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Cheguei em casa, entrei e meu pai estava chorando na mesa, com a mão na cabeça.
Sentei ao lado dele.
-Pai, o que aconteceu?
-Eu sou um péssimo pai.
-Ei... -Limpei suas lágrimas.-Você é o melhor pai do mundo! Por que está dizendo isso?
-Eu não trabalho...
-Como assim? Você é a pessoa mais trabalhadora que já vi na vida.-Disse pegando os pratos e colocando na pia.
-Não...
-Não se culpe pai, juntos vamos conseguir dar a volta por cima.-Sorri pra ele.
-Eu realmente não trabalho.
Sentei do lado dele. Agora estou mais preocupada. Ele foi mandado embora?
-Pai, você foi demitido?
-Não. Não fui demitido por que nunca trabalhei.

Tá, agora eu estou extremamente confusa.
-Como assim?
-Toda noite eu vou naquele bar fingir que estou trabalhando... Fico bebendo, desde que sua mãe morreu.
Uma lágrima rolou pelo meu olho esquerdo.
-Mas e o salário que o senhor sempre traz pra casa?
-São empréstimos de um amigo. Ainda não terminei de pagar.
-E como você tava pagando?
Ele olhou pros meus olhos, seus olhos estavam todos vermelhos, e lacrimejando.
-Com... O dinheiro que você ganhava na lanchonete.

Agora meus olhos que estão vermelhos e lacrimejando.
-E o tratamento do Daniel?
-Eu ainda não paguei...
-Nem a primeira parte, pai?
Ele balançou a cabeça para os lados.

Subi para o meu quarto.
Como ele pôde fazer isso?
Ele deve estar devendo muito dinheiro pro amigo dele.
Achei que já estávamos quase pagando o tratamento.
Deitei na minha cama e comecei a chorar, não de decepção, mas de raiva.

Depois de tanta raiva, meus olhos se fecharam.
Quando os abri, vi o horário, e já estou atrasada pra escola!!!
Nem tomei banho, vesti minha roupa, fiz um rabo de cavalo rápido, e levei uma maçã pro lanche,pois não ia dar pra escovar os dentes novamente.

Fui correndo pra escola, a primeira aula é entrega de trabalho, se eu não chegar a tempo de entregar tenho que fazer recuperação, e eu não estou nada afim de fazê-la.

Cheguei lá na escola e faltam 2 minutos pra tocar o sinal ainda, me sinto a pessoa mais rápida do mundo.
Coloquei minhas mãos em meus joelhos, e limpei meu suor.
-Estava participando de uma maratona de corrida, é?
Olhei pra trás e era o Brooklyn.
Ri junto com ele, uma risada meio morta, pois estava sem fôlego.

Fomos até a sala juntos, ele percebeu a minha cara de tristeza, dúvida, raiva...
-Tá tudo bem?-Perguntou.
-Mais ou menos..
-O que aconteceu?
-É meu pai... Eu descobri que ele não trabalha desde que minha mãe morreu e pega meu dinheiro pra pagar dívidas... Ainda nem pagou a primeira parte do tratamento do Daniel.
-Se você quiser posso pedir pro meu pai te pagar adiantado.
Sorri e respondi:
-Não precisa.

Ele ficou me olhando, eu fiquei olhando ele...
Uma verdadeira troca de olhares, até que o professor entrou.



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