Capítulo 36

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Eu estava no meu apartamento com o celular na mão. Tinha acabado de voltar do restaurante e ponderava se devia ou não ligar para Pedro. Quero dizer, eu o odiava, mas ele era a minha única esperança de resolver todo aquele mistério. Isso se ele soubesse de alguma coisa. Afinal, tinha uma real possibilidade de ele não saber de nada.

Já tinha mais ou menos uma semana que Pedro havia me mandado aquela mensagem no facebook e, logo depois, eu o bloqueei nessa e em todas as outras redes sociais. Então eu realmente não sabia se ele havia mandado mais mensagens para mim depois disso. E se eu ligasse para ele e Pedro pensasse que tinha alguma possibilidade de eu querer que ficássemos juntos de novo?

Não, não. Eu não iria ligar.

***

À noite, estávamos eu, Bia, Lídia, Vinícius e Vítor sentados em um boteco qualquer conversando sobre os problemas da semana. Quero dizer, eles estavam conversando sobre os problemas da semana, porque eu simplesmente fingia prestar atenção; minha concentração estava péssima.

Lídia, cuja barriga já estava visivelmente bem maior, nos dizia que iria contar para os seus pais da gravidez esse final de semana. Beatriz, por sua vez, falava dos seus problemas na faculdade – ela estava quase reprovando em uma matéria. Já os meninos, apenas escutavam o que elas diziam.

- ... Aquele professor me odeia, sinceramente. Ele tira ponto por nada nas minhas provas. A Ana até está de prova, não é? – Ela olhou para mim, esperando que eu desse uma resposta.

- Annn... É, claro.

Bia olhou para mim, como se estivesse me vendo pela primeira vez.

- Ana, o que está acontecendo com você? Está super estranha já faz uns dias... – Todos estavam olhando para mim agora.

- Pois é. Você nem trouxe o seu grude hoje, Ana. – Lídia falou brincando, se referindo a mim e Luís.

- Ah. Eu e ele terminamos.

Tomei meu suco enquanto eles falavam que sentiam muito, que ele era um babaca e, graças a Deus, ninguém perguntou o porquê do término.

Eu não queria falar com ninguém sobre todos os problemas que estavam tomando os meus pensamentos de dia – e de noite. Ninguém entenderia o fato de que eu queria, com todas as minhas forças, saber aquele segredo que meus pais estavam escondendo de mim, mesmo tendo plena noção de que a sensação ruim que eu sentia era o meu sexto sentido afirmando que era melhor eu deixar todo esse assunto de lado.

Tomei mais um suco. Eu iria dirigir de volta para casa e sabia que se colocasse uma gota de álcool na minha boca, não pararia em apenas um copo.

- Que pena. Luís é um cara decente. – Vinícius disse. Ele conhecia meu ex-namorado há muito tempo, já que seu irmão havia sido muito amigo de Luís ainda no tempo que existia a banda "Sírius".

- Hmm... Você quer dizer agora, né? Porque ele era um puto antes. – Vinícius fez uma cara de surpresa.

- Sim, ele teve seus tempos ruins, mas...

- Me poupe das desculpas. Luís é um cara que não confia em ninguém, acha que todo mundo é como ele era antes. E eu não quero nada com uma pessoa que não confia em mim e, por isso, fico feliz de termos terminado.

Vinícius não falou nada. Ele ficou me encarando, provavelmente vendo a tristeza em meus olhos e percebendo que a "felicidade" que eu disse estar sentindo era uma completa mentira.

Não importava. Eu realmente não queria pensar que eu ainda amava um cara que não tinha um pingo de confiança na minha palavra. E, além disso, eu tinha que focar em descobrir o que meus pais estavam escondendo de mim. E com certeza chorar por amor não iria me ajudar nesse momento. Eu simplesmente não iria permitir que esse sentimento de carência que eu tinha me influenciasse em todas as minhas escolhas até o resto da minha vida. Portanto, eu não iria implorar para que Luís confiasse em mim e, com certeza, também não iria chorar por ter perdido ele.

"Queixo erguido", pensei.

Foi com esse pensamento de que não deixaria nenhum sentimento me abalar que eu decidi. Eu tentaria de tudo para descobrir o que estavam escondendo de mim, e isso incluía ligar para o maior traidor da Terra: Pedro.

***

A primeira chamada caiu na caixa postal. A segunda também. Já estava quase desistindo da terceira quando uma voz conhecida – e sonolenta – atendeu.

- Alô? – Fiquei um ou dois segundos segurando a respiração. – Tem alguém aí?

- Pedro? – Quase pude ver sua expressão de surpresa.

- Ana?! Eu... eu pensei que você não iria me ligar mais... Eu...

- Eu não quero ouvir suas desculpas esfarrapadas, Pedro. Na verdade, estou ligando porque, infelizmente, você é o único que pode me ajudar no momento.

- O que aconteceu? – Ele demonstrava uma certa preocupação na sua voz.

- Eu... eu não sei. É por isso que estou te ligando. Descobri que meus pais estão escondendo algo de mim, algo que muito provavelmente vêm de anos atrás, então...

- Então como eu praticamente morava na sua casa nos últimos anos, você imaginou que eu poderia te ajudar.

- Si... sim.

- Você tem que me contar o que exatamente você está procurando, Ana. Assim eu posso saber melhor o que eu devo me lembrar. Acho melhor nos encontrarmos.

- O quê?! Não, eu não acho que isso seja...

- Eu sei que você me odeia. Eu não sou um idiota. Ok, talvez eu seja. Mas o que eu quero dizer é que eu vou te ajudar de todo o jeito que eu puder, porque eu sei que isso é importante para você. – Ele deu um riso sem graça. – Se não fosse importante você nem estaria me ligando, não é? Enfim, eu sei de algumas coisas que irão te ajudar, eu acho.

- Tudo bem. Eu posso ir para Jataí daqui uma ou duas semanas, mais ou menos.

- Não, eu vou para Goiânia. Fica melhor para nós dois. Eu preciso resolver algumas coisas aí na capital. Vamos nos encontrar segunda que vem. Tudo bem?

- Tudo bem. – Eu disse, como se concordasse com a minha morte.

Eu iria encontrar Pedro. Eu iria conversar com ele, o maior traidor da minha vida. Não, com certeza nada estava bem.


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Uhuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuul!

10 k!!!

Muito obrigadaaaa!!!

Tenham um ótimo dia :)

Corações AflitosOnde histórias criam vida. Descubra agora