- Sr. Mantovani. - A pesada ironia em minha voz fez com que Baltazar revirasse teatralmente seus olhos cinzentos. - Que prazer em revê-lo.
Ele arrastou seus pés até mim, com os braços cruzados para trás como se dispusesse de todo o tempo do mundo, deixando seu cheiro desagradável impregnado no ar por onde passava. Se fosse em outras circunstâncias, em outro dia e lugar, eu já não estaria mais ali pagando para ver o que ele queria dessa vez. Fugir de Baltazar e da Aliança já era um hábito, porém se fugisse naquele momento ele e seus servos não iriam deixar sobrar uma viva alma naquele bar para contar história.
- Precisamos colocar nossa conversa em dia, senhorita. - Seus olhos pairaram pela primeira vez em Lucas e um leve sorriso cresceu em seus lábios rosados. - De preferência sozinhos.
Senti a tensão crescer em meu corpo e um certo medo se espalhar pela minha espinha. Eu sabia o que aquele vampiro afetado queria e não era conversar. Ele estava a mando do seu chefe como em todas as outras vezes que nos encontramos, ele estava ali para tentar mais uma vez me convencer a jurar lealdade a Aliança, contudo, viver sob o comando de um bando de vampiros velhos e cretinos, lhes prestando reverência e cumprindo todos os seus caprichos não era e nunca seria algo do meu interesse.
- Nós já tivemos essa conversa, meu amigo, e você já sabe a minha posição sobre esse assunto, assim como o seu chefe... Aliás, como ele está? Faz alguns anos desde que não o vejo.
- Ora, por favor, eu insisto. - Dante, o Otrocí mais alto e mal-encarado deu dois passos largos para frente, com seus olhos negros e cerrados colados em mim. - Vamos lá, prometo que não irei me demorar, serei bem breve.
Baltazar lançou um rápido olhar para Dante e Oto que continuaram parados na porta de entrada e seguiu para a saída dos fundos do bar. Lucas caminhou até mim, seu queixo estava cerrado e o cenho franzido. Ele parecia estar prestes a socar alguém.
- Está tudo bem? - Sua voz rouca soou próxima ao meu ouvido.
- Sim, claro. - Menti, pois no fundo eu estava em pânico. Fazia muito tempo desde a última vez que havia encontrado com Baltazar e ele não era um dos maiores fãs de vampiros renegados como eu. - Ele é um só um... amigo, um amigo excêntrico.
Segui para os fundos do bar, um beco sujo e apertado com cheiro de esgoto. Baltazar se encontrava parado ao lado da porta segurando um lenço de seda branco diante do rosto, o nojo estampado em sua cara. Nossa, como eu odiava aquele cara.
- Eu realmente não sei como você consegue trabalhar neste tipo de lugar, Aurora. - Baltazar torceu o nariz ao ver uma barata passando bem próximo dos seus sapatos lustrosos. - Que lugarzinho imundo.
- Vamos direto ao ponto pelo amor de Deus. - Parei diante dele com os braços cruzados em uma tentativa de esconder minhas mãos trêmulas. - Fala logo de uma vez o que você quer.
- Dimitri me enviou. Ele exige uma reunião.
- Pois diga ao seu chefe que ele pode ficar esperando. Isso nunca mais vai acontecer. - Minha voz se exaltou alguns tons. - Nunca irei jurar obediência a vocês, achei que isso já estava esclarecido. Ele já tentou uma vez e se eu não me entreguei naquela época não vai ser agora que isso vai acontecer.
- Aurora, Aurora... - Baltazar soltou uma leve gargalhada, deixando amostra seus dentes brancos, e guardou o lenço no bolso do seu paletó. - Você não tem escolha. A Aliança já deixou bem claro inúmeras vezes que não aceitamos renegados no submundo. Você pode se juntar a um dos clãs ou a qualquer um dos serviços da Aliança, mas você não pode continuar sem um lorde... Caso essa situação continue a se estender você não irá viver para ver um novo dia.
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Maldição de Sangue
VampireLIVRO UM - MALDIÇÃO DE SANGUE [EM REVISÃO] De tempos em tempos nasce uma criança especial que, se transformada em um ser imortal, se torna parte vital para a Irmandade. Essa criança carrega em si uma marca, uma marca de liderança, de poder e de mo...