8. Ela

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— Ariel?

— Oi, Sam.

Ele ficou olhando para ela sem reação. Estava com um short vermelho e uma blusa do Snoopy. Era difícil decifrar a expressão dela; aquele sorriso abstrato poderia significar tanta coisa...

— Vem — ela ofereceu espaço sob seu guarda-chuva.

Como nada lhe vinha à mente para falar, atendeu ao instinto e andou até ela, abrigando-se da chuva ao seu lado. Bem perto. Sentiu o cheiro do cabelo dela quando este roçou em seu rosto. Não houve abraço. Apenas andaram.

Em silêncio.

Dobraram a esquina, a mente de Samuel como uma panela de pressão com pipocas explodindo dentro. Tinha um milhão de coisas para falar, e ao mesmo tempo, nenhuma. Era o cheiro dela que o distraía, talvez. Cheiro que não lembrava nada além dela. Era o perfume natural dela. Da pele, do cabelo... Dela. E como era aprazível, ameno, único... Seria apenas efeito da paixão? Estariam seus sentidos sendo enganados atrevidamente por estar apaixonado? Como explicar o êxtase em que ele se encontrava?

— Desculpa.

Ele olhou para os lábios dela enquanto caminhavam, a chuva mais forte, trovões ribombando no céu escuro.

— Pelo quê?

— Eu não deveria ter escolhido você.

Ele sentiu um nó na garganta.

— Por quê? — balbuciou.

Ela o olhou, os lindos olhos carregados de pesar:

— Eu vou arruinar sua vida.

Ele parou de andar, fazendo-a imitá-lo. Os dois rostos próximos para caberem sob o guarda-chuva.

— Do que você está falando?

— Eu tentei me afastar, tentei te deixar em paz. Mas não consegui. Estou sendo absurdamente egoísta.

Ele não conseguia digerir aquilo.

— Por que está dizendo isso, Ariel?

— Você não tem ideia de quem eu sou.

— Então diga.

— Não é nada simples.

— Tente.

— Não posso. Para o seu bem.

Samuel estava confuso demais, mas não poderia desistir.

— Eu não entendo! Nos demos tão bem naquela noite... Aí você some e reaparece pra fazer sexo, e some... Por quê?

— Aquela noite... Nunca deveria ter existido.

Samuel saiu de baixo do guarda-chuva, arreliado, deixando-se molhar completamente. Abriu os braços, finalmente colocando para fora o que o engasgava:

— Não devia ter existido? Eu te tratei como uma princesa! Eu fiz o que eu pude pra você se sentir bem. Eu não estava interessado em fazer sexo, estava interessado em você! Aí você desaparece. E surge do nada pra me deixar ainda mais confuso! O que esperava transando comigo daquele jeito e depois evaporando?

— Era uma mensagem. Bem clara.

A chuva batia forte no rosto de Samuel, que estreitava os olhos para enxergar.

— E por que isso? Eu não ligo! Não ligo pro que você fez. Sua intenção era que eu desistisse de você?

Ela manteve o semblante triste, porém altivo, e quando começou a chorar, largou o guarda-chuva no chão, a água logo escorrendo seus cabelos e camuflando as lágrimas.

Arlequim [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora