Lysandre

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Eu não sei o que estava havendo comigo, eu nunca fui assim, a pouco tempo atrás eu quase beijei Elizabeth, não que eu não queria beija-la, lógico que eu queria mas eu não sou assim de "chegar" em uma garota muito menos de ficar a observando as escondidas, ela mexia comigo, era visível.
Quando eu cheguei em casa queria apenas dormir mas não conseguia parar de pensar nas coisas que haviam acontecido e que amanhã eu não ia poder ver Elizabeth, eu estava com medo por ela e por Hanna, não sabia o que ia acontecer quando seu pai chegasse então apenas esperei o dia inteiro, não sai de casa, não comi, nem fui ao banheiro, apenas esperei e quando estava anoitecendo vejo o pai dela chegar, até então tudo bem, por um momento eu realmente achei que era tudo coisa da minha cabeça, mas quanto mais ia escurecendo mais barulhos iam vindo de lá, móveis sendo arrastados, pratos sendo quebrados, portas sendo abertas e fechadas, paredes sendo esmurradas, aquilo realmente estava mexendo com a minha cabeça, eu não suportava a ideia de algo ruim estar acontecendo com elas então eu liguei para a polícia...
Cerca de uma hora depois, sim, uma fucking hora depois eles apareceram lá, eu estava quase surtando quando eles bateram na porta da casa à frente e ficaram apenas 5 minutos lá e foram embora, nem entraram dentro da casa para ter certeza do que estava acontecendo, aquilo me deixou muito irritado e logo arrependido pelo o que iria vir depois... um pouco depois eu pude ouvir o pai delas gritar com Elizabeth até que as luzes da casa se apagaram, apenas a do banheiro estava acesa, eu escutava barulhos nos quais que eu não conseguia e nem queria descrever, aquilo estava me torturando de dentro para fora.
Eu passei a noite em claro esperando o pai dela ir embora e logo quando estava amanhecendo ele saiu de lá, eu não perdi tempo e fui lá ver o que havia acontecido.  Quando entrei na casa pude ouvir uma leve batida vinda da porta do banheiro, quase tão fraca que não podia ser ouvida, subi até lá correndo, a porta estava trancada, no desespero do momento eu joguei meu ombro contra a porta a arrombando, e lá estava Hanna tremendo e pálida, eu a abracei e segurei em meu colo:
- Onde está Elizabeth? - Eu a balançava em meus braços tentando acalma-lá.
- ...pa-pai voltou... - Ela respondeu tão baixo que foi quase inaudível e começou a chorar desesperada, aquilo me deu calafrios, ela não era uma criança medrosa e chorona por isso só me senti com mais medo.
Eu fui abrindo porta por porta daquela velha casa procurando por Elizabeth com Hanna ainda em meu colo chorando até que eu a encontrei, ela estava no último quarto do segundo andar, deitada em um colchão no chão imundo de sangue, ela estava em um estado deplorável, sem deixar que Hanna presenciasse aquilo eu pedi que ela fosse até minha casa ficar com Leigh e Rosalya e ela vai sem dizer nada, então eu fui até Elizabeth, minhas mãos tremiam e eu sentia como se fosse vomitar, eu não queria acreditar que aquilo realmente estava acontecendo, eu segurei o rosto dela e o virei calmamente em minha direção, ela tinha sangue seco em sua boca e seu olho direito estava parcialmente roxo, havia sangue por toda parte, sangue que veio de muitas partes de seu corpo, partes que eu preferia nem acreditar:
- Elizabeth... - Eu passo minhas mãos trêmulas pelo o seu rosto e pelos seus cabelos, pude sentir um longo corte em sua cabeça que pintou a palma da minha mão de vermelho. - ...por favor... - Ela abre um pouco os olhos e dá um sorriso fraco, seu olho direito estava com a sclera completamente vermelha.
- Eu não queria que você me visse assim... - Ela respondeu tão baixo e com uma voz tão fraca que eu mal pude ouvi-la.
Então ela fechou novamente os olhos, não sei se ela havia dormido ou apenas não tinha forças para continuar falando, escutar sua voz tão fraca e sem vida assim fez a minha visão ficar turva por causa das lágrimas, delicadamente eu a segurei em meu colo e sai daquela casa deixando um rastro de sangue por onde eu passava e fui até a casa de Castiel:
- Castiel! - Eu gritava e chutava a porta de sua casa repetidamente.
- Que... - Ele abre a porta e com uma expressão que nunca havia visto em seu rosto ele deixa cair o cigarro que estava em sua boca.
Com uma troca de olhares ele entende o que tem que fazer e da três passos para trás até as chaves do seu velho puma e nós vamos em direção ao carro, eu coloco Elizabeth no banco de trás e a deito no meu colo, Castiel sai desesperado com o carro passando direto em sinais vermelhos, o caminho era curto e mesmo com o Castiel em alta velocidade parecia que nunca íamos chegar.
Quando chegamos eu estava coberto de sangue, eu entrei no hospital desesperado para que alguém a ajudasse, pouco tempo depois veio dois enfermeiros com uma maca e a levaram de meus braços o desespero só aumentou dai em diante, o tempo estava passando e ninguém nos dava nenhuma explicação, Castiel parava cada médico e enfermeira que entrava e saía do quarto onde ela estava e ninguém ao menos nos dizia o que estava acontecendo, ele estava prestes bater em alguém quando um médico veio até nos:
- Preciso conversar com os dois em particular. - Disse ele muito sério. - ela é parente ou conhecida de algum de vocês?
- Ela é nossa amiga. - Respondi com a voz trêmula, ele me olha e pensa um pouco.
- Onde estão os responsáveis dela? - Ele perguntou.
- Ela não tem, somos apenas nós aqui.- Respondo e ele me olha com uma cara estranha.
- Bem... a amiga de vocês foi violentamente espancada e vai ficar por um tempo aqui até se recuperar por completo, os policiais já estão vindo para conversar com ela... - Ele apenas nos dá as costas e sai.
- Sério cara?! - Castiel o puxa pelo braço, visivelmente alterado. - É só isso que você vai falar? Ficamos aqui por mais de nove horas esperando por alguma resposta e não vou sair daqui até ter ela!
- Só os responsáveis, ou pelo menos alguém maior de dezoito anos, pode saber o seu laudo. - Responde o médico tentando se soltar de Castiel.
- Eu sou emancipado então acho que isso já é o suficiente! - Castiel já estava quase partindo para cima do médico.
- Ok... - O médico parecia ter mudado de ideia, não sei se era pelo o que Castiel havia dito ou por medo de não dizer e acabar sendo espancado. - Ela está com duas costelas quebradas, um rim parcialmente mutilado, a mão esquerda está quebrada e um corte de cerca de quinze centímetros em sua cabeça, entre outros cortes que estão espalhados pelo o seu corpo... a e ela quase perdeu a visão de um dos olhos... - Diz ele olhando um papel que estava em sua mão. - ... Ela foi violentada... - Com um olhar desconfortável ele termina o que tinha que dizer, era visível que ele não queria ser a pessoa a nos contar isso.
Castiel o solta em silêncio, eu senti o sangue faltar em meu corpo, eu mau conseguia respirar, eu estava me odiando, pensando no porque eu a deixei naquela casa, porque não a tirei de lá, eu me sentia um lixo...
- Vocês podem vê-lá agora. - Disse uma enfermeira interrompendo meus pensamentos. - Só tenham calma pois ela acabou de acordar da cirurgia.
- Pode ir você... - Disse Castiel sem olhar para mim e eu apenas entrei na sala.
Ela estava deitada na maca, imóvel, seus olhos eram fixos no teto, eu me aproximo dela lentamente e me sento ao seu lado.
- Oi... - Ela desvia os olhos para mim e sorri.
Por que ela sorria? Aquilo só me fazia sentir pior, eu apoiei meu rostos em minhas mãos e o esfreguei repetidamente tentando não chorar, eu não aguentava mais pensar pelo o que ela havia passado e quando voltei meus olhos para ela a vejo olhando para o teto tentando segurar suas lágrimas, seu queixo tremia e sua cara estava vermelha:
- Elizabeth... - Digo e em seguida ela se senta e me abraça com a pouca força que ainda tinha em seu corpo.
- Por favor...não diga nada, só não me solte... - Ela disse entre lágrimas apertando sua mão direita em minhas costas então eu a abracei e não soltei.
Nós ficamos lá sem dizer nada, apenas juntos por um tempo até que a enfermeira disse que eu não poderia mais ficar lá e com dor no coração eu a deixei, quando saio do quarto vejo Nathaniel na sala de espera junto de Castiel, ele estava extremamente agitado, andando de um lado para o outro, Castiel não havia explicado para ele o que havia acontecido, apenas disse que Elizabeth estava no hospital, não o culpo por isso, ele estava acabado de uma maneira que eu nunca o tinha visto, quieto, sem expressão, mesmo que nenhum de nós conhecêssemos Elizabeth o suficiente para que ficássemos tão mal assim nós ficamos, não sei se foi pela brutalidade, por ela ser uma pessoa tão doce e frágil ou por que nos três sentíamos a obrigação de protegê-la.
- O que houve?! - Nathaniel me segura pelos ombros, eu não conseguia falar, só me vinha na cabeça a imagem de Elizabeth naquele colchão ensanguentado então meu olhos se encheram mais uma vez e dessa vez não teve volta.

Unbacked || Amor DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora