Capítulo 43

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Uma semana havia se passado desde que eu havia ido à casa de Pedro. Nesses dias, a minha rotina tinha sido a mesma: acordar, ficar enrolando na cama em negação, comer, viver um pouco (considere isso como assistir TV em qualquer canal e olhar para o teto) e dormir de novo. Eu continuava mantendo contato com minhas amigas de Goiânia, mas parecia que tudo estava diferente. Eu estava diferente.

Minha vida estava de cabeça para baixo. Eu havia descoberto que não só meus pais escondiam segredos de mim, mas eu mesma escondia verdades do meu próprio consciente. O cara que eu amava e que pensava em grande parte do tempo nem ao menos confiava em mim, e, o pior, o considerado por mim como o maior traidor de todos os tempos estava virando algo como um amigo.

Tudo estava complicado, a minha vida estava arrasada, e eu ainda nem havia descoberto o que era de tão aterrorizante que meus pais escondiam de mim. Assim, eu achei refúgio no traidor, mais conhecido Pedro. Admito, eu tinha que parar de chamar ele de traidor na minha cabeça, apesar de ser verdade.

Fato era que eu havia prometido que tentaria perdoá-lo, mas, depois da nossa conversa na sua casa, eu havia refletido muito. Eu sabia que Luana era manipuladora e normalmente conseguia o que queria, então havia uma grande probabilidade dela ter colocado minhocas na cabeça do Pedro, fazendo ele até me odiar por motivo nenhum. Mas isso não era desculpa para o que ele havia feito. Ele devia ter confiado em mim.

Agora, sobre o Luís, eu havia pensado muito no que Bia me disse. Eu estava com raiva dele e, sinceramente, pelas suas duras palavras naquela nossa última fatídica conversa, eu nem sabia se ele queria ouvir conselhos ou qualquer coisa, na verdade, vindos de mim. Eu amava ele, com certeza, mas não queria por a minha cara à tapa por um cara que nem ao menos confiava em minhas palavras. O que me doía era que eu havia apoiado tanto ele, mesmo em momentos difíceis quando ele me contou verdades difíceis... Isso pareceu não importar nada naquele dia...

Era melhor eu parar de pensar nisso, senão eu ia chorar de novo, e, sinceramente, eu não aguentava mais chorar. Ultimamente, qualquer coisa que eu fazia ou pensava me dava vontade de deixar cair as lágrimas acumuladas no fundo do meu ser.

Aquele dia seria diferente, eu havia tomado uma decisão.

Eu iria confrontar meus pais, de uma vez por todas.

O delegado Jonas havia me dito para procurar ajuda psicológica, mas a terapia poderia demorar meses até que me desse pistas do que está e esteve por muito tempo acontecendo comigo. Isso não fazia sentido quando todas as minhas respostas estavam na mesma casa que eu vivia, na mente dos meus pais.

Já era bem tarde, quase hora do almoço quando eu acordei, por isso, fiquei no meu quarto até a hora do almoço. Minha mãe veio me avisar no meu quarto que o almoço estava pronto. Eu desci as escadas lentamente pensando exatamente as palavras que usaria. Era ali, naquele dia, naquela mesa de jantar que eu encarava, que as coisas mudariam para sempre.

***

Todos já estavam almoçando quando eu comecei a falar.

- Mãe, pai. Eu estava pensando como a falta de confiança ameaça uma relação. Vocês sabe que eu amava o Luís e porque ele não conseguia confiar em mim, nós terminamos de forma trágica.

- Sim, querida, nós sentimos muito. Mas relacionamentos são assim mesmo. Alguns dão certo, outros não. – Minha mãe fez uma pausa antes de continuar. - Mas você sabe que pode contar comigo e com seu pai para o que der e vier, né?

- Não – Eu disse simplesmente. É claro que me lembrei exatamente dessa mesma palavra, mas quando saída da boca de Luís. Me recompus, consegui não derramar nenhuma lágrima com essa imagem na minha cabeça, algo bem difícil. – Eu não acho que dá pra contar com você ou com meu pai. Vocês mentem para mim e escondem coisas de mim. Parece que vocês não confiam que eu posso superar toda essa situação que eu passei.

- Coo...como assim, filha? – Meu pai perguntou.

- É, pai. Eu já descobri tudo!

- Como que... vo... você encontrou com ele? – Minha mãe perguntou, à beira das lágrimas.

Minha mente travou uma batalha naquele momento. Eu poderia continuar com aquele jogo e talvez meus pais acabassem soltando a verdade ou eu poderia continuar com o que eu tinha previsto antes, que era obrigar eles a me contarem ou ameaçar eles de que eu sairia de casa e nunca mais voltaria (uma ameaça que eu iria cumprir de verdade!).

Decidi jogar o jogo deles.

- Eu... Eu não encontrei ele, ele me encontrou. – Nem sabia do que estava falando, mas imaginei que esse cara deveria ser o tal criminoso que me traumatizou.

- Ai, Meu Deus!! – Minha mãe começou a chorar compulsivamente.

- Onde ele está, filha?? – Meu pai me perguntou, até mesmo com uma certa brutalidade no olhar. Parecia até que ele ia matar o sujeito se encontrasse ele na rua.

- Eu não sei...

- Você precisa me falar, Analu. Esse cara tem que ir pra prisão! Nós nunca te falamos, mas o que ele fez com você, ele... ele fez com várias outras garotas também. Ele é um perigo para a sociedade!

Foi ali que eu congelei.

Aquilo que meu pai acabara de falar indicava claramente um crime, um crime perverso e nojento: estupro. Será mesmo que eu havia sido estuprada e nem me lembrava de nada? Meu Deus!

Existia uma parte da minha vida, por volta dos onze, doze anos de idade, que eu não me lembrava. Eu sempre achei que fosse normal, quero dizer, não aquele negócio do cérebro meio que deletar do seu consciente as memórias? Achei que não tinha nada de mais eu ter perdido quase dois anos de lembranças. "Vai ver que nada de importante aconteceu naquela época", eu falava para mim. Parece que eu nunca estivera tão enganada na minha vida.

Mas se aquilo era verdade. Se eu realmente havia sido estuprada, quem era o criminoso de quem meus pais tanto me protegiam? E porque todo esse drama voltou agora, quase sete anos depois?


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⏰ Última atualização: Nov 17, 2018 ⏰

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