Minha conversa com Elena durou mais tempo do que havia percebido. Ela havia me dito que Louis não era visto há mais de dois anos quando foi capturado por Dimitri. Saber que ele poderia, na verdade que ele certamente estaria morto, me tirou o chão. Passar o fardo da liderança da Irmandade para ele sempre fora o meu plano e agora eu não sabia o que fazer.
Na verdade eu sabia. Agora não me restava opções a não ser assumir minha responsabilidade se quisesse por um fim em Dimitri de uma vez por todas. Para muitos seria uma honra liberar o submundo, usufruir das regalias e criar suas próprias regras, eu seria considerada uma idiota por um dia ter pensado em recusar esse poder. Mas poder nunca foi meu objetivo maior nessa vida.
Lucas havia insistido em me acompanhar até em casa. Naquela altura dos acontecimentos o nosso beijo já havia perdido boa parte de sua importância, pelo menos para mim.
- Foi uma boa noite... Apesar de tudo. - Lucas esticou seu braço e acariciou meu rosto com a ponta dos dedos, e eu instintivamente desviei de seu toque. - Sinto muito sobre Louis. Encontraremos outro jeito.
- Duvido muito.
Logo ao abrir a porta percebi que havia algo de errado. Tudo estava calmo demais. Isabela que deveria estar em casa não estava. Pus um pé para dentro e fui atingida pelo cheiro de morte impregnado no ambiente.
- Baltazar. O filho da puta esteve aqui. - murmurei. Lucas, que estava até então parado no batente da porta entrou no apartamento.
Percorri em segundos cada cômodo da casa. Não havia sinal de arrombamento ou de luta, muito menos de Isabela. Ela não teve a menor chance de se defender ou fugir, Baltazar era ágil e esperto diferente de seus Otrocís que só possuíam uma dessas qualidades, porém todos eles contra uma humana era fácil de se imaginar o resultado.
Quando retornei para a sala havia trocado o vestido desconfortável por uma calça jeans e uma camisa larga. Em minhas mãos estava o bilhete amassado que Baltazar havia deixado sobre a minha cama.
"Encontrei um prêmio hoje, olha que sorte a minha! E como ela é uma delícia. Como você resistiu todo esse tempo?
Se quiser ver sua namorada gostosa novamente encontre-me onde você se ajoelhou para mim pela primeira vez, ou pela manhã você encontrará o corpo dela pendurado na sua janela."
Minha mente estava repleta de formas diferentes de tortura que poderia praticar em Baltazar quando tivesse a chance. Ele iria pagar com sangue por isso, nem que fosse a última coisa que eu fizesse na vida.
- Não haja sem pensar Aurora. - Lucas entrou no meu campo de visão, com a gravata frouxa, o smoking aberto e piedade no olhar. Segurei em sua camisa e o arremessei contra a parede oposta.
- Minhas ideias nunca estiveram mais claras.
Sai pelo corredor usufruindo de cada gota de velocidade que meu corpo tinha para me oferecer. Como imaginei, Lucas não veio atrás de mim e isso me aliviou. Baltazar já estava com Isabela em sua mira, não podia coloca-lo em perigo também.
Parei em meio a calçada movimentada, o relógio já marcava mais de meia noite. As pessoas iam e vinham a todo momento, sem prestar atenção à vida ao seu redor. Olhei para o alto do prédio ao meu lado e forcei meu corpo para cima sem me preocupar em ser vista. "Encontre-me onde você se ajoelhou para mim pela primeira vez" dizia o bilhete. Ele poderia pelo menos ter sido mais específico.
Me agachei na beirada do prédio e deixei que o vento preenchesse meus ouvidos com todos os sons que a cidade tinha para me entregar. Procurei em meio a confusão por qualquer vestígio de Isabela e Baltazar, ignorando tudo o que acreditava ser inutilizável.
Um estalo e então me lembrei, entendi o que Baltazar queria me dizer. Uma lembrança surgiu por entre as ondas nervosas que meus pensamentos formavam.
Um lugar. Um casarão antigo fora da cidade para onde Baltazar um dia me levara coma intenção de me chantagear para jurar fidelidade à Aliança. Nesse mesmo dia o ódio floresceu entre nós dois, e nesse dia, ele me derrotou pela primeira vez.
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Maldição de Sangue
VampireLIVRO UM - MALDIÇÃO DE SANGUE [EM REVISÃO] De tempos em tempos nasce uma criança especial que, se transformada em um ser imortal, se torna parte vital para a Irmandade. Essa criança carrega em si uma marca, uma marca de liderança, de poder e de mo...