Capítulo 15

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Até as bebidas serem servidas na biblioteca, a noite já tinha se acalmado e a temperatura tinha caído. Para quebrar o gelo, Wilhelm acendeu o fogo da lareira e Dulce ficou de costas para as chamas, tomando alguns goles de chardonnay.

O quarto era um dos seus favoritos na casa, porque, ao contrário da maior parte dos outros, não era cavernoso. As paredes eram cobertas de estantes repletas de livros com capas de couro e Dulce sempre apreciou a maneira como as letras douradas das lombadas brilhavam diante da luz do fogo da lareira. As poltronas e os sofás, revestidos de seda vermelho-escura, ficavam estrategicamente posicionados debaixo das janelas – um convite à leitura –, e cortinas pesadas de veludo varriam o chão. Um carpete vermelho-escuro oriental complementava a decoração de esquema de cores vibrantes.

Quando era menina, Dulce se convencera de que aquele quarto era de algum mágico que tinha se mudado para algum lugar fantástico.

Jack aproximou-se dela. Estava lindo de terno preto. Ao observar suas características de nobreza, Dulce perguntou-se por que ela nunca se sentiu atraída por ele. Muitas mulheres se sentiam. A maioria das mulheres, na verdade.

Ele sorriu para ela.

– Seu amigo não é de falar muito, não é?

Dulce olhou de relance para Christopher, encostado no batente da porta do outro lado da sala.

Christopher estava todo de preto, embora não estivesse usando terno e, na penumbra, seus olhos ficavam especialmente escuros.

Ela sorriu para Jack.

– Você não o conhece.

– E nem estou com pressa. Como companhia para o jantar, aquele cara faz o alistamento militar parecer algo bem atraente.

– Sabe, estou ansiosa para ver Blair amanhã – disse Dulce, afoita para pôr um fim na conversa sobre Christopher. – Me conta, quando é que vocês vão juntar as escovas de dente?

Jack sorriu e tomou um gole do seu uísque.

– Você está mudando de assunto. Boa manobra defensiva e um tema particularmente bem escolhido. Vamos falar sobre o tempo agora?

Dulce deu risada.

– Você vai pedi-la em casamento, não vai?

Ela concentrou o olhar no copo que Jack segurava enquanto fazia movimentos circulares.

– Vou tocar no assunto em algum momento. Quem sabe? Talvez aconteça antes do que esperamos.

– O que você está esperando?

Um encolher de ombros do amigo foi seguido por um sorriso malicioso.

– Os planetas precisam ser devidamente alinhados. Minha lua precisa ser ascendente, mas nos últimos trinta anos ou mais, ela não tem feito outra coisa que não se pôr. Ou talvez seja o contrário.

– Ela é uma mulher adorável.

– Eu sei. Ela me atura e isso faz dela uma santa – Jack elevou o olhar. – Não vai me encher com aquela conversa que a rotina do casamento é maravilhosa. Minha mãe tem me falado tanto sobre isso ultimamente que já está enchendo o saco.

Dulce levou sua taça à boca e permaneceu em silêncio, pensando que aquilo seria a última coisa que ela diria a alguém.

Quando Marta avisou que o jantar seria servido, Jack ofereceu o braço e Dulce apoiou-se nele. Enquanto caminhavam em direção à sala de jantar, ela notou o olhar penetrante de Christopher em suas costas. Dulce teve de lutar contra a vontade de virar-se e dizer que ele estava exagerando e deixando-a nervosa. Por Deus! Ela estava em sua própria casa, entre amigos.

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