Elizabeth

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Já se fazia uma semana que havíamos nos mudado para nossa nova casa, papai estava fazendo mais uma entrega como caminhoneiro e ficaria fora por três semanas, eu ia aproveitar esse tempo para praticar piano e cuidar de minha irmã mais nova, Hanna.
Ela tinha apenas três anos, era toda pequenina e frágil, eu até tentava ensina-la a tocar piano mas ela nunca gostou então eu preferia ficar tocando sozinha enquanto ela brincava, porém de uns dias pra cá, venho percebido que aquele menino da casa à frente vem se escondendo discretamente no terreno abandonado que tem ao lado de minha casa para me escutar tocar, mas eu ignorei sua presença nos três primeiros dias que eu toquei mas decidi por fim nisso, eu comecei tocando Meet Me Halfway do The Black Eyed Peas e no primeiro verso que eu cantei eu já me auto cortei e fui até a janela:
- Eu sei que você tá aí. - Disse me apoiando naquela velha janela de madeira esperando ele sair de onde quer que ele estivesse.
- Desculpa, não era a minha intenção... eu já estou indo. - Disse ele, saindo do meio do matagal, vermelho da cabeça aos pés e dando passos largos o mais rápido que ele podia.
- Espera, eu não estou brava. - Sim, eu estava brava, porém, com pena. - Você não prefere entrar aqui do que ficar se escondendo no meio do mato? Se seu interesse for o piano eu posso até te ensinar a tocar.
- Sério? Eu adoraria! - Ele pulou a janela mais rápido do que eu pudesse pensar o porque diabos chamei o menino que ficava se escondendo no meio do mato me observando tocar piano para entrar na minha casa. Ele era bem alto, tinha heterocromia e cabelos brancos, eu realmente não tinha reparado da primeira vez que nos falamos que ele era tão estranho.
- Sem gracinhas se não eu te furo. - Ele dá risada. - To brincando não.
Ele se senta no sofá velho e mofado que tinha à frente do piano, eu tento explicá-lo o básico antes de explicar o prático do piano mas de nada adiantou porque ele não entendeu simplesmente nada, então ele pediu para eu tocar um pouco para ele observar e ver se entendia melhor e eu simplesmente fiz. Continuei tocando Meet me Halfway e ele ficou do meu lado apenas olhando.
- Acho que eu entendi agora. - Ele disse já mirando as mãos para o piano.
E com apenas três toques eu já via meu piano sendo completamente desafinado.
- Meu Deus, tá tudo errado. - Coloco meus dedos sobre o dele e parece que ele levou um choque mas manteve os dedos debaixo do meu. - Primeiro, você não soca o piano, você apenas desliza o dedo por ele. - Começo a mexer nossos dedos calmamente pelo o piano. - Não é tão complicado...
Eu tiro meus dedos de cima do deles e o deixo tocar sozinho, que foi um desastre por sinal, ele tentou por mais um tempo até desistir finalmente.
- Porque você não veio falar diretamente comigo invés de ficar se escondendo pra me ver tocar? - Perguntei enquanto íamos para a varanda.
- Eu pensei que você ou seu pai não iam reagir muito bem se o vizinho que vocês nem ao menos conheciam pedisse para aprender a tocar piano assim sem mais nem menos. - Disse ele com um olhar sério.
- Ah, e achou que meu pai ia ficar super feliz de ter um menino observando sua filha enquanto se escondia no meio do mato? - Digo meio sarcasticamente e ele ri.
- É, falando assim não parece uma boa ideia mesmo, mas eu não esperava ser descoberto tão cedo. - Ele olha em minha direção dá um sorriso meio sem jeito. - E eu também não tive como evitar, você canta e toca muito bem.
E essa simples frase foi o suficiente para deixar nós dois vermelhos da cabeça aos pés e criar um silêncio desconfortável que durou os dez segundos mais longos da minha vida até que por sorte fomos interrompidos:
- Pra quem não conversa com ninguém você tá bem sociável ultimamente hein Lysandre. - Disse um rapaz de cabelos pretos que vinha andando na rua com um sorriso um tanto malicioso.
- Na verdade... - Ele parecia meio ressentido em comentar o que havia acontecido.
- Pra resumir ele estava escondido no meio do mato e eu chamei ele para entrar. - Quando eu termino de falar o garoto já começa a tirar sarro do outro.
- Bom já está ficando tarde, melhor eu ir indo para não causar mais incomodo. - Disse Lysandre ainda mais sem jeito do que já estava.
- Ok... até mais Lysandre. - Me virei e já ia entrando em casa.
- Espera, eu nem ao menos perguntei o seu nome. - Lysandre segurou o meu braço suavemente.
- É Elizabeth. - Digo sorrindo de maneira meio boba por causa do contato físico tão inesperado.
- Eu sou Lysandre. - Ele corresponde o meu sorriso bobo sem nem mesmo perceber que eu já sabia seu nome pelo o que seu amigo havia dito.
- E o meu é Castiel. - Diz o menino de cabelos pretos estragando um momento perfeitamente fofo mas não pude deixar de ficar completamente vermelha, não pelo momento fofo mas sim pelo jeito que Castiel me olhava, um sorriso tão sincero que me esquentou de dentro para fora. - E eu vou jantar na sua casa hoje Lysandre. - E o sorriso sincero se transformou em um sorriso "malandro" assim digamos.
Lysandre desvia um olhar para ele de "queria star morta" e volta a olhar em minha direção:
- Seria um prazer se você jantasse em casa também. - Diz Lysandre, ainda segurando meu braço sem perceber.
- Melhor não... - Disse meio ressentida pela Hanna.
- A gente vai. - Disse Hanna se escondendo atrás da porta.
- Hanna! Me desculpe por ela. - Digo a pegando no colo.
- Ué, não tem problema, na casa do Lysandre sempre tem espaço para mais um, dois, três ou quantos caberem na casa. - Disse Castiel me olhando sem jeito sabe-se lá o porque.
- Por mais que pareça brincadeira é verdade, meu irmão adora visitas, ainda mais de uma menininha tão fofa e linda quanto essa. - Ele começa a brincar com Hanna enquanto eu a segurava e ela já estava quase se jogando no colo dele até que ele desvia o olhar para mim. - Claro, dessas meninas tão lindas. - Meu Deus, muito perto, MUITO PERTO.
Depois de um tempo eles acabaram me convencendo de ir, não vou negar, foi muito divertido, era um jantar entre "homens" e eu (e o um quarto de gente que é a Hanna), fiquei meio tensa no começo mas um pouco depois chegou Rosalya, namorada no irmão mais velho de Lysandre, o Leigh, que até brincou dizendo "Mas a garota nem chegou na rua direito e o Lysandre já tá assim, não perde tempo hein", todos riram e Lysandre ficou vermelho tentando se defender, quando acabamos o jantar chegou um menino loiro que simplesmente deslumbrou meus olhos, muito bem arrumado, loiro dos olhos tom de mel e eu quase me escondi atrás da mesa, por mais que eu tivesse nem três centímetros de cabelo ele estava todo descabelado, uma camiseta larga com vários furos, uma bermuda masculina e um chinelo de dedo, realmente não era a hora para eu me apaixonar.

Unbacked || Amor DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora