Capítulo 19

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- Você está estranha. – Luís me disse, enquanto tomava o suco de laranja que havia pedido.

Era noite e estávamos em um restaurante em Goiânia perto da minha casa. Luís percebeu rapidamente que eu não estava nos meus melhores dias naquela semana, e passava quase o tempo todo me convencendo a falar o real problema. Mas é claro que eu não ia simplesmente soltar o fato de que o meu ex-namorado traidor me perseguiu e tentou me convencer a dar outra chance para ele. Seria como se eu falasse para o Luís que agora ele tem uma concorrência. Não que o Pedro tivesse alguma chance quando comparado ao Luís, mas seria uma concorrência. Quero dizer, o Pedro estava tentando voltar comigo, não é? Ou será que ele simplesmente se sentiu culpado por tudo o que fez e decidiu – para o seu próprio bem – tentar me convencer de que ainda se importava comigo?

Eu não deveria estar pensando nisso.

Mesmo que Pedro realmente se importasse comigo, eu tinha um namorado maravilhoso que gostava de mim e nunca havia feito qualquer coisa que fizesse eu duvidar dos seus sentimentos.

- Analu, você sabe que pode me contar qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo.

- Eu estou bem. Não é nada, sério. Eu só estou um pouco abalada com o fato da Bia estar me ignorando completamente. Mas, com um pouco de sorte, isso vai mudar amanhã! – Eu disse, forçando um sorriso.

Ele segurou as minhas mãos e me deu um sorriso cúmplice.

- Ela vai sim – Ele me deu um sorriso fofo. – Bom, de qualquer modo, eu decidi uma coisa hoje. – Ele falou. – Eu não quero mais nenhum segredo entre nós. Eu quero e vou te contar tudo sobre mim.

- Tudo mesmo?! – Eu já estava pensando se ele ia me contar a verdade sobre o acidente da banda.

- Tudo. Eu sei que você tem algumas dúvidas sobre mim e eu quero que você me pergunte o que quiser.

- Ok. Na verdade, eu só queria que você confiasse em mim para me contar a verdade sobre os dois acidentes que você sofreu. Sabe, o outro acidente além daquele que os seus pais... – Eu não quis terminar a frase, então deixei a sentença no ar.

Ele não demonstrou surpresa por eu ter comentado sobre esse assunto. Parecia até que ele... esperava que eu perguntasse isso. Com certeza, o Rafael devia ter dito alguma coisa que fizesse Luís querer se abrir comigo. Não me importava o que ele havia dito para o meu namorado, só estava agradecida de finalmente ter conseguido a confiança que eu queria que Luís depositasse em mim.

- Eu achei que você ia dizer isso mesmo. Eu não te falei sobre isso antes porque esse é um assunto muito delicado para mim. – Luís fez uma pausa antes de começar a narrar. – Uma semana antes da morte dos meus pais eu estava no auge do meu estado babaca. Eu bebia quase que o dia inteiro, ficava com mais de cinco mulheres por dia e destratava todo mundo simplesmente para me divertir. Eu tinha um show naquela noite. Eu e o meu grupo estávamos começando a ficar conhecidos e nós íamos para São Paulo fazer um show importante. Mas nós perdemos o voo e tivemos que ir de carro porque a apresentação seria no outro dia e ainda tínhamos muitas coisas para resolver em São Paulo antes. Como eu era o menos bêbado do grupo, decidimos que eu ia dirigir. Mas é como dizem, álcool e direção não é a melhor das combinações. Eu estava passando em uma ponte, perdi o controle e cai no rio. A minha banda tinha cinco integrantes contando comigo e dois não conseguiram sair. Eu... eu praticamente... matei dois amigos.

Os seus olhos estavam cheios de lágrimas e emoção.

- Eu fui preso por alguns meses, mas saí ileso. Eu até perdi o enterro dos meus pais porque estava preso. Quando eu saí da cadeia, decidi que não iria mais ser aquele babaca e resolvi mudar radicalmente. Eu entrei para a faculdade e me tornei outra pessoa ou, pelo menos, espero que tenha me tornado.

Eu fiz a única coisa que pensei que poderia ajudar, segurei suas mãos com força. Ficamos de mãos dadas por um bom tempo, até que nossos pratos chegassem e nós jantássemos.

Eu nunca imaginava que aquele acidente poderia ter sido assim tão grave, envolvendo até a morte dos seus amigos e prisão. Luís, na verdade, nunca tinha me dito que já havia sido preso. Eu me sentia feliz por ele ter conseguido confiar tanto em mim, mas também me sentia culpada por esconder meus próprios segredos dele.

***

Lídia havia convidado Beatriz e Vanessa para tomar sorvete em uma gelateria recém-aberta da cidade. Eu decidi chegar por último para que não corresse o risco de assim que Bia me visse, decidisse ir embora. Já tinha mais de uma semana que ela não dizia nada – nem por mensagem – para mim e eu admito que estava com saudades de jogar conversa fora com ela.

Ela parecia feliz de longe, estava rindo de alguma coisa que a Vanessa havia dito. Mas, logo que ela me viu, sua expressão mudou e eu pude ver de longe que ela indagava um " o que ela está fazendo aqui? " irritado.

- A culpa não é delas – Eu disse, assim que me aproximei o suficiente da mesa. – Eu implorei à Lídia para que esse encontro acontecesse porque eu preciso conversar com você, Bia.

Ela cruzou os braços e fez uma cara de raiva enquanto eu sentava na cadeira ao lado dela.

- Olha, eu sei que eu estava agindo como se eu não quisesse você por perto, mas você sabe que não era nada disso! Eu admito que estava deixando você de lado, mas eu prometo que não vou fazer isso de novo. Você é como uma irmã para mim, Bia. Eu não quero que nossa amizade termine e você mesmo disse que voltaria a falar comigo quando eu quisesse que você não fosse apenas minha amiga substituta. Não que em algum momento eu te considerasse assim, só estou dizendo que eu valorizo muito a sua amizade e você como pessoa. Você me perdoa?

Ela me abraçou, tirou a cara de emburrada – não que ela estivesse fazendo uma cara feliz, mas nada é perfeito, né? – e disse que não me perdoaria de novo se eu jogasse ela para escanteio mais uma vez.


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Oi, gente!

Desculpem a demora GIGANTE por esse capítulo. Vou postar o próximo o mais rápido possível, ok? 

Tchau, tchau!



Corações AflitosOnde histórias criam vida. Descubra agora