As luzes do casarão estavam todas acessas, tanto dentro quanto fora. Um cheiro doce e enjoativo rodeava toda a mansão e parados na porta de entrada haviam dois Otrocís em postura, que sob a luminosidade pareciam ser mais pálidos do que o usual.
Subi os degraus da varanda e me aproximei da porta, eles me lançaram um olhar frio e abriram caminho para que eu passasse. Quando a porta se abriu vi Isabela amarrada a uma cadeira de ferro posta no meio da sala, sendo assim a primeira coisa que visse quando entrasse. Senti um dos Otrocí parar ao meu lado e observei o outro caminhar até Isabela, quase ao mesmo tempo Baltazar surgiu no topo da escada.
- Estava começando a acreditar que você não viria Aurora.
- Deixe ela ir. - murmurei.
Os olhos sombrios de Baltazar me encaravam curiosos, mas acima de tudo satisfeitos. Eu estava onde ele queria, ele possuía sobre mim um trunfo e estava em maior número. As chances estavam obviamente contra mim, porém por Isabela eu faria tudo o que fosse preciso, nem que eu não vivesse para ver um novo dia.
- Você não da as cartas aqui querida. - em segundos ele desceu as escadas e sua mão tocou minha bochecha. Dei um tapa em seu rosto e um de seus Otrocís agarrou a garganta de Isa que sufocou. Baltazar se endireitou e gargalhou. - Isso foi um tanto quanto rude.
- Você é um homem morto.
Baltazar caminhou até Isabela, seus olhos se arregalaram de medo conforme ele se aproximava. Fiz menção a correr em sua direção mas fui impedida pelos seus lacaios idiotas. Eles eram mais fortes do que eu, e não cediam as minhas investidas.
- Fiquei muito contente quando soube que você possuía uma fraqueza que eu poderia explorar. - ele segurou Isabela pela garganta e a pôs de pé. Ela me encarava com desespero em seus olhos enquanto lágrimas rolavam pelo seu rosto. - Imaginei que precisaria pegar aquele seu cachorro de estimação, mas fiquei muito feliz em pega-la no lugar dele. Ela parece ser muito mais deliciosa.
Conforme me rebatiam tentando lutar pela minha liberdade e dar um fim em todos eles as mãos dos Otrocís apertavam ainda mais meus braços liberando uma leve dormência em minhas mãos. O olhar de Isabela estava repleto de desespero e medo e aquilo estava me causando uma mistura de ódio e impotência.
- Deixe ela ir Baltazar. Você tem a mim, eu faço o que quiser, mas deixe ela ir por favor! - uma lágrima deslizou pelo meu rosto. - Me leve até Dimitri, eu juro fidelidade a ele e a Aliança, só deixe ela ir.
Baltazar gargalhou e um tremor se espalhou pelo corpo de Isabela. Os olhos dele se transformaram se tornando negros o que deu a ele um ar ainda mais sombrio. Seus dentes pontiagudos surgiram por entre seus lábios finos e rasgaram a pele do pescoço de Isabela. Um grito de horror escapou de sua garganta, e minhas pernas tremeram.
Puxei toda força que havia dentro de mim e um urro de ódio fugiu de dentro de mim. Acertei um chute na canela do Otrocí a minha direita e sem saber exatamente como quebrei seu pescoço. O segundo acertou meu rosto com o punho cerrado e eu cai sem jeito sobre o chão, com meu sangue escapando pelo canto da boca.
Assim que cai no chão forcei minhas pernas até Baltazar, que ainda estava com os dentes presos no corpo mole de Isabela e o empurrei para longe. Ele se chocou contra o corrimão de madeira da escada. Mãos fortes me puxaram e senti a dor se espalhando pelo meu corpo ao cair sobre uma mesa de centro de madeira e vidro. Rapidamente vasculhei os destroços do móvel e penetrei o primeiro pedaço pontiagudo que encontrei no peito do Otrocí remanescente que caiu os olhos esbugalhados ao meu lado.
Isabela estava desacordada, caída aos pés da escada, o sangue que escorria de seu pescoço manchava o carpete. O cheiro que se espalhava agora pelo ambiente não me incomodou, nem ao menos pareci notar. Parte por conta da minha nova alimentação ao lado de Nicole e outra grande parte por aquela pessoa que estava sangrando a minha frente ser a minha melhor amiga.
Baltazar correu até mim, seu rosto manchado de vermelho, no entanto antes que ele pudesse utilizar a estaca em sua mão ele foi puxado para trás por um homem alto e bem vestido. Dimitri.
- Saia já daqui Baltazar! - sua voz estrondosa ecoou pela casa.
Baltazar o encarou furioso e sem relutar saiu da casa sem olhar para trás.
Dimitri parou a minha frente, as mãos cruzadas para trás e com uma feição indecifrável em seu rosto. Ele analisou o cenário ao seu redor e esfregou o espaço entre as sobrancelhas impacientemente.
- Me desculpe por isso. - sua voz soou fria, porém simpática - Baltazar tem apresentado problemas em seguir ordens. Pedi a ele, com toda a minha gentileza, que não a matasse, mas quer saber? Acho que ele possui uma estranha... Como posso dizer... Uma estranha obsessão por você.
- O que você quer?! - minha voz soou mais alta e aguda do que planejava.
A respiração de Isabela se tornava a cada segundo mais irregular.
- Você é uma das Renegadas mais problemáticas que existem nesse nosso mundo. - Dimitri se agachou ao meu lado e observou Isabela por alguns instantes - Eu não vim lhe matar, não hoje pelo menos. Baltazar já causou muito estrago por uma noite.
"Você Aurora é uma pessoa que conhece muito bem a dor e o sofrimento. Recordo-me da primeira vez que nos encontramos. Naquela noite, se me lembro bem, tirei de você alguém importante, a pessoa que você mais amava nesse mundo. Acredito que aquela noite, que aquela perda alterou o curso da sua vida.
- Não ouse...
- Naquele dia, a primeira vez que poupei a vida de alguém, eu me fiz a promessa que nunca mataria você, que conseguiria trazer você para o meu lado, pois sei que existe algo de especial em você.
Sim, eu sou a reencarnação da mulher que você assassinou à centenas de anos atrás seu filho da puta. Pensei.
- Mais uma vez eu te vejo na mesma situação, segurando em seus braços alguém que ama e que está prestes a morrer, porém dessa vez você pode salva-la. - Dimitri se levantou e ajeitou a gravata em seu pescoço - Irei manter minha promessa, não irei matá-la e permitirei que salve a vida de sua amiga, porém na próxima vez que nos encontrarmos se lembre da minha cordialidade ou terei de quebrar os meus votos aos deuses.
Assim que Dimitri sumiu por entre a porta aberta mordi a palma da minha mão e deixei meu sangue escorrer por entre os lábios entreabertos de Isabela. No mesmo instante sua respiração se normalizou e seus olhos se abriram, vazios e confusos. Ela estava viva,porém o pior ainda estava por vir.
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Maldição de Sangue
VampireLIVRO UM - MALDIÇÃO DE SANGUE [EM REVISÃO] De tempos em tempos nasce uma criança especial que, se transformada em um ser imortal, se torna parte vital para a Irmandade. Essa criança carrega em si uma marca, uma marca de liderança, de poder e de mo...