Capítulo 41

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Meus pais haviam saído de casa quando eu cheguei. Ainda bem, porque eu estava sem chão. Não sabia mais o que estava acontecendo, com o que eu estava lidando.

Eu precisava... eu precisava conversar com alguém. Precisava urgentemente desabafar... mas com quem? Meus pais, minhas amigas? Eu não podia contar mais com os meus pais, minhas amigas não saberiam lidar com isso, provavelmente iriam ficar com pena de mim e logo se afastariam. A única pessoa que vinha a minha cabeça era... Pedro.

Sim, ele era um babaca. Sim, eu nem deveria considerar ele como um amigo. Mas eu tinha que admitir que ele era o único que estava me ajudando a desenterrar essa história de uma vez por todas. Eu deveria ligar para ele? Não. Mas eu queria? Sim, eu queria conversar com alguém.

Não tardei em pegar o celular e discar o seu número.

- Alô? Analu?

- Oi, Pedro – Eu disse quando ele atendeu a minha ligação. – Eu não quero que você pense que eu te perdoei ou algo do tipo, mas estou precisando muito de um amigo agora. Será que... que você poderia vir aqui em casa para a gente conversar?

O telefone ficou mudo. Eu não entendi se ele não estava falando nada por surpresa ou porque ele não queria falar não para uma menininha fragilizada.

- Tá tudo bem se você não quiser vir, eu entendo perfeita...

- Eu já estou indo. Chego aí em quinze minutos.

- Ok. Ann... e Pedro...

- Quê?

- Obrigada.

***

Pedro chegou dentro dos quinze minutos que ele havia dito. Não queria admitir para mim mesma, mas fiquei muito aliviada quando eu ouvi a campainha tocando.

- Oi – Eu disse, meio cabisbaixa. Pedro entrou e a primeira coisa que fez foi me abraçar.

Se fosse ontem, eu não teria aceitado o abraço. Mas hoje eu estava simplesmente cansada demais de tudo para me importar se eu deveria ou não o abraçar.

- Oi. Eu não sei o que aconteceu, mas você sabe que pode contar comigo, não é?

- Sim...

- Ana, eu falo sério. Sei que você ainda não me perdoou e que você ainda tem receio de mim, mas eu quero o seu bem.

- Eu ainda tenho raiva de você, Pedro... Mas não posso desconsiderar o fato de que você é o único que está do meu lado nesse momento. Muito obrigada por isso.

Eu tentei não pensar em Luís. Mas foi em vão, é claro. Eu desejei que fosse ele que estivesse aqui comigo. Desejei que nada tivesse acontecido entre mim e Luís e que ele estivesse me abraçando nesse momento. Eu queria tanto, mas tanto que minha vida estivesse normal, como alguns meses atrás.

- Por nada.

Ficamos abraçados por alguns segundos antes de eu convidar ele para sentar no sofá.

Meus pais haviam saído e me mandado uma mensagem dizendo que iriam voltar à tarde e que era para eu almoçar fora. Como sempre, eles não me disseram para onde iam ou o que iriam fazer.

- Você conseguiu olhar as mensagens do celular dos seus pais? – Pedro me perguntou, é claro. Afinal, ele que havia me dado a ideia ontem quando estávamos conversando por mensagens.

- Sim... Eu peguei o celular do meu pai e vi um monte de ligações para um tal delegado Jonas. Aí eu fui hoje na delegacia onde ele trabalha. Ele não me disse muita coisa, na verdade. Mas pelo jeito que ele falou, eu acho... não, não... eu tenho certeza que existe algum tipo de crime grave envolvido nessa história toda.

- E você acha que você está envolvida nesse crime?

- Sim, mas como vítima. Pelo que eu entendi até agora, eu fui vítima de algum crime, meu cérebro apagou todas as memorias como uma maneira de autopreservação e meus pais escondem toda a verdade de mim desde então, achando que estão me protegendo.

- Ana, mas você não acha que... – Ele fez uma pausa e olhou no fundo dos meus olhos.

- Que o quê?

- Que talvez seja melhor você não saber de tudo. Sabe, deve existir uma razão para que nem seus pais nem seu inconsciente queiram que você saiba da verdade.

- Eu pensei nisso, Pedro... Talvez tenha sido melhor na época em que tudo aconteceu. Mas eu tenho cicatrizes! Todo o meu sofrimento interno, meus problemas comigo mesmo tem raízes, essas raízes. Eu tenho que descobrir tudo para poder seguir em frente de uma vez por todas.

- Entendo...

- Só... só me abraça, Pedro. Eu preciso muito de calor humano agora.

E foi isso. Nós ficamos vários minutos abraçados. Uma lágrima caiu do meu olho, mas eu logo a recolhi. Porém, como uma prova de todas as minhas angústias, meus olhos não tardaram a derramar dezenas e dezenas de lágrimas.

Depois do meu chororô, eu e Pedro ficamos sentados no sofá sem dizer nada ao outro. Estava claro que ele não queria ir embora e eu não queria que ele fosse.

- Você está com fome? – Ele perguntou.

- Sim. – Já era quase uma da tarde e meu estômago já mostrava sinais de vida.

- Você quer almoçar lá em casa? – Pedro fez a pergunta meio envergonhado. – Não é nenhum encontro, é só que eu não quero deixar você sozinha aqui, mas tenho que ir para casa para almoçar, prometi aos meus pais que almoçaria com eles hoje.

- Está tudo bem se você for, Pedro. Eu me viro, pode deixar.

- Não! Eu estou falando sério. Vem almoçar lá em casa, a Marina está com saudades de você. – Ele deu um sorriso tímido quando falou da Marina.

Marina era sua irmã caçula. Eu a adorava, ela era como minha irmã na época em que eu namorava Pedro. Eu tinha que admitir que estava com saudades dela.

- Tudo bem, então. Eu almoço na sua casa.


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Oi, oi, gente! O que vocês acharam da nova capa? Postem aqui comentários sobre a opinião de vocês sobre a capa e sobre o capítulo!!

Beijinhos e bom final de semana para todos!

Corações AflitosOnde histórias criam vida. Descubra agora