Capítulo 2 parte 2/2

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Dulce usava muitas roupas da Chanel.

Sentindo-se inquieta, ela verificou as roscas dos pesados brincos de diamantes que estava usando. As duas estavam bem ajustadas. Olhou para seus sapatos. Nenhum sinal de sujeira neles. Não teria notado se houvesse algum rasgo ou alguma mancha que necessitasse de um jato de água. Sem nada em que pudesse se concentrar, ela manteve o pensamento focado na falta de oxigênio naquele cômodo arejado e banhado pela luz do sol.

Foi até uma janela e abriu-a, sentindo a brisa fria e agradável do outono tocar o seu rosto.

Do lado de fora, o lago estava calmo, o sol brilhava e o dia parecia cheio de promessas.

Desejou com muito fervor que estivesse chovendo.

– Ele acabou de chegar – avisou Anahi pela porta da sala.

Dulce virou-se no mesmo momento em que Alfonso se aproximou da esposa e colocou as mãos sobre os ombros dela.

– Está pronta? – perguntou ele.

– Traga o sr. Uckermann – respondeu Dulce quando a aldrava de bronze emitiu um ruído semelhante ao de um trovão.

Tudo aquilo estava errado, pensou ela, enquanto Alfonso abria a porta. Ela não queria um segurança particular. O que ela desejava era que Maite estivesse viva. Desejava poder voltar para aquela noite de quinta-feira no Plaza para ver Maite sentada entre o marido e o embaixador, enquanto eles se serviam da sobremesa.

Dulce brincava com o seu relógio, olhando para o mostrador de platina. Não contrataria quem quer que entrasse por aquela porta e lamentou ter aceitado participar de um encontro como aquele. Alfonso deve ter tido a melhor das intenções, mas ela sentia como se tivesse sido forçada.

O que a fazia se sentir tão babaca nas mãos de homens controladores? Seu pai se dedicara totalmente a ela, mas também fora um homem controlador e opressivo. Ela havia aprendido a aceitar os lados bons e ruins dele, e lembrava a si mesma do quanto ele a amava mesmo quando fazia exigências incabíveis ou quando tentava controlar a vida dela. Mas ser capaz de enxergar ambos os lados do pai não era o mesmo que defender a si mesma – o que a levara a se casar com o homem errado.

Seu marido, Rodrigo, tinha sido igualmente uma pessoa difícil. Com suas opiniões intransigentes sobre o que as mulheres devem ou não devem fazer, ele provou ser igual ao pai dela quando o assunto era dar ordens.

Dulce emitiu um suspiro curto ao ouvir o som de vozes masculinas e, em seguida, o ruído de passos pesados.

Já passava da hora de parar de ser polida e começar a assumir o controle de sua própria vida. Como consequência do seu desabafo na noite anterior, algum pobre rapaz tinha vindo sabe Deus de onde para desperdiçar seu tempo. Ela não queria esse tipo de ajuda. E não permitiria que a preocupação extrema de Alfonso Herrera ou a preocupação mais ponderada de sua velha amiga a fizesse adotar um guarda-costas.

Dulce fez uma careta. Em relação ao homem que viera para ser contratado, ela seria muito franca e se desculparia, dizendo a ele que aquilo havia sido um erro. Pagaria as despesas dele, claro. Sim, era a melhor coisa a ser feita.

Dulce ergueu a cabeça e prendeu a respiração. Teve de piscar para se certificar de que não estava sonhando.

– É você... – sussurrou ela, enquanto olhava para a expressão séria do homem que a beijara.

Seu coração começou a bater acelerado.

O que ele estaria fazendo aqui? Seria ele um...

Claro, ele estava protegendo o embaixador naquela noite. Esse era o motivo pelo qual ele estava no baile. Era por isso que ele se destacava dos outros homens, como alguém mais forte, mais resistente, diferente.

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