17 - Pesadelo

131 19 3
                                    

Mais um grito de Isabela ecoou pelas paredes finas do nosso apartamento e meu corpo estremeceu. Eu sabia das consequencias, seu ferimento era grave e ela estava quase morta, sabia da magnitude dos efeitos que meu sangue faria em seu organismo. Quanto maior a quantidade pior eram os efeitos colaterais. Isabela estava agora presa em meio a pesadelos e alucinações horrendas que iriam assombrá-la pelo resto de sua vida.

A porta da sala abriu-se abruptamente e Nicole rompeu por ela como um raio direcionado a mim. Seus braços envolveram meu pescoço forte demais e ela se afastou, prendendo meu rosto em suas mãos.

- Pensei que... Pensei que você estava morta. Quando Lucas me ligou e me disse o que... Não faça mais isso, não se atreva nunca mais a fazer uma burrice dessas Aurora

Outro grito cortante ecoou pela sala liberando um tremor incontrolável através do meu corpo. Nicole segurou em minhas mãos e me olhou caridosamente.

- O que houve com ela?

- Baltazar. - seu nome saiu cortado por entre meus dentes - Ele a pegou para chegar até mim e tentou matá-la em meio a isso. Eu não tive escolhas Nicole, não iria agüentar se ela morresse... Eu não podia...

A culpa em meus ombros era pesada demais para suportar. Colocar a vida de Isabela em risco nunca passou pela minha cabeça, mas agora eu sabia que somente de estar em sua vida já era um perigo. Eu era uma vampira Renegada com um alvo enorme nas costas e com isso todos ao meu redor estavam em perigo, assim como Lucas e Nicole.

- Não faça isso Lola.

- Fazer o que?

Fui até a cozinha ao me lembrar de uma garrafa de licor de menta que havia no fundo do armário. A peguei, abri e servi dois copos sobre o balcão.

- Não se culpe, e não adianta negar pois eu sei que é exatamente isso que você está fazendo agora, mas o mundo não é seu para que o proteja, não ainda pelo menos. - ela se sentou a minha frente e encostou as mãos nas minhas - Foi uma tragédia e a culpa é de Baltazar, não sua.

- Eu estou tentando repetir isso para mim mesma desde que cheguei em casa. Mas se eu não tivesse irritado a Aliança, se eu não tivesse vindo para essa cidade para começo de conversa ela não teria me conhecido e não estaria sofrendo agora.

- A culpa não é sua.

Isabela chamou por mim. Parei ao seu lado antes que seus lábios terminassem de pronunciar meu nome. Seus olhos faziam força para voltar a realidade e seu rosto estava coberto de suor. Ela agarrava com tanta força o travesseiro que a fronha já havia se rasgado e a ferida em seu pescoço agora não passava de uma fina e pequena linha rosada.

- Isa... - a sacudi gentilmente. O efeito do meu sangue estava começando a passar - Isa acorde!

- Deixa ela Aurora. - as mãos de Nicole se arrastaram pelo meus ombros.

Conduzi meus pés para fora do quarto e me atirei no sofá da sala. Não agüentava mais vê-la sofrendo, porém se me visse em situação semelhante novamente com certeza iria salva-la. Seu sofrimento pelo menos seria passageiro, sua morte não. Meu único temor era que Isabela não me perdoasse quando soubesse que era tudo minha culpa.

Senti os olhos piedosos de Nicole me observando. Era estranho o jeito que ela me fazia sentir quando estava por perto. Mesmo ali em meio a toda aquela situação complicada ela conseguia fazer as borboletas na minha barriga se agitarem.

- Se quiser pode ir para casa Nicole, já está tarde e você não tem obrigação nenhuma de ficar.

Nicole sorriu e se recostou no sofá.

- Você quer que eu vá?

Não. Eu não queria. Queria mante-la o mais próximo de mim possível naquele momento. Porém não reconhecia o sentimento, não sabia a quem ele pertencia, se era algo genuinamente meu ou se Stella estava novamente se sobrepondo as minhas emoções e escolhas.

- Não. - sussurrei - Quero que fique.

Ele se sentou ao meu lado e envolveu seus dedos nos meus.

- Então eu vou ficar.

* * *

Testemunhei o dia nascer com Nicole repousada em meu ombro e com o braço envolto na minha cintura. Levantei-me vagarosamente para que ela não acordasse e fui até o quarto ver como Isabela estava.

O alívio foi instantâneo ao vê-la dormindo serenamente com as mãos embaixo da cabeça. Seu rosto estava mais corado, sua respiração regulada e o ferimento em seu pescoço sumira sem deixar rastros.

Quando retornei para a sala Nicole ainda estava dormindo no sofá banhada pela luz do sol que a deixava ainda mais bonita. Pus uma mecha de seu cabelo para trás da orelha e seus olhos se abriram vagarosamente.

- Bom dia. - ela pigarreou para afastar a rouquidão em sua voz.

- Bom dia. - respondi - Isabela já está melhor.

Ela respirou fundo e sorriu eliminando a tensão entre as suas sobrancelhas, se pôs de pé e ajeitou as roupas amassadas o máximo que consegui.

- Ótima notícia. - ela alcançou sua bolsa que estava sobre o balcão - Então eu vou indo, para dar espaço a vocês, para conversarem melhor.

Nicole caminhou em direção a porta e eu segurei em sua mão. Quando ela se virou havia um tímido brilho em seus olhos.

- Muito obrigada. - sua mão segurou meu ombro. - Obrigada por ter ficado e obrigada pelo apoio.

- Não precisa agradecer. - ela mordeu levemente seu lábio inferior - Não fiz isso somente por você.

- Lola? - A voz fraca de Isabela chegou até os nossos ouvidos. Me virei e olhei a porta do seu quarto e quando me virei novamente para me despedir de Nicole ela já havia partido.

Maldição de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora