Capítulo 16

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- Ana! Espere! – Eu me virei.

Era Vítor, claro. O mestre do sumiço tinha resolvido aparecer.

Eu estava indo para a minha primeira aula do dia, uma semana depois do primeiro ultrassom de Lídia e – até aquele momento – Vítor ainda não tinha dado sinal de vida. Eu decidi que o melhor era esperar para ver se ele era homem o suficiente para assumir suas responsabilidades, porque, se esse não fosse o caso, era preferível que Lídia cuidasse do seu bebê sozinha.

- Então você decidiu aparecer. Já estava mais do que na hora, não acha? – Eu disse.

- Olha, eu sei que eu não mereço desculpas. Eu fui um babaca, mas, depois do que você me disse, eu meio que me toquei. Eu realmente vou ser pai e eu não quero que o meu filho cresça sem saber quem eu sou ou sem a minha presença constantemente. Eu quero estar presente. E eu quero que a Lídia esteja do meu lado.

- Resumindo, você finalmente virou homem – Dei um tapinha de brincadeira no seu ombro. – Já era hora.

Ao contrário de mim, Lídia não recebeu tão bem a volta de Vítor. Quando ela viu ele, saiu andando – quase correndo – na direção oposta. Não posso dizer que não teria feito a mesma coisa.

- Você precisa conversar com ela – Vítor só acenou positivamente com a cabeça.

***

Já em casa, depois da aula, meu celular começou a tocar. Pensei que era uma ligação de Luís, mas o nome "Mãe" apareceu na tela. Eu já tinha uma ideia do que era.

- Alô?!

- Oi, Analu, querida!

- Oi, mãe.

- Como você está? Faz alguns dias que você não dá sinal de vida! Sem contar que você não vem nos visitar há quase um mês, Analu. – Exatamente o assunto que eu previa. – O que está acontecendo, filha?

- Nada, mãe. – Eu não estava mentindo para ela. Realmente nada estava acontecendo; eu estava bem e feliz. – Apenas muito trabalhos da faculdade, você sabe.

- Que bom, então. Mas eu e seu pai queremos saber quando você vai vir aqui para casa de novo? Estamos com saudade de você. – Depois da viagem com Bia para Jataí, eu só tinha ido mais uma vez para a minha cidade natal.

- Bom, eu estava pensando em visitar vocês nesse final de semana mesmo.

- Ótima ideia! Então está combinado! E você vai trazer alguém especial? Quero dizer, você está namorando aquele rapaz...

- O Luís. Sim, mas eu não quero pressionar ele a fazer uma viagem de horas ainda. Nós estamos juntos há poucos meses ainda.

- Tudo bem, então. – Ela disse. – Nós estamos te esperando, querida. Tchau!

- Tchau, mãe.

Logo depois que a ligação terminou, minha campainha começou a tocar.

Era Beatriz. Ela estava segurando uma pequena mochila de roupas e alguns DVD's na mão. Ah, não! Eu tinha esquecido completamente! Eu tinha combinado semana passada de fazer um tipo de festa do pijama, mas só com nós duas. Era uma coisa que nós fazíamos: sentávamos no sofá com muita pipoca recheada de manteiga, assistindo filmes sem parar, contando as fofocas da semana. Era uma coisa que me fazia lembrar dos meus velhos tempos com as minhas amigas em Jataí e eu gostava bastante.

Só que eu havia esquecido completamente e minha consulta com o Dr. Rafael estava marcada para às 18:30 h, ou seja, eu já tinha que me trocar para conseguir chegar a tempo.

- Você parece surpresa. Não me diga que... Ana! Você esqueceu, não foi? Ana! É a terceira vez em menos de uma semana! Você esqueceu de que tinha combinado de ir almoçar comigo para almoçar com o Luís antes de ontem. Sem contar que ontem você desmarcou a sorveteria só depois que eu já estava sentada lá, enquanto você segurava a mão da Lídia no ultrassom! Olha, eu não sei o que está acontecendo com você, mas eu não quero ser deixada como segundo plano.

- Beatriz, eu não esqueci, eu só...

- Ah, fala sério! Só admita. – Ela disse. Bia ainda falava baixo, mas seu tom de voz me mostrou que ela estava bem irritada comigo.

- Tudo bem, eu esqueci. Mas não tem problema, eu posso desmarcar o psicólogo e...

- Psicólogo!? Você ainda marcou uma consulta hoje? Eu pensei que nós fossemos amiga, Ana! Melhores amigas! Mas depois da gravidez da Lídia, você me deixa de escanteio todo o tempo. Você nem conversa mais comigo! Você pode pensar o que quiser, que eu estou com ciúme da sua amizade com a Lídia e o tempo que você anda passando com o Luís, mas a verdade é que a nossa amizade mudou. E eu não sei se você quer recuperá-la. – Lágrimas, muitas lágrimas, rolavam pelo seu rosto e, depois de dizer tudo, ela se virou e começou a ir embora.

- Bia, sério, não vai! Me desculpe se eu ando meio ausente, mas eu vou melhorar. Você é a minha melhor amiga, Bia!

Ela se virou e disse:

- Sério, só me procure de novo quando você quiser que eu realmente esteja por perto. Eu não quero ser sua amiga substituta. – Ela abriu a porta do elevador e, então, foi embora.

Eu não sabia o que fazer. Simplesmente sentei no chão e fiquei por um tempo bem longo. Esqueci até de desmarcar a consulta com o Dr. Rafael.

Eu precisava recuperar a minha melhor amiga de novo.


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