Arlequim [completo]

4. Saideira

"I need to hear some sounds that recognize the pain in me, yeah"

Samuel havia dormido a manhã inteira e só acordou por que Daniel o chamou para almoçar. O irmão sabia cozinhar muito bem, e aos fins de semana, quando não tinha que comer na rua, fazia questão de praticar seus dotes culinários.

— Chegou que horas ontem? — perguntou enquanto colocava a própria comida.

— Cheguei hoje, na verdade.

— Sim. Depois de ter hibernado a manhã inteira.

— É. Estou um caco — a cabeça doía.

— Aposto que não se lembra de ter se vomitado todo.

Samuel chocou-se, incrédulo:

— Vomitei?

— Quase coloca os órgãos pra fora. Eu limpei tudo e você continuou em coma.

Samuel correu para o quarto. Uma borda da cama de fato estava úmida, e ainda dava pra sentir o cheiro de desinfetante. Voltou à cozinha, acabrunhado.

— Foi mal...

— Não tem o costume de beber, é assim mesmo.

— Como sabe que bebi?

— Sou mais experiente que você, brother.

— Você já bebeu?

Daniel ficou sério, terminou de colocar o próprio prato.

— Coloca o teu.

Samuel fazia o próprio prato quando insistiu na pergunta:

— Bebeu?

— Sim.

— Não lembro de ter te visto bêbado.

— Eu não vinha pra casa quando bebia.

— Por quê?

— Sou irreconhecível bêbado, Sam — disse com impaciência. Samuel notou. O irmão raramente era tirado do sério.

Terminou de pôr a comida em silêncio, sentou-se à mesa.

— Algumas pessoas mudam completamente sob o efeito de álcool. Eu sou uma delas.

— Não te imagino sem esse porte de irmão mais velho.

— Por isso eu não voltava pra casa. Por isso parei de beber.

Comeram por alguns minutos sem mais nada falarem. Até Daniel irromper:

— Você usou algum tipo de droga?

— Não, cara, relaxa. Só bebi. Estava com uma garota — falou na tentativa de fazer o irmão mudar o foco da conversa.

— Bebeu pra impressioná-la, isso é visível. Cuidado, Sam. O álcool desperta o que há de pior em nós.

— Não foi nada demais, já disse. Não vou me tornar um alcoólatra. Relaxa.

— Me preocupo com meu caçula, só isso.

Ao fim do almoço, Samuel lavou a louça pensando em que tipo de problemas com álcool o irmão havia tido. Mas logo seus pensamentos foram invadidos por Ariel.

Passou o resto do dia ouvindo as músicas que ela havia cantado no Karaokê. Fechava os olhos e conseguia imaginá-la cantando. Por que não havia pegado nenhum tipo de contato? Não pegou telefone, nem perguntou se ela tinha What'sApp ou Facebook. Não tinha como falar com ela novamente. Foi dormir com ela em mente...