As mãos de Lucas seguravam firmemente o volante do meu Audi. Seu coração estava acelerado e o suor escorria constantemente em sua testa. Estávamos a menos de cinco minutos do acampamento de Theo, o Alfa de sua matilha e o homem que poderia me ajudar a tomar o poder da Irmandade de uma vez por todas das mãos de Dimitri.
- Quando chegarmos vou te levar direto à Theo. - seus olhos desviaram em minha direção rapidamente - Alguns dos lobisomens do acampamento não gostam muito de vampiros e eu...
- Teme pela minha segurança. - respirei fundo - Você já me falou isso algumas milhares de vezes Lucas. Fica tranquilo vai dar tudo certo, ninguém consegue resistir ao meu charme vampiresco.
Lucas prendeu sua respiração por alguns segundos quando o carro passou por uma grande cerca verde formava por bambuzais que se estendia para os dois lados até sumir de vista. O acampamento dos lobos ficava fora da cidade e fora dos radares de Dimitri. Era um lugar lindo, com várias casas semelhantes em meio a mangueiras, bananeiras e jabuticabeiras, dispostas aleatoriamente por um campo de grama que se estendia para além de onde se podia ver e que se misturava em algum ponto com um grande tapete de árvores verdes que se expandia diante das montanhas ao fundo.
Senti medo pela primeira vez quando Lucas desligou o carro e as pessoas se aproximaram. O que poderia acontecer? Eu poderia morrer; os lobisomens poderia se revoltar contra mim e me matar. Lucas não poderia com todos eles. Eu não poderia com todos eles. E se desse tudo errado?
Mas e se desse certo? Se Theo aceitasse me ajudar, ele como Alfa iria arrastar toda sua alcatéia consigo. Ainda não seria suficiente, as forças de Dimitri eram grandes mas já seria um começo, um grande começo.
Senti todos aqueles olhos me encarando quando desci do carro em frente a casa no fim da rua de chão. Ouvia os grunhidos enquanto eles farejavam meu cheiro no ar. Minha mão se fechou em um punho cerrado, no entanto, mesmo parecendo estarem prontos para me atacar e me matar a qualquer instante, nenhum deles se dispôs a me enfrentar.
Em meio a toda aquela raiva evidente haviam olhos curiosos, lobos que não ansiavam pelo meu sangue mas sim por informações. O que afinal de contas uma vampira renegada escolhida para liderar a Irmandade estaria fazendo ali?
- Fique calma. - Lucas sussurrou, para que somente eu pudesse ouvi-lo.
Passos se aproximavam, pesados e ligeiros. Um rapaz alto de braços largos caminhava até nos. Seu rosto estava transformado, olhos laranjas brilhantes e o espaço côncavo entre seu nariz e olhos havia deixado de existir. Seu corpo estava arqueado e as garras em seus dedos ameaçadoramente apontadas para mim.
- O que você tá fazendo aqui sangue suga? - sua voz estava rouca, diferente do que deveria soar normalmente - Sua raça não é bem-vinda! Suma daqui!
A respiração de Lucas ao meu lado estava cada vez mais descontrolada e suas mãos cerradas tão firmemente que sentia o cheiro do seu sangue doce no ar. Vi seus olhos brilharem e ele respirar profundamente, porém antes que ele pudesse fazer algo repousei minha mão em seu peito.
- Não faça isso Lucas, não arranje briga com um dos seus por alguém como eu. - seu punho se abriu e suas garras de retraíram, mas ele ainda estava com os olhos presos no lobisomem a nossa frente.
- Viemos falar com Theo. Onde ele está Victor? - disse Lucas.
Victor, ainda me encarando com ódio nos olhos rosnou e deu dois passos para frente. Ele era o único tolo - ou corajoso - o suficiente para desobedecer a ordem do seu líder, que sabendo da minha presença havia dito a Lucas que ordenara a todos que não agissem contra mim.
Mas o que Victor queria era simples: ele queria me provocar o suficiente para que eu o atacasse, assim ele não desrespeitaria a ordem de seu Alfa e ainda provaria que eu não era confiável.
- Vá embora vampira. - as palavras sibilaram por entre as presas pontiagudas de Victor - Ou eu juro que matarei você aqui e agora.
- Você pode tentar. - ele pendeu a cabeça para o lado com um sorriso no rosto.
Senti e permiti que meu rosto se transformasse e me aproximei de Victor que não vacilou nem por um instante. Sentia seu hálito em meu rosto e a raiva que ele sentia pela minha raça enquanto encarava meus olhos negros.
- Eu não vim aqui para fazer mal algum a nenhum de vocês - falei - A não ser que algum de vocês faça mal a mim.
- Chega disso!
Victor estremeceu e abaixou a cabeça, quando a levantou seu rosto estava de volta ao normal, porém a raiva ainda brilhava em seus olhos. Ele caminhou para a companhia das pessoas que nos cercavam e deu espaço para que um homem alto de cabelos loiros compridos surgisse diante de mim.
- Desculpe por isso. - disse Theo - Victor é um imbecil.
- Peço desculpas também, não quis ofender ninguém.
Theo sorriu por debaixo da barba volumosa. Ele não tinha mais do que trinta anos, era um homem que transparência respeito e força, como um Alfa deveria ser. Bem vestido e cordial, me indicou o caminho até o interior da maior casa do acampamento.
Lá dentro a sala era ampla, haviam várias poltronas dispostas pelo cômodo e uma grande mesa com oito cadeiras próxima a janela. Uma estante de livros, um pequeno móvel com uma TV de tela plana e um grande tapete indiano no chão. Theo me indicou o sofá e se sentou em uma poltrona diante de mim.
- Então diga Aurora, o que veio fazer na casa do inimigo?
- Não vejo vocês como inimigos Theo. Victor e alguns outros talvez mas não todos vocês. Sei que anos atrás você conheceu Stella Caine, líder da Irmandade e que até mesmo lutou ao seu lado antes de se exilar.
Lucas, que estava sentado ao lado de Theo me fitou surpreso. Ele não tinha me dito isso, ninguém havia me dito isso e eu não tinha certeza se Theo havia falado sobre isso com alguém.
Theo franziu o cenho e cruzou os braços diante do peito.
- Como sabe disso? Ninguém daqui sabe sobre isso.
- Eu sei porque eu estava lá. Lutei ao seu lado, perdi amigos assim como você e senti a sua dor quando seu irmão morreu nos seus braços.
Seu coração acelerou e ele respirou fundo. Havia chego onde queria.
- Otávio era um bom homem, leal a sua alcatéia e que graças a você se tornou leal a mim também quando se fez necessário.
- Como sabe sobre isso?
- Deixe eu te mostrar, será mais fácil do que explicar.
Me levantei e ele fez o mesmo. Lucas segurou em meu braço confuso, ele não sabia o que estava fazendo, nem eu sabia, estava improvisando, estava seguindo uma intuição cega.
- O que vai fazer? - Lucas me questionou.
Estendi minha mão no ar em direção a Theo que a segurou firmemente.
- Confie em mim. Não vou feri-lo Theodore.
Os olhos de Theo correram até Lucas o questionando silenciosamente antes de se voltarem para mim. Ele soltou meu braço e eu segurei seu rosto com minha mão direita, deixando fluir as memórias de Stella por mim.
Fomos sugados para uma noite quente de fevereiro, estávamos cercados por corpos de aliados e inimigos. Lutava com todas as forças que meu antigo corpo possuía enquanto assistia Theo em sua completa forma de lobo degolando nossos inimigos adiante. As cenas passavam rápido, como um flash e antes que penetrassem uma estaca no peito de um vampiro de meia idade me vi ajoelhada ao lado de Theo, que segurava o corpo mole de seu irmão nos braços.
- Irei vingá-lo Theodore. - minha voz soou diferente, mais grave e imponente - Seja nessa vida ou na outra, mas prometo que irei vingá-lo.
Theo caiu sobre os cotovelos, seu peito subia e descia urgentemente enquanto Lucas o ajudava a ficar de pé. Ele veio até mim e segurou em minhas mãos com um olhar indescritível preso em seu rosto.
- Eu prometi a você que iríamos vingá-lo Theodore. - ele cerrou a mandíbula - Vim aqui cumprir a minha promessa.
Theo me puxou para um abraço. Pelo olhar de Lucas sabia que aquilo não era do seu feitio.
- Conte comigo Stella. - ele me soltou e me encarou segurando em meus ombros - Conte comigo minha amiga, até o fim!
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Maldição de Sangue
VampirosLIVRO UM - MALDIÇÃO DE SANGUE [EM REVISÃO] De tempos em tempos nasce uma criança especial que, se transformada em um ser imortal, se torna parte vital para a Irmandade. Essa criança carrega em si uma marca, uma marca de liderança, de poder e de mo...