11. Ossos partidos, carne queimando

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"Pain, you know you're right"


Luiz Antônio percebeu que algo estava muito errado quando o carro pegou uma estrada de terra. Para onde o barbudo o estava levando? Ficou em silêncio, maldizendo o momento em que entrou naquele veículo; ninguém sabia que ele estava ali. Olhou hesitante para o motorista, tentando esconder o medo que sentia, cada vez mais evidente. Com aquela barba cor de cobre, olhos e porte, lembrava fácil a imagem caricata de um viking. Olhos famintos, avermelhados e fundos.

— Para onde estamos indo?

Não houve resposta.

— Para onde estamos indo? — repetiu mais alto.

O carro parou, causando uma cortina de poeira.

— Desce do carro.

Luiz Antônio sentiu o corpo inteiro estremecer.

— Mas...

— Desce do carro.

Ele obedeceu. Saiu do carro, com o primeiro ímpeto de sair dali correndo. Mas não se atreveu. Olhou ao redor, para os morros e árvores dos dois lados da estrada.

— Por que me trouxe aqui?

— Onde você viu o homem da foto?

— Calma aí — Luiz Antônio tentou impor a voz para demonstrar que ele estava no controle. — Eu digo o que quiser saber, mas vamos acertar o preço.

Leônidas deu um passo em direção a ele, os olhos frios ameaçadores fixos nos seus.

— Onde você viu o homem da foto?

— Eu não vou fa...

Como um leão, Leônidas atacou, agarrando seu cabelo pela nuca e batendo com violência sua cabeça contra o capô do carro.

— Onde você viu o homem da foto?

— Se me machucar nunca vai saber! — clamou em desespero.

O soco no estômago de baixo pra cima o fez perder o ar por alguns segundos. Leônidas largou seu cabelo para que pudesse cair no chão com as mãos na barriga. Luiz Antônio arreganhava a boca à procura de oxigênio. Tinha que pensar rápido. Leônidas estava desarmado, e apesar do porte físico, nada atlético, mas avantajado, era um cinquentão. Podia arriscar revidar.

—Levanta, seu monte de merda.

— Por que está fazendo isso? Eu... eu quero ajudar.

— Você quer explorar a dor de um pai que perdeu o filho, seu lixo. Eu tenho dinheiro, poderia pagar. Mas não vou dar um centavo. E você vai falar.

Luiz Antônio pôs-se em pé rapidamente, dando alguns passos para trás, levantando poeira. Leônidas ficou onde estava, fitando-o com nojo. O jovem tinha certeza de que ele o mataria.

Deu um giro. Correu, para o outro lado da estrada, em direção a um morro.

Estouro.

A carne da coxa sendo atravessada em uma fração de segundos.

A queda. Cara no chão. Então o grito.

Leônidas aproximou-se com a pistola esfumaçando na mão.

— Eu falo! Eu falo! Por favor, não atira!

— E quanto vai cobrar?

— Nada! Nada! Só quero ir embora. Não atira, por favor! — deu um grito de dor, apertando a coxa para estancar o sangramento. A bala com certeza acertara seu fêmur.

Arlequim [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora