Capítulo 17

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Ao descer as escadas para o café da manhã, Dulce teve de forjar um sorriso. Ela preferia comer sozinha, mas as refeições na Willings eram um espetáculo à parte e ausentar-se do café da manhã traria conflitos entre ela e a mãe. Como estava esforçando-se para manter a pequena dignidade que lhe restava, Dulce queria evitar qualquer tipo de inconveniência.

Só mais dois dias, pensou ela, caminhando para a sala de jantar.

Surpreendeu-se ao ver Jack acompanhado da namorada à mesa comprida.

– Blair! – Dulce exclamou. – Quando foi que você chegou?

A outra mulher levantou-se e as duas se abraçaram.

– Ontem, de madrugada.

Blair, uma mulher alta e magra, que tinha os cabelos louros curtos e olhos cinzentos deslumbrantes, era o par perfeito que complementava a brandura de Jack. Os dois, com suas roupas caras e os looks clássicos, formavam um belo par.

Depois que abraçou a amiga, Dulce avistou Christopher logo no momento em que ele entrou na sala.

– E como está o dente?

– Estou com um pouco de dor – Blair sorriu, esfregando o queixo. – Mas estava me sentindo melhor, então por isso vim ontem à noite.

– Ela é um verdadeiro soldado de combate, não é? – lançou Jack.

A mulher olhou para ele.

– Em compensação, vou perder o passeio de barco hoje. Não estou tão bem para sair pelo mar com você e Alex.

– Engraçado, você conseguiu se livrar do passeio da última vez que ele nos convidou –

Jack sorriu. – Tem certeza de que não planejou esse tratamento de canal?

– Alex está na cidade? – Dulce perguntou, sentando-se na cadeira que Jack havia puxado para ela.

Alex Moorehouse tinha sido um dos melhores velejadores da America's Cup e era um velho amigo de Jack. Dulce teve a oportunidade de encontrar o homem algumas vezes e gostou dele.

– Sim, e vou perder a chance de sair para o mar aberto com Moorehouse. Aquele homem é adrenalina pura.

Blanca entrou na sala e todos se levantaram. Estava vestida com um terno de tweed, o cabelo precisamente preso num coque, no penteado que ela costumava fazer há anos. Quando os olhos da mãe a percorreram, Dulce tocou seu próprio cabelo, que estava solto e recaído sobre os ombros.

Blanca olhou com desprezo para a calça jeans de Christopher antes de sorrir para sua mais nova convidada.

– Blair, querida, como você está? Sentem, sentem, podem se sentar.

Jack puxou a cadeira para Blanca e, em seguida, ela tocou a campainha. Marta entrou com uma bandeja grande de prata cheia de ovos mexidos e de frutas cortadas. Parou diante de cada convidado, segurando a bandeja com muita facilidade. Quando chegou a sua vez, Dulce não se serviu muito.

– Está tudo muito bonito, Marta. Obrigada – disse ela. – Mãe, hoje vamos até a casa do sr. Blankenbaker. Gostaria de nos acompanhar?

– Não. Vou almoçar com Harrington Wright. Mas antes vou encontrar Stella Linnaean, que não está se sentindo muito bem. E, em seguida...

Dulce deixou o recital de atividades da mãe passar por cima dela feito uma névoa.

Enquanto isso, pensou no que Christopher e ela tinham conversado mais cedo naquela manhã. Ela ficou espantada diante de tantas revelações que ele tinha feito sobre si mesmo, embora fosse uma pena que muito pouco do que ele dissera trabalhasse a favor dela. Ela reproduziu a conversa entre os dois mentalmente, tentando encontrar uma maneira de fazê-lo enxergar as possibilidades em vez dos obstáculos entre eles.

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