Gorete bateu gentilmente na porta e aguardou. Como não houve resposta, tornou a bater, um pouco mais forte.
— Senhor Leônidas?
— O que você quer? — a voz irritada era um sinal de alerta para que ela se afastasse.
Gorete hesitou, mas insistiu:
— O senhor não come nada desde ontem. Quer que eu prepare alguma coisa?
— Saia daqui, Gorete.
— Mas...
— Não me faça repetir — a voz do outro lado da porta era ameaçadora. Não era como um "saia daqui ou está demitida"; soava mais como um "saia daqui ou eu mato você".
A empregada engoliu em seco, trêmula. Não estava realmente preocupada com o patrão, mas sua integridade física e mental era sim, de seu interesse. Afinal, se ele morresse ou enlouquecesse ela perderia o emprego. Foi em silêncio para a cozinha. Seu celular tocou.
— Oi, Girlane.
Era sua irmã.
— O psicopata está por perto?
— Não, está trancado na jaula desde ontem, sem comer nada — ela sussurrou.
— Já falei pra você cair fora daí. Esse homem é louco.
— Eu preciso do emprego.
— Você presenciou o inferno que a mulher dele viveu. Você disse coisas horríveis sobre ele. Lembra o que ele fez com aquele rapaz? Ele é tão influente que nem foi pra TV. E agora são apenas vocês dois no apartamento. Sem falar que ele está falindo, perdendo tudo desde que o filho morreu. Procura outro emprego, mulher.
— Onde mais vou arranjar um emprego desses? Enquanto ele não falir, vou aproveitar o máximo o salário que ele paga.
— Gorete, estou falando muito sério. Esse homem é louco, você sabe.
— Claro que sei. O quarto dele que o diga, cheio de fotos do defunto.
— Do que chamou meu filho?
A voz rouca atrás de Gorete a sobressaltou, gelando sua espinha. Virou o corpo para trás, tremendo, olhando para o corpulento e barbudo ruivo, de olhos encovados, intimidantes, avermelhados, fixos nela como os de uma fera assassina.
— Gorete? Gorete? — a voz da irmã repetia ao telefone.
— Fotos do defunto — ele estresiu com a voz gélida.
— Senhor, é... Apenas modo de falar... — ela trepidava tanto quanto a voz.
Ele continuou parado no meio da cozinha, como uma estátua macabra.
— Se o senhor quiser eu... Eu vou embora agora...
— Não.
Ela respirava fundo, nervosa. Aquele homem aleijara um rapaz. Já havia batido na esposa e tinha olhos de lobo. Tinha certeza de que ele a mataria naquele momento. Teve o ímpeto de gritar, mas sua voz não saía da garganta.
— Prepare alguma coisa, estou com fome. E leve mais uma garrafa de uísque — e dizendo isso deu meia-volta e saiu da cozinha.
Ela deu um suspiro de alívio que secou seus pulmões.
— Gorete? Gorete?
Levou o celular ao ouvido.
— Está tudo bem, Girlane. Arranja um lugar pra eu dormir. Amanhã mesmo estou indo embora.
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Arlequim [completo]
Romance"Saiba, agora, de uma vez por todas, quem é Ariel, a mulher que mais amou você nessa vida, e como nasceu Arlequim, o monstro que mais amou você nessa vida. E que por você quase deixou de existir..." Se o amor é puro e divino, o que acontece se você...