Capítulo 34

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Eu fiquei um bom tempo sentada naquele banco, pensando em tudo o que estava acontecendo. Cheguei à conclusão de que eu não deveria me meter no meio do que é que estivesse acontecendo entre minha mãe e meu pai. Eles que tinham que entrar em um acordo. E eu esperava que a solução envolvesse toda a verdade sendo exposta.

Fiquei tanto tempo parada, com meus joelhos dobrados e molhados pela quantidade de lágrimas, que visualizei meu pai dobrando a esquina, rumo ao meu apartamento. Provavelmente já tinha mais de hora que eu estava ali.

Caminhei de volta para a minha casa e, chegando lá, encontrei meu pai conversando com o porteiro, provavelmente dizendo para qual apartamento estava indo. Eu disse ao porteiro que era o meu pai e que ele podia autorizar sua entrada.

- Então... Como está a sua mãe? - Meu pai perguntou, enquanto esperávamos o elevador chegar.

- Nada bem.

- Ela falou do porquê estar nesse estado? - Sua testa estava franzida de preocupação.

- Não. Mas eu tenho as minhas suspeitas e eu não quero falar com você sobre isso, pai. Eu acho que você tem que conversar com a minha mãe e resolver tudo. Ah, e também acho que devemos começar a olhar uma clínica de reabilitação para ela, assim...

- Clínica de reabilitação?!

- Sim. Uma clínica de reabilitação - Meu pai parecia surpreso com a minha proposta, mas era a melhor estratégia, não é? Quero dizer, minha mãe me disse que não era a primeira vez que ela fumava um baseado.

- Eu não acho que isso é necessário, Analu. Sua mãe não é uma viciada.

- Como você pode acreditar nisso?

- Porque eu confio nela.

- Você acredita nela? Como você consegue acreditar nela depois de tudo... - Eu não deveria falar sobre a traição. Minha mãe iria falar. Ela tinha que falar.

- Tudo o quê?

- Nada. - Menti.

- Ela te contou - Meu pai não me perguntou, ele afirmou. Como eu não falei nada, ele continuou. - Ela me traiu e eu sei tudo sobre isso, Analu. Sua mãe não guarda segredos de mim.

- Mas, eu acho que ela te traiu de novo. Quero dizer, por que o outro motivo ela ficaria nesse estado? - Desembuchei. Não consegui resistir. Afinal, como meu pai conseguia ainda confiar na minha mãe?!

Meu pai, com os olhos marejados, me encarou. Foi naquele momento que eu percebi. Meu pai estava escondendo algo de mim. E provavelmente era o motivo por de trás de toda aquela confusão da minha mãe.

- Algumas coisas devem ficar escondidas - Ele disse, me implorando com os olhos para que eu entendesse aquela frase.

Eu não perguntei nada sobre o significado misterioso de que ele falava. Senti que não devia. Talvez fosse pela sua expressão ou pelo fato de minha mãe estar usando drogas ou até mesmo algum tipo de sexto sentido, não sei. Apenas sabia por algum motivo que eu não queria saber a razão de toda aquela confusão, mas que, mais cedo ou mais tarde, eu descobriria.

Já dentro do meu apartamento, meu pai pediu para que eu fosse para o meu quarto enquanto ele conversava com a minha mãe. Fiz o que ele pediu. Entretanto, tenho certeza que eles não contavam com o fato de minha audição ser extremamente aguçada.

- Ela não pode saber - Minha mãe sussurrou.

- ... ficar um tempo aqui... Levá-la para Jataí é uma péssima ideia... - Consegui captar apenas pedaços do que meu pai falava.

- Eu não uso... apenas em crises como essa... você sabe... Analu é a vítima... - Agora era a voz da minha mãe que eu captava.

Eu? Vítima? Como assim??

Depois do que pareceu uma eternidade, alguém bateu na porta do meu quarto. Eu abri o único bloqueio que me deixava fora de toda aquela conversa maluca. Senti que eu estava desprotegida.

- Analu? - Era o meu pai. - Vem aqui na sala. Eu e sua mãe queremos conversar com você.

- Vamos ficar aqui por mais uma semana, tudo bem? Precisamos resolver alguns problemas. Sem contar que sentimos muito a sua falta - Minha mãe me disse. Estávamos na sala e, mesmo com o rosto marcado por lágrimas, ela me deu um sorriso cúmplice.

Apenas assenti. Estava chateada com a minha mãe por tudo o que estava acontecendo, inclusive pelo fato de ela estar escondendo algum tipo de segredo de mim (algo que pelo o que eu ouvi, me envolvia e até me colocava em posição de vítima).

"O que poderia ser tão sério assim?", me perguntei.

Se minha mãe não estava traindo meu pai e todo o seu uso de drogas era proveniente do peso de estar escondendo um segredo que potencialmente me envolvia, eu devia ficar preocupada, não é?

Sim, eu devia.

Foi por isso que eu sorri de volta para os meus pais, como se nada estivesse acontecendo. Porque eu iria descobrir toda aquela rede de verdades e mentiras e os usaria para isso. 

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Oi, galera, tudo bem? Espero que sim!

Aqui está mais um capítulo para vocês! Muito obrigada pela leitura! Não se esqueçam de votar e comentar. Vcs são os melhores, beijocas! 

Corações AflitosOnde histórias criam vida. Descubra agora