21 - Confissões

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A tarde estava pincelada de laranja. O cheiro de poluição impregnado no ar. Minhas pernas flutuavam sobre as calçadas e sobre o chão de asfalto. Correr me ajudava a pensar, no entanto minha mente sempre voltava ao mesmo lugar, repetindo as palavras de Elena: Nicole e Stella foram casadas.

Virei meu corpo de volta ao centro da cidade e me vi novamente diante do prédio de Nicole. Dessa vez, subi pelas sacadas dos apartamentos e me sentei em um banco de ferro que havia em sua varanda.

A porta de vidro deslizou atrás de mim e ela puxou outro banco para se sentar ao meu lado.

Ela não disse nada assim como eu. Ficamos uns bons vinte minutos apenas observando a tarde passar ao nosso redor. Quando decidi abrir a boca e dizer alguma coisa os postes das avenidas lá embaixo já estavam começando a se aceder.

- Vocês eram casadas. - Nicole respirou fundo e abaixou a cabeça - Você poderia ter me contado, eu tinha o direito de saber.

- Eu disse Aurora que não posso te contar sobre o passado para não influenciar o presente. - ela refletiu por alguns instantes - Se você soubesse disso desde o início iria querer ficar comigo mas sendo guiada pelos sentimentos de outra pessoa. Desse jeito você se aproximou de mim mesmo sem saber, você gosta de mim independente do que Stella e eu um dia compartilhamos.

- Isso não é justo! - Levantei derrubando o banco no chão estrondosamente. Não sei exatamente porquê mas estava com raiva, com raiva de Nicole e de toda a situação na qual me encontrava - Eu... Ninguém me conta nada! Eu tenho que esperar um gatilho aleatório que me faça lembrar de coisas que vivi a muito tempo atrás. Eu merecia saber Nicole, merecia saber que um dia você me amou, que um dia você se casou comigo!

- Eu não me casei com você! - Ela se levantou abruptamente e parou diante de mim - Eu me casei com Stella Caine, há muitos anos atrás. Você é outra pessoa Aurora, uma pessoa completamente diferente.

Caminhei para dentro do apartamento e Nicole me seguiu.

- Você esconde muita coisa de mim e eu sei disso. - me virei, com o dedo erguido em direção a ela - Me conta, diga alguma verdade para mim! Droga eu só queria saber de tudo de uma vez por todas!

Nicole sorriu ironicamente e abriu a boca para dizer algo, no entanto se conteve.

- Fala Nicole, me de alguma informação verdadeira. Me diga alguma coisa que mude tudo isso.

- Eu salvei sua vida. - franzi o cenho confusa - A sua, não a de Stella, onze anos atrás.

Minhas pernas tremeram e eu me sentei no sofá antes que elas cedessem e me jogassem ao chão.

- Não cheguei a tempo de salvar a outra garota, mas pude salvar você. Louis sempre tinha pessoas para vigiar e proteger você a distância e naquela noite calhou de ter sido eu.

"Eu sabia quem você era, sabia quem estava dentro de você, mas antigamente eu não acreditava que um dia você pudesse liderar coisa alguma. Quando Dimitri te capturou eu queria deixar você morrer, sentia raiva eu acho, raiva por você estar aqui e não ela.

"Mas eu salvei sua vida e não me arrependo nem um pouco disso, nem por um dia. Hoje eu sei quem você é de verdade Aurora, eu sei que você é capaz de fazer qualquer coisa e agora eu sei que é você a escolhida."

Minha memória voltou onze anos no tempo e adicionou um rosto a pessoa que havia salvado a minha vida e a quem eu seria eternamente grata. Nunca imaginaria que tinha sido ela, muito menos que ela havia relutado em agir. A confusão dentro de mim só fez piorar enquanto a raiva cedia.

- Obrigada. - sussurrei.

- Pelo o que?

- Por ter salvo a minha vida. - soltei o ar preso em meus pulmões e encarei seus olhos pela primeira vez naquela noite - Sempre quis encontrar você. Viajei boa parte do mundo seguindo seu rastro para agradecer por me salvar, só não sabia que já tinha te encontrado.

Nicole se sentou no sofá ao meu lado e acariciou meu rosto com a ponta dos dedos.

- Eu faria tudo de novo se fosse preciso, todos os dias se necessário.

- Eu amo você Nicole. - mordi o lábio, desejando não ter dito aquilo.

- E eu amo você Aurora.

Agi contra todos os meus instintos mais profundos e a puxei para perto, meus lábios encontraram os seus antes que pudesse pensar. Um beijo urgente que espalhou um calor pelo meu corpo.

Meu corpo se moveu e eu me sentei sobre suas pernas, proferindo beijos e mordidas pelo seu pescoço conforme ela sua respiração pesava em meus ouvidos. Minhas mãos correram por debaixo de sua blusa e encontraram seus seios fartos e macios.

Nicole deslizou suas mãos pelo meu corpo e abriu os botões da minha calça. O desejo latejava em nós duas em uma intensidade avassaladora. Seus dedos encontraram caminho por dentro do meu jeans, seguindo diretamente para baixo, mas antes que fosse tarde demais segurei em seu pulso e ela me encarou ofegante.

- O que foi?

Desci do sofá e fechei meu zíper. Não podia fazer isso novamente, apesar de deseja-la como nunca antes. Não era certo agir baseada no calor daquele momento e alimenta-la com o que poderia ser falsas esperanças. Eu não sabia o que fazer e isso estava me matando.

-Me desculpa. - caminhei de volta a varanda e não olhei para trás, pois sabia que se olhasse não conseguiria partir.

Maldição de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora