Capítulo 7

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Dulce acordou num movimento súbito, remexendo os braços no lençol da cama. Esticando o corpo tenso diante da luz fraca do amanhecer, ela esperou por algum sinal do que poderia ter perturbado o seu sono e despertado-a daquela forma.

Mas havia apenas o silêncio no quarto.

Olhou ao redor. Pelo que via, estava completamente sozinha.

Pensou imediatamente em Christopher. Será que ele teria entrado no quarto? Ou seria outra pessoa? Ela rolou para fora da cama, tentando procurar por ele. Como o silêncio se estendeu, considerou que não havia razão para acordá-lo. Ele era seu guarda-costas, não um cobertor de segurança.

Sentindo-se pouco à vontade, foi até as portas francesas. O sol estava quase se erguendo e nuvens finas cobriam o horizonte. Abaixo, as ruas ainda eram iluminadas pelas lâmpadas incandescentes e o Central Park era uma extensa área coberta pela escuridão.

Então eles tinham conseguido passar a primeira noite debaixo do mesmo teto, pensou ela. E não tinha sido tão ruim assim. Apenas uma discussão causada pela língua afiada dele e pela fadiga nervosa dela. Considerando tudo, talvez aquilo fosse um triunfo.

Agora, se ela descobrisse como poderia dividir o banheiro com ele, se sentiria totalmente livre.

Dulce estava prestes a se virar quando Christopher saiu do terraço para a sala de estar.

Ela prendeu a respiração e inclinou-se até que a testa bateu no vidro. Murmurando, ela se recompôs e esfregou a testa.

Christopher estava nu da cintura para cima. Ele vestia as mesmas calças pretas da noite anterior.

Seu corpo era tudo o que tinha imaginado. Ele era musculoso, forte e, pelo o que pôde ver, não havia um grama sequer de gordura sobre o corpo dele. Enquanto ele se movimentava, ela observou os músculos das costas se contraindo. Eles se espalhavam pela espinha e inflavam os ombros, agregando volume à parte superior do tronco.

Foi quando ela percebeu marcas na pele dele. Cicatrizes. Havia muitas em suas costas, uma que atravessava o abdômen e as costas, e um traço irregular no ombro direito.

Ela ergueu uma das mãos, como se pudesse acariciá-lo de longe, e tentou imaginar o tipo de vida que ele devia ter levado. Por onde ele tinha passado. O que fizeram com ele.

A necessidade de conhecer o passado dele era pungente.

Não era à toa que ele tinha aquela postura tão rígida. Christopher sabia quais eram as suas dores físicas.

Ela o observou, fascinada, movimentando-se furtivamente pelo terraço, desviando das plantas e dos móveis da varanda; ele parou apenas há alguns metros do corrimão de ferro. De frente para a luz do sol, ele uniu as duas mãos e inclinou a cabeça em sinal de reverência.

Dulce perguntou-se como poderia haver tamanha ternura em um homem como ele. Pensou na expressão inflexível, no olhar impassível e naquele tom aborrecido que, segundo ela suspeitava, era apenas mais um disfarce que escondia seus verdadeiros pensamentos. Ela desejava saber o que havia por debaixo daquela camuflagem.

Ao erguer a cabeça, Christopher começou a praticar movimentos e posturas tradicionais do tai chi. Dulce ficou maravilhada. Por meio daquela prática, Christopher empunhava sua força masculina – todos aqueles músculos e ossos que tinham tanta força bruta eram disciplinados por ele para executarem movimentos fluidos e calmos. À medida que o sol nascia atrás dele, sua silhueta se movimentava de um lado para o outro no ar, fazendo uma dança graciosa.

Dulce ficou parada em frente ao vidro até que ele voltasse à posição inicial. Quando ele inclinou a cabeça, fazendo uma reverência novamente, e começou a se virar, ela correu para a cama, rezando para que ele não a tivesse visto.

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