Capítulo 12

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Tirei os meus pés da balança.

Sim, eu havia emagrecido. Sim, eu havia emagrecido muito. E não, eu não estava feliz em ter emagrecido.

Eu estava sete quilos mais magra – o sonho de várias mulheres – e não estava me sentindo bem. Eu me sentia frágil, quebradiça. Para onde foi parar as minhas gordurinhas laterais que faziam meu corpo ficar mais curvilíneo? Sem falar que o meu peito e a minha bunda haviam diminuído drasticamente. Emagrecer tem um limite e, com certeza, é bem antes do que pregam as mídias hoje em dia.

Eu queria os meus quilinhos de volta!

Fiquei tão chateada de ter emagrecido tanto que, logo depois que eu me pesei na balança da farmácia mais perto da minha casa, eu fui direto ao McDonald's mais próximo e pedi o combo mais calórico que eu consegui achar. Mesmo sendo quatro da tarde e eu já ter almoçado.

Mas mesmo tendo emagrecido sete quilos em poucos meses, eu sabia que há algumas semanas atrás eu estava bem mais magra. Depois que eu conheci o Luís e nós começamos a namorar, eu comecei a engordar um pouco. Agora eu me sentia mais feliz, menos fraca e cansada e com muita fome. A minha solidão não ameaçava mais meus dias, mas eu ainda frequentava o Dr. Rafael todas as semanas.

Duas semanas atrás, quando eu falei para a Beatriz que eu estava saindo com o Luís, ela ficou super feliz e disse que ele parecia ser um bom homem. Contudo, agora eu só a via durante o almoço – às vezes – e nas aulas. Nós ainda éramos muito amigas, mas as nossas conversas começaram a ser mais virtuais do que pessoais.

Estava pensando nisso, quando minha campainha tocou, pouco depois de eu ter chegado em casa. Estranhei; eu não estava esperando ninguém. Abri a porta e era Beatriz que havia pintado todo o seu cabelo de azul, com os seus olhos verdes que pareciam estar cheios de preocupação.

- Ana, troca de roupa. Nós estamos indo para a casa da Lídia agora.

- Lídia? Mas o que aconteceu? Ela está bem?

- Não! Ela não está bem. Quero dizer, ela está bem fisicamente. Mas mentalmente nem um pouco. Ela está chorando muito... tadinha, ela está em frangalhos. E nem me pergunte o porquê. Ela só me ligou e me implorou pra mim ir lá porque ela estava muito mal. Eu mal entendi o que ela disse, ela não parava de chorar!

Eu nem perguntei por que ela estava na minha casa e não na de Lídia. Eu sabia muito bem que a Bia não era muito boa para cuidar de pessoas chorando e com problemas. Quando eu contei toda a história do Pedro pra ela, ela quase morreu de preocupação com o meu estado mental. Agora que alguma coisa séria havia acontecido com a Lídia, ela sabia que não conseguiria segurar a barra sozinha. Então ela veio me buscar, porque eu era boa em ajudar as pessoas a passar por momentos ruins. Porque eu já havia passado por coisas ruins e sabia que apoio era fundamental.

Eu me arrumei em dois minutos. Rapidamente já estávamos no meu carro indo direto para a casa de Lídia. Como eu nunca havia ido até lá, Beatriz foi me dando as coordenadas até chegarmos ao destino.

Por fim, chegamos em frente a um prédio com fachas azuis. Eu estacionei, passamos pelo porteiro que ligou para o apartamento da Lídia para conferir se ela realmente estava nos esperando e apertei o botão que "chamava" o elevador.

- O que você acha que aconteceu? – Perguntei à Beatriz.

- Eu não sei. Mas acho que deve ter alguma coisa a ver com o Vítor. Ela estava muito desesperada e você sabe como ela ama o namorado dela. Acho que ele terminou com ela.

Quando Lídia abriu a porta, ela estava acabada.

Seu cabelo estava todo embolado, seu rosto estava muito inchado e vermelho. Seu pijama de bolinhas vermelhas estava todo amassado. E ela ainda chorava... e muito.

- Por que você demorou tanto? – Ela perguntou à Bia e, logo depois, me viu. – Ah! Oi, Analu. Entrem, por favor. – Ela tentou falar com naturalidade, mas a sua voz estava tão desagastada e mostrava tanto cansaço que era impossível não enxergar seu estado de desespero e tristeza.

Eu a abracei.

- Você sabe que pode nos contar qualquer coisa, não é? Nós estamos aqui para te apoiar. Seja no que for. – Falei enquanto a abraçava. Ela começou a chorar mais ainda.

Beatriz, como eu esperava, estava meio estática. Ela se sentou no sofá, mas eu conseguia ver que ela estava mal só de ver o sofrimento de Lídia. Bia era muito, muito sensível e emocional.

Depois de estarmos todas sentadas, Lídia começou a falar.

- Você sabem como os meus pais são tracionais, não é? – Sim, eu sabia.

Foi com muitos discursos que Lídia convenceu seus pais que sair do interior e vir para Goiânia para estudar era a melhor opção. Mas ela havia me contado o quanto os pais dela eram extremamente religiosos e conservadores. Eles não apoiavam a relação dela com o Vítor porque ele era agnóstico e isso a fazia muito triste, mas ela namorava ele mesmo assim. Lídia dizia aos pais que havia terminado com o Vítor e meio que namorava em segredo.

- Eles são tão religiosos! Ai, meu Deus! O que eu fiz? – Ela quase gritou em meio a milhares de lágrimas.

- Calma, Lídia – Beatriz disse. Ela tentava parecer calma, mas era perceptível que ela mesmo estava quase chorando.

- É. Isso. Tenha calma, respira. Tudo pode se resolver, seus pais te amam, eles vão entender.

- Não. Ai, meu Deus! Eles não vão! Eles nunca mais vão falar comigo! – Eu mal conseguia entender o que ela falava, porque seu choro se tornava cada vez mais forte.

- Respira. Tenta respirar e me conta tudo o que aconteceu para eu poder te ajudar. Se você não me falar, nós não vamos conseguir achar uma solução. – Eu disse.

- Tudo bem. – Ela inspirou e expirou calmamente três vezes antes de começar a falar de novo. – Eu amo muito o Vítor. E eu estava confusa... eu não sabia se eu acreditava em alguma religião. Eu já sou maior de idade, eu pensei. Eu tenho dezoito, já posso tomar minhas decisões! Então eu fiz amor com o Vítor. Eu sei que eu fui criada para fazer isso só depois do casamento, mas eu não sei o que aconteceu. Eu estava confusa e tudo... só aconteceu. E foi muito bom, eu amo ele, ele me ama. Ou pelo menos eu achava que ele me amava. – Ela começou a chorar de novo.

- Tudo bem. Tudo bem. Você fez sua decisão, você não pode se culpar se você acha que o que fez foi certo.

- Exatamente! – Ela disse depois que conseguiu controlar as lágrimas. – Eu não fiz nada certo. Pareceu certo na hora, mas agora não! Eu... eu estou grávida, Analu!

Eu não respondi nada. Fiquei sem palavras.

- E como se não bastasse, o Vítor me abandonou! Eu fiz o teste de gravidez semana passada, mas só hoje eu consegui juntar coragem o suficiente para contar para ele. Ele me abandonou! Ele... me abandonou na hora que eu mais precisava. Disse que precisava de um tempo para processar tudo.

Fiquei abraçando seu corpo que parecia extremamente frágil naquele momento. Realmente ela tinha o porquê de chorar.

18 anos, grávida, com um namorado que a abandonou e pais que provavelmente nunca mais iriam olhá-la do mesmo jeito.

Sua vida iria mudar radicalmente e não tinha quase nada que eu podia fazer para ajudá-la.




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