Capítulo 4 - Parte 3

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                A fila andou mais uma vez. Catarina tentou ao máximo captar os movimentos de Heitor, tentando decorar seus passos, mas não demorou muito para ela perceber que aquilo era inútil. Heitor não fazia muito o tipo previsível e sempre – sempre mesmo – inovava nos movimentos. Eles estavam ali há o quê? Uma hora minutos, no máximo, e ele já tinha derrotado metade da base.

Os soldados – e Heitor – estavam fazendo uma espécie de jogo. Heitor tinha dito que era uma brincadeira, uma brincadeira que valeria uma prêmio, o prêmio que a pessoa escolhesse, ele disse que se estivesse ao seu alcance tentaria fazer. O jogo consistia em uma luta de espadas. Quem conseguisse derrotar Heitor, levava o prêmio.

Catarina contou mentalmente, já tinha ido 26, só tinha ela e mais dois, ambos estavam a sua frente. Ela tinha ficado por último, para fechar a derrota com chave de ouro. Não tinha nem esperanças de vencer. Não era sendo modesta ou se colocando pra baixo, tinha melhorado muito no treinamento, e se fosse uma batalha de atirar ela ganharia, mas uma luta de espada? Tinha treinado, mas não tinha nem mantido a ilusão de que poderia derrotar Heitor.

A fila andou mais uma vez, e ela viu que tinha apenas mais um a sua frente. Começou a sentir um frio na barriga. Heitor derrotou Leniske em menos de um minuto.

– Eu não consigo entender. – Leniske diz, jogando a espada de madeira no chão. – Sou maior e mais forte, não aceito você ser pele e osso e ainda me ganhar. – Diz, mas em tom de brincadeira. Ele estava muito menos chato no tempo de treinamento, e Catarina até o achava engraçado as vezes.

Heitor gargalhou. Catarina desviou os olhos da sua risada, imediatamente, antes que começasse a pensar coisas que não se permitiu nem por um segundo. Acabou olhando para seu corpo. Ele estava sem camisa, não era um treinamento oficial então ela supôs que ele não viu problema. Ele era magro, de fato, mas não só pele e osso. Era daqueles magros definidos. Não parecia frequentar academia, mas toda a sua barriga era definida, de certo por conta dos treinamentos.

Catarina desviou o olhar mais uma vez.

– O segredo de ganhar de alguém não tem nada a ver com tamanho ou força, tem a ver com a forma que você usa as armas que tem. – Heitor diz. – Agora vai treinar e para de reclamar.

Leniske revirou os olhos e tentou fingir raiva, mas estava claramente se divertindo.

– Você me paga.

– Estou aguardando. – Heitor provoca, sorrindo. – Próximo.

O soldado que estava na frente de Catarina vai a frente, pega a espada de madeira do chão. Os dois fazem o cumprimento e iniciam a luta. Heitor o derrota, sem brincadeiras, em menos de 10 segundos.

Heitor olhou para Catarina e suspirou, mas logo ela percebeu que não tinha nada a ver com ela e sim com o fato de que ele tinha lutado com outros 28 homens, devia estar bem cansado. O que ele tinha acabado de derrotar se aproxima dela e entrega a espada.

– Boa sorte. – Ele diz. De certo, o homem deve ter acrescentado mentalmente "vai precisar"

Catarina engoliu em seco, tentando ao máximo disfarçar esse gesto e caminhou até o meio. Começou a bolar um plano na mente. Ela seria a última, logo, seria lembrada. Não mantinha a ilusão de derrota-lo, sua meta era não passar uma vergonha muito grande. Olhou para os lados rapidamente e percebeu que, aquela altura, ninguém se importava mais com as lutas. Apenas um ou dois soldados os encaravam.

Ela fez o cumprimento, que Heitor correspondeu. Entrou em posição.

– As suas ordens. – Heitor diz.

2 - Sobre Meninas e DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora