Capítulo 8

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- Olha, eu vou ser sincera. Eu gosto de você, mas eu não quero entrar em um relacionamento sério agora. – Eu disse.

- Ah, vamos! Vai ser apenas um jantar entre amigos – Eu e ele sabíamos que não seria nada entre amigos, seria – com certeza – algo mais. – Nós jantamos e você vai para sua casa e eu para a minha.

Eu queria jantar com o Luís. Apenas não queria que ele achasse que havia alguma chance de acontecer alguma coisa mais séria entre a gente no momento.

- Tudo bem – Eu sabia quais as consequências dessa frase. Ele acharia que eu estava brincando quando disse que não queria entrar em um relacionamento, tentaria conseguir meu número de celular e "bum", uma semana depois já estaríamos de mãos dadas no cinema. – Mas eu tenho uma condição: você não vai pedir o meu número de celular. – Lembrei-me de que ele também sabia onde eu morava – Na verdade, duas condições. A outra é que você não vai bater na porta do meu apartamento só porque me levou pra jantar e já se acha íntimo o suficiente.

- Tudo bem – Ele disse, com um sorriso estranho no rosto. Ele estava tramando algo.

- E você não vai se consultar com o Dr. Rafael? – Ele fez um sinal de não com a cabeça. – Então, por que você está aqui?

- Eu queria falar uma coisinha com ele.

- Ele já deve estar saindo. Eu era a última paciente, ele deve estar só arrumando papeis, essas coisas. Se você quiser conversar com ele, eu espero.

- Não é nada demais. Deixa pra lá. Vamos embora?

Aquela vontade de ir embora era estranha. Porque ele não conversava logo com o psicólogo? Tinha alguma coisa que ele não estava me contando.

- Afinal, você é paciente dele ou o quê? – Disse, já desconfiada.

- Pode se dizer que eu sou um paciente. Mas agora eu estou com fome e o assunto não era importante mesmo. Vamos?

Eu não gostei nada daquela conversa. Estranho, muito estranho. Mais esquisito ainda era o jeito sorridente que ele estava agindo depois que saímos da sala de visita em direção ao carro.

Eu peguei meu carro, que estava estacionado no estacionamento na frente do prédio onde era o consultório, e ele pegou o dele. Seu carro branco era um sedan completamente estilizado. Listras brancas acompanhavam toda a lateral prateada do carro. O capô era preto e o interior, pude ver de longe, era de couro bege. Um automóvel realmente único.

Fui seguindo ele até chegarmos em um restaurante de frutos-do-mar. Ainda bem que eu era uma fã de carteirinha de camarão e peixe! Estacionamos e fomos para dentro do recinto. Alguns anos atrás, eu havia ido nesse restaurante com os meus pais, em uma comemoração de treze anos de aniversário. Eu ganhei um celular novo que eu queria muito, se me lembro bem. Foi uma noite agradável, como essa – eu esperava – iria ser.

- Você gosta de frutos-do-mar? – Luís me perguntou antes de adentrarmos.

- Se eu gosto? Eu amo! Camarão é uma das minhas paixões.

- Que bom, porque aqui tem um dos melhores pratos de camarão que eu já experimentei.

Sentada em frente a ele, percebi o quanto ele era bonito. Seu cabelo fazia um topete natural fofo, seu rosto com traços fortes eram demarcados pela barba que começava a nascer. Tudo ainda realçava seus olhos escuros.

- Você não me disse qual é o seu curso. Quero dizer, eu presumo que você esteja fazendo faculdade. – Luís disse.

- É. Eu faço faculdade de jornalismo na UFG. E você? Faz o quê da vida?

- Eu faço engenharia civil. Mas eu também sou músico nos tempos livres.

- Sério?! Nossa. E o que você toca? Piano?

Ele começou a rir.

- Não, não. Na verdade, eu toco guitarra, bateria e também canto.

Fiquei chocada. Ele me parecia ser o cara que, se um dia sonhasse em seguir a carreira de músico, seria mais voltado para o piano ou outros instrumentos mais clássicos. Agora, rock? Não. Isso não era muito a cara dele.

- Por que você está tão surpresa? – Ele disse. – Eu posso ser um ótimo cantor de rock, as aparências enganam.

- Eu não duvido mais de nada – Disse rindo. – Se você me dissesse que tocava arpa eu ficaria menos surpresa. Quero dizer, você não se veste, não se comporta como um rockeiro.

- Acredite, eu nem sempre fui assim. É que algumas coisas aconteceram na minha vida e eu decidi que o jeito que eu vivia não era mais certo. – Quando ele falou aquilo, o remorso que eu vi no seu rosto foi tão intenso que nem tive coragem de lhe perguntar o porquê da mudança.

O jantar, como esperado, estava delicioso. Pedimos "Camarão Internacional", um prato muito requerido no restaurante. Na hora de pagar a conta, comecei a procurar a minha carteira na bolsa.

- O que você está fazendo? – Luís me perguntou.

- Uai. Nós vamos rachar a conta. É isso o que os amigos fazem. Apenas amigos, se lembra?

Ele deu um sorriso e falou:

- Analu, guarde essa carteira. Somos apenas amigos, por mais que eu queira algo mais, mas não vou deixar você pagar a conta. Eu me sentiria ofendido.

A primeira coisa que eu notei foi que ele me chamou de Analu. Eu estava tão desacostumada com o meu nome de batismo – mesmo com os meus pais o usando a todo momento – que estranhei quando ele me chamou assim. Também era perceptível que ele não ficaria chateado se eu insistisse e rachasse a conta. Ele apenas queria fazer o papel de cavalheiro e, quem sabe, conseguir me conquistar. Mas eu não cairia tão rápido, amigo! Seria necessário muito mais do que uma conta paga para me conquistar.

Por fim, deixei ele pagar a conta.

***

- E vou te acompanhar até a sua casa por... questões de segurança – Luís me disse.

Ele me seguiu até o meu apartamento. Eu deixei que ele fizesse isso apenas porque ele já sabia meu endereço mesmo; não iria mais fazer diferença.

Estacionei na frente do meu prédio e desci do carro para me despedir dele. Fui até a janela do motorista.

- Obrigada. Por tudo. A noite foi maravilhosa. Mas eu não esqueci das suas promessas, ouviu bem? Nada de aparecer tocando a minha campainha.

- Ok – Ele disse rindo. – A gente se vê por aí. Quem sabe a gente não se encontra no consultório do Dr. Rafael.

- Tchau – Eu disse, ignorando o seu último comentário.

A noite realmente havia sido maravilhosa. Luís era muito bom de papo e, logo depois que começamos a conversar, eu já estava dando gargalhadas em cima de gargalhadas. Mas eu não queria me deixar levar. Seria um erro deixar nosso relacionamento progredir, porque eu estaria enganando, além de mim, ele também.

A verdade era que depois do namoro com o Pedro, a minha confiança nos homens havia quase sumido, para não dizer desaparecido de vez. Não deveria haver outro jantar entre nós antes de eu estar recuperada novamente. Eu tinha que me afastar, mesmo sabendo que uma parte de mim queria outra coisa.


RECADINHO

Oi, gente! Eu gostaria de dizer muito obrigada a todos que estão acompanhando a jornada da Analu e pedir para você, leitor, comentar e votar, porque, além de ajudar a divulgar, me faz muito feliz :)

Corações AflitosOnde histórias criam vida. Descubra agora