Catarina respira fundo, sentindo o ar do cemitério. Sempre gostou de ir ali com Flávio por dois motivos. Primeiro: Como raramente alguém morria, o cemitério ficava sempre deserto. Segundo: Era um lugar para os dois ficarem sozinhos.
Em diversas ocasiões, Catarina pensou em levá-lo ao lago, mas sempre desistia. Aquele lugar era só dela, um para ela ficar sozinha, era o seu refúgio. Bem, ou pelo menos era. A verdade é que, desde que voltou da competição, ela sentia que tudo estava diferente: Sua casa, o cemitério e até o lago. Demorou bastante tempo para perceber qual era o problema; tudo estava igual, apenas ela estava diferente.
Catarina não mantinha contato nem com Bella e nem com Aurora. Tentou escrever algumas cartas para Aurora, mas ela nunca respondeu. Falava apenas com Anabel, Sophia e Christian.
Este último ela tinha encontrado uma semana antes, eles passaram o máximo de tempo possível juntos, mas, para Catarina, não pareceu ser o suficiente. Ela só sentia ainda mais vontade de ficar perto dele. O que sentia por Christian parecia ficar cada vez mais forte. Ainda não conseguia se entregar totalmente, afinal nem tinha descoberto o que Flávio significava em sua vida.
Christian tinha ido ao Vale Fortaleza para o funeral de General Carlos Lutero. Era evidente que Catarina não gostava daquele homem, mas sentia muita pena da família dele. Mesmo assim, decidiu não ir ao funeral e nem ao enterro, não iria ser hipócrita fingindo que se importava, como sabia que metade do vale tinha feito.
Ao que parece, a causa da morte foi um infarto que ele deu enquanto tomava banho. Ruth havia dito há alguns meses ante que Catarina precisava ter paciência que, General Lutero revelaria tudo que ela precisava saber sobre sua mãe, mas acabou que ele morreu e Catarina não teve suas respostas. Talvez fosse melhor assim, talvez ela pudesse só dizer a si mesma que era tudo mentira e seguir em frente.
Catarina começou a ouvir os passos mansos de Flávio se aproximando, ela tem que segurar o riso, ele nunca desistiria? Também sentiu seu coração se encher de alegria imediatamente, Flávio trabalhava o dia todo, quatro vezes por semana, e só tinha folga terça, sexta e domingo. Já Catarina tinha terminado a escola normal, mas logo que acabou sua tia a enfiou em uma escola que a prepararia para ser uma boa esposa, como se ela fosse mesmo ser a esposa de alguém algum dia. Essa escola era apenas duas vezes por semana, mas um dos dias era domingo, ou seja, era um dia a menos que ela teria com Flávio.
– Buuh! – Ele grita atrás, e Catarina ri.
– Ai que medo! – Ironiza enquanto Flávio senta ao seu lado, na lápide de mármore. – Trouxe algo para você.
Ela passa um pacote de biscoitos de chocolate, e Flávio abre um sorriso.
– Meus preferidos.
– Sim, eu sei.
– Obrigada, Cat. – Ele diz e lhe dá um beijo no rosto.
Catarina estremece e seu coração dispara, como sempre disparava quando ele fazia algo do gênero. Tentava não ver isso de uma forma maldosa, amigos se beijavam no rosto, e Flávio sempre deixou claro que eles eram apenas amigos, tanto que falava das meninas que gostava para Catarina.
– Também trouxe algo para você. – Flávio tira quatro envelopes do bolso. – Essas duas... – Ele passa dois dos envelopes para ela. – são das suas amigas. Essa é do seu amigo. – Ele engole em seco ao falar "amigo". – Passei no correio e peguei.
– Por quê?
– Para você não precisar ir embora mais cedo com a desculpa de ter que pegar as cartas no correio.
Catarina abre seu sorriso mais verdadeiro, aquele que ela só abria quando estava com Flávio e, talvez, tenha acontecido quando ela estava na cachoeira com Christian.
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2 - Sobre Meninas e Desejos
Teen FictionLIVRO 2 Sinopse: "O tempo no Vale dos Lobos acabou, agora cada um precisará seguir seu próprio caminho. Enquanto alguns continuarão lutando para se manterem vivos, outros devem enfrentar diferentes tipos de batalhas. E todos terão que fazer isso p...