Capítulo 14

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Naquela noite, Dulce não conseguiu dormir. Depois de tentar pegar no sono por uma hora, foi para a cozinha.

Mais cedo, ela tinha conseguido uma boa quantidade de prováveis doadores do Congress para o baile, na esperança de garantir parte do leilão. Tentar se concentrar nos negócios tinha sido impossível, e talvez fosse esse o motivo pelo qual os Stafford tinham rejeitado o pedido dela para cederem a sua coleção de bordado americano. As amostras seriam um belo item para o leilão. Mesmo que não chamassem tanto a atenção quanto as cartas de Franklin e Jefferson, as peças ainda tinham muita notabilidade por serem raras e pelo excelente estado de conservação.

Dulce abriu a geladeira e pensou em Christopher. As prateleiras estavam cheias de legumes frescos, carnes, caixas de suco de laranja e leite se soja. Imaginou que o eletrodoméstico provavelmente sentia-se grato ao deixar de ser utilizado como um cemitério de condimentos.

Estava no caminho de volta para o seu quarto depois de ter comido um sanduíche quando o telefone tocou. Christopher apareceu na porta no momento em que ela atendeu ao telefone forçosamente na sala de estar.

– Dulce? – a voz era masculina. A voz atordoada e trêmula de homem.

– Sim?

– É Ted Lauer.

Ela sentiu o sangue pulsar pela cabeça.

– Ah, meu Deus, não...

– Mimi está... ela se foi, Dulce... – Ted engasgou e pigarreou.

Dulce deixou escapar um grunhido baixo e curto enquanto deixava o corpo recair sobre a cadeira, pensando em Mimi no momento em que havia deixado a suíte de Bo. A ideia de que a amiga já estava morta quando Dulce tentou ligar para ela naquela manhã foi assustadora.

Tentou imaginar Ted tendo de contar ao filho que a mãe dele não voltaria para casa nunca mais.

– Tem alguma coisa que eu possa fazer por você? – perguntou Dulce.

– Não há nada que ninguém possa fazer.

Quando finalmente desligou o telefone, depois de oferecer palavras de condolências e de se sentir lamentosamente insubstancial face ao sofrimento do homem, ela olhou para Christopher.

– A vida daquela família está arruinada. O filho dela... – ela levantou-se e, desolada, sacudiu a cabeça. – Não podemos ir para Newport. O funeral será neste fim de semana.

– Não quero que você vá.

– Para o funeral? – ela franziu a testa. – Como é que eu não vou?

Christopher balançou a cabeça.

– Não estou te dando escolha.

– Mas eu vou estar em perfeita segurança. Você vai ficar comigo...

– Vai haver uma aglomeração. Eu te disse, precisamos evitar grandes aglomerações.

– Mas ela era minha amiga... – Dulce cruzou os braços, lutando contra as lágrimas de raiva, frustração e medo.

– Dulce, precisamos ser racionais.

– Haverá muitos policiais por lá. Você consegue proteger figuras políticas, certo? Pessoas como o embaixador – concluiu ela. – Então por que seria diferente comigo?

– Naquela noite, o Plaza estava completamente vigiado pelos meus homens.

– Então traga-os, pode me cobrir com eles feito um casaco maldito, eu não me importo.

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