dulce equilibrando-se na ponta dos pés rodeada por cacos de vidro.

– Estou bem, estou bem – disse ela, piscando contra o brilho da luz. – Só deixei um copo cair e ele quebrou.

Quando ela finalmente conseguiu fixar o olhar e concentrar-se nele, viu seu tórax nu. Foi nesse momento que Christopher se deu conta de que estava vestindo apenas uma cueca boxer. Dulce arregalou os olhos; ele sabia que ela estava olhando para as suas cicatrizes.

– Tem certeza de que não se machucou? – perguntou ele, preocupado, correndo os olhos pelo corpo dela, tentando não demonstrar nenhuma emoção.

Mas fracassou. Exatamente como nas fantasias dele, ela não estava vestindo muita roupa, apenas um tecido fino de seda adornado por renda. A imagem dos seios dela transparecendo pelo tecido frágil fez despertar nele a vontade de cair de joelhos naqueles malditos cacos de vidro.

– Estou bem, de verdade. Desculpe por ter acordado você – Dulce começou a olhar para o chão, como se estivesse procurando uma forma de sair dali.

– Nem pense em se mexer. Você vai se cortar – Christopher colocou a arma em cima do balcão.

Dulce olhou para a arma com receio.

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