Capítulo 1 parte2/4

852 48 2
                                    

Ele fitou a multidão e avistou uma mulher ruiva que tinha acabado de chegar. Usando um vestido longo, prateado e cintilante, ela estava de pé na adornada entrada do salão de baile e parecia radiante demais para ser real.

Ele a reconheceu imediatamente. E quem não a reconheceria?

Condessa Savinón Reyes.

O salão ficou em profundo silêncio à medida que as pessoas notaram a presença dela. O status social do evento, que já era bastante elevado, ultrapassou o telhado com sua chegada, e a aprovação da multidão era evidente.

Se esses engomadinhos não estivessem segurando suas bebidas, teriam aplaudindo-a veementemente, pensou ele com indiferença. Como se fosse ela a homenageada, e não o embaixador.

Ainda assim, ele tinha de admitir que ela era uma pessoa atraente. Com o cabelo ruivo amarrado num penteado encaracolado, a mulher possuía uma beleza clássica, com traços faciais delicados e olhos castanhos deslumbrantes. E aquele vestido! Perfeitamente ajustado em seu corpo, o vestido movia-se como água à medida que ela adentrava o salão.

Nossa como ela é linda! Pensou Uckermann, como se a mulher fosse para o bico dele. Mas não era.

Christian dirigiu-se até ela. Ela estendeu a mão e aceitou com afetuosidade os beijos dados por ele em ambas as bochechas. Alguém mais se aproximou depois mais alguém, até que ela ficou coberta pela onda de bajulação do salão. Uckermann rastreou todos os movimentos da mulher.

Ela aparecera nos jornais recentemente, ele se lembrou – como se alguma vez aquela mulher tivesse deixado de ser notícia. Suas roupas, suas festas, seu casamento extravagante forraram as capas de todos os tabloides e de todos os jornais. Mas o que ele tinha lido sobre a condessa recentemente? Que o pai dela falecera há pouco tempo. Era isso. E havia algumas notícias espalhadas a respeito dela e de outras cinco mulheres na seção de moda e estilo do

The New York Times. Uckermann tinha visto a capa do jornal no balcão da recepção do Plaza.

Com certeza ela nasceu em berço de ouro, pensou ele, observando as pérolas e os diamantes pesados do colar que a mulher tinha ao redor do pescoço e dos brincos pendurados nas orelhas. A fortuna da família estava na casa dos bilhões e, considerando que ela acabara de se casar, essa quantia não estava exatamente diminuindo.

No momento em que a mulher começou a entrar no salão, ela olhou na direção de Uckermann e seus olhares se cruzaram. Ela ergueu as sobrancelhas de maneira suntuosa ao perceber que ele não desviou o olhar.

Talvez não tenha gostado de ser observada. Talvez ela tenha sentido que ele não pertencia ao meio, embora estivesse vestido a rigor.

Talvez o desejo que ele estava sentindo estivesse estampado em seu rosto.

Uckermann disfarçou sua reação enquanto ela o examinava. Ficou surpreso com o brilho astuto em seu olhar e com o tempo que ela ficou observando a orelha esquerda dele, exatamente onde estava o fone de ouvido. Ele não esperava que ela fosse tão observadora. Era um cabide de roupa de primeira linha, da mais alta costura, com certeza. O acessório de luxo favorito de algum homem rico, sim. Mas será que ela escondia pelo menos metade de um cérebro por trás de toda aquela fachada elegante? Sem chance.

A condessa continuava caminhando pelo salão quando a voz profunda de Tiny chegou ao fone de ouvido. O embaixador chegaria em quinze minutos. Uckermann olhou para o relógio.

Quando levantou a cabeça, ela estava em pé na frente dele, depois de ter se livrado dos seus admiradores.

– Eu te conheço? – a voz dela era suave, um pouco baixa demais para uma mulher.

Incrivelmente sexy.

O sorriso que ela oferecera a ele foi gentil e acolhedor, nada parecido com a expressão fria e aristocrática que ele havia imaginado.

Os olhos dele cintilaram diante daquela mulher. Os seios dela permaneciam escondidos pelo vestido prata, mas estavam perfeitamente emoldurados, e a cintura era fina. Ele imaginou que as pernas – que estavam igualmente cobertas pelo vestido – também eram igualmente perfeitas. Christopher sentiu o perfume dela, algo leve e ao mesmo tempo picante, que adentrava as narinas e invadia o sistema nervoso.

– Nos conhecemos? – perguntou ela novamente, estendendo a mão e aguardando uma resposta.

Uckermann olhou para baixo. Ela tinha estendido a mão esquerda para cumprimentá-lo e ele lançou um olhar em direção às joias que ela usava no dedo anelar. Era uma safira monstruosa e uma espessa faixa de diamantes.

Os anéis lembraram-no de que, mentalmente, ele acabara de despir uma mulher casada.

Ele levantou a cabeça e mirou os olhos dela, desejando que aquela mulher fosse para bem longe dali. Os dois começavam a chamar a atenção das outras pessoas, já que ela permanecera com a mão estendida esperando para cumprimentá-lo.

– Não, você não me conhece – respondeu ele secamente, segurando a mão dela.

No instante em que a tocou, uma labareda de calor invadiu o seu braço e ele pôde enxergar o reflexo dessa chama nos olhos dela. A mulher se afastou bruscamente.

– Tem certeza de que não nos conhecemos? – ela inclinou a cabeça para um lado, enquanto esfregava a própria mão, tentando livrar-se daquela sensação desagradável.

O fone de ouvido recebeu mais um aviso sobre o embaixador.

– Sim, tenho certeza.

Uckermann virou-se e afastou-se dela.

– Espere! – ele a ouviu gritar.




Um Romance InesquecívelOnde histórias criam vida. Descubra agora