Capítulo 37

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Eu não estava preparada. Com certeza, eu não devia ter entrado naquele restaurante, com as mãos tremendo e suando, o coração batendo rápido e o estômago quase saindo pela boca. Pedro não merecia nada que viesse de mim, nem mesmo o meu nervosismo, nem mesmo a visão da maquiagem que eu estava usando.

Eu havia adicionado ele de novo nos meus contatos e, então, havíamos combinado de nos encontrar em um restaurante de frutos do mar que tinha no centro da cidade. Mas eu havia dito a ele que não planejava ficar muito tempo, só queria mesmo era saber se ele podia me ajudar.

Contudo, mesmo sabendo que meu coração ainda estava repleto de raiva de Pedro, eu estava nervosa. Nervosa pela possibilidade dele me decepcionar de novo. Nervosa porque iria conversar de verdade com ele. Nervosa porque eu não queria sentir nada por ele e sabia que ainda sentia algo, mesmo que fosse um sentimento praticamente escondido.

Ele estava na última mesa do restaurante e olhava fixamente para o cardápio. Pedro só levantou os olhos e viu minha presença quando eu já estava sentada na sua frente.

- Oi, Ana – Ele abriu um sorriso sincero.

- Oi.

- Estou feliz que você tenha vindo. – Eu não respondi. Fiquei meio envergonhada e com um pouco de raiva da veracidade que suas palavras emanavam.

- Eu... Você sabe o porquê de eu estar aqui, Pedro. Eu só quero saber o que você sabe, nada mais.

Lentamente o seu sorriso desapareceu.

- É, eu sei. Mas não custa ter esperanças... Enfim, acho melhor pedirmos o prato logo, aqui é meio demorado – Ele comentou.

Pedro chamou o garçom e nós fizemos os nossos pedidos.

- Hum. Você já veio aqui antes? – Pelo que eu sabia, Pedro havia vindo poucas vezes à Goiânia. Ele mal saía de Jataí.

- Sim, eu já vim aqui algumas vezes. – Ele me encarou, seus olhos emanando um sentimento que eu não entendi. – Eu... eu estou pensando em me mudar aqui para Goiânia.

- O quê?! – Estava chocada. Como assim??

- Ah.. não sei... Eu sempre achei que veterinária era o que eu queria, mas não tenho mais certeza. Já estamos em dezembro, o ano está quase acabando e eu comecei a pensar se eu queria cuidar de animais para o resto da vida. Cheguei à conclusão de que eu gosto muito de animais, de cachorros, principalmente. Mas não tinha certeza que eu queria aquilo para minha vida mesmo. Então, um dia eu estava com... – Ele desviou os olhos antes de continuar. – ... Uma amiga. E o pai dela é dono de uma construtora lá em Jataí. E ela estava me contando de uns projetos que a construtora do pai dela vai ajudar a construir e eu realmente fiquei interessado. Então, eu comecei a perceber que desde criança eu gostava de montar coisas, de construir. E que talvez fosse isso a minha vocação: Engenharia Civil.

Não tinha como piorar. Pedro fazendo Engenharia Civil? Se ele fosse parar na UFG, Luís seria o seu veterano. E eu tinha um pressentimento que os dois não iriam se dar bem.

- Hum...

- Meu pai conhece um dos donos de uma grande construtora aqui em Goiânia, então de vez em quando eu estou vindo aqui acompanhar uma obra ou outra, ver se é isso mesmo que eu quero.

- Mas você vai começar a fazer Engenharia Civil ano que vem?

Acho que ele viu ou sentiu o meu desespero. Eu não queria encontrar Pedro na cidade, eu não queria ter medo de encontrá-lo quando eu fosse ao parque ou ao supermercado. Já era bem suficiente eu ter que conversar com ele hoje.

- Não é certeza... Mas vou fazer o ENEM de novo e se eu passar aqui na federal, vou vir para cá. Mas também tem outras faculdades aqui que oferecem o curso, então eu não sei para onde vou.

- Ah, tá. Bom, eu não sei o que dizer...

- Ana, eu sei que você não gosta muito de mim e eu prometo que se eu vir morar aqui, não vou te incomodar. Eu te quero e você sabe disso, mas eu não vou ficar te perseguindo.

Eu não acreditava naquilo. Pedro era alguém que não desistia fácil. Antes de começarmos a namorar, por exemplo, ele insistiu muito para que eu aceitasse sair com ele. Não queria pensar no que poderia acontecer se ele fosse morar aqui ano que vem.

- Tá bom. Olha, eu espero que você decida o que é melhor para você, de verdade, Pedro... Mas nós estamos aqui por uma razão e não para falar de você. – Ok, talvez eu estivesse sendo um pouco grossa, mas não queria pensar na possibilidade de ele morar em Goiânia. – Eu vou te contar o que eu sei e eu quero que você pense se pode me ajudar.

Eu contei tudo a ele. Desde quando minha mãe chegou drogada até quando eu almocei com os meus pais no hotel em que eles estavam hospedados – eles haviam voltado para Jataí no final de semana e eu não havia conseguido mais nenhuma pista.

- Nossa – Ele disse, pensativo, quando eu terminei de contar toda a situação. – Realmente, tem algo acontecendo aí. Mas, bom, não acho que eu possa te ajudar, Ana. Sinto muito. – Seu olhar me pedia desculpas.

- Mas você disse no telefone que sabia de algo que podia ajudar...

- Eu sei. E achei que podia te ajudar mesmo. Mas você já sabe do que eu sei.

- O que você sabe?

- Bom... Era sobre a traição da sua mãe. Ano passado eu estava na sua casa e seus pais começaram a discutir e eu ouvi seu pai dizendo a ela algo como ela ter traído ele com um adolescente. Mas você já sabe...

- Adolescente?! Eu não sabia que tinha sido um adolescente. – Tampei os olhos com as minhas mãos. Minha mãe havia transado com um adolescente? Meu, Deus. A situação era pior do que eu pensava.

- Sinto muito... Enfim, além disso, eu não sei de nada. Mas eu posso te ajudar nisso. Eu moro em Jataí, posso entrar na sua casa e procurar alguma pista. Você só precisa me dar a chave da sua casa.

A oferta era tentadora. Mas... Pedro? Na minha casa? Não parecia uma ideia muito boa. Pensei no que eu poderia fazer além disso e não me veio nada. Pedro era realmente minha última esperança. Ele voltaria amanhã para Jataí, procuraria pistas e, se encontrasse, eu poderia resolver toda essa situação. Poderia descobrir o que meus pais escondiam de mim.

- Ok. Mas você não vai entrar no meu quarto. Se eu descobrir que você esteve no meu quarto na próxima vez que eu estiver em Jataí, vou te castrar. Entendeu?

Ele riu e assentiu positivamente. Não sei o porquê da risada, já que eu estava falando sério. Não queria nem imaginar Pedro entrando novamente no meu quarto, como se ainda estivéssemos no ensino médio e eu ainda não tivesse descoberto que ele era um babaca. Seria o fim da picada.

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Oi, oi, gente!

Desculpem não ter postado durante a semana! Eu realmente não tive tempo :( 

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Corações AflitosOnde histórias criam vida. Descubra agora