Renata teve vontade de correr quando viu o carro se aproximando. Mas era tarde demais. Andou até ele, olhando antes ao redor para certificar-se de que ninguém a via. Não havia ninguém naquela rua por trás de uma escola estadual, com casas muradas do outro lado; o ponto de encontro era realmente ideal, apesar de perigoso. Mas ela queria ter certeza de que ninguém a viria com aquele imundo.
Entrou no carro. Fechou a porta.
O gordo deu um sorriso amarelo. Inclinou-se para lhe dar um beijo, mas ela recuou para o lado.
— Ainda não.
Ele riu. Ela sentiu nojo da risada dele.
Não fora uma decisão fácil. Mas seus pais tinham razão: ela era uma vagabunda. Ela estragara tudo. Havia se entregado à carne antes de graça, apenas para se satisfazer; desta vez, pelo menos, receberia dinheiro em troca.
O carro partiu.
Em sua mente vinha a imagem da igreja, onde ela sempre ia devidamente arrumada, o centro das atenções. Ela merecia aquilo tudo, merecia o conforto que tinha. Talvez tivesse sido imprudente demais se deixando filmar, mas não se arrependia de suas aventuras sexuais, do sexo casual com parceiros diferentes. Era o que a fazia se sentir livre, esperta. As outras garotas da igreja eram devotas, certinhas, privadas. Sim, porque Renata tinha certeza de que todas se masturbavam sonhando em fazer o que ela fazia, mas tinham medo de arriscar. Ela tinha, inclusive, um álibi, um namoradinho sem graça, de fora da igreja, até, mas tão amável que seus pais não se importavam com este detalhe. Aquele viado, pensou. Talvez no início alguma coisa nele houvesse feito com que ela se encantasse, mas logo enjoou. Definitivamente não era seu tipo de homem. Samuel nem era homem, era um moleque inexperiente, virgem. Divertia-se não o deixando tocar nela nem dar beijos mais ousados. Talvez o tenha escolhido justamente por isso, para controla-lo, brincar com ele. Queria que os amigos caçoassem dele, assim como ela fazia enquanto transava com outros. No fundo sabia que aquilo era errado, mas sentia-se tão bem o fazendo, que ignorava tal fato completamente. Ela era livre. Selvagem e livre.
E ele estragara tudo.
O gordo não disse nada até a entrada do motel. Ficou assoviando grosseiramente até lá. Pegou a chave do quarto na entrada e estacionou o carro na garagem. Renata saiu do veículo sem expressão; esperou que ele abrisse a porta do quarto dos dois e entrou logo depois do gordo.
— Eu nem me apresentei. Meu nome é Tonico.
Ela soube que a partir daquele momento odiaria aquele nome para sempre.
Ele sentou-se sobre a cama, que cedeu. Havia um grande espelho na cabeceira da cama. Renata viu-se em pé, usando calça jeans e blusa de botão. Nada sexy, pensou. Não ia dar esse gostinho àquele porco imundo. Tonico Encostou-se na cabeceira, os olhos suínos fixos nela, a língua lambendo os lábios grosseiros. Abriu o cinto, empurrou as calças com cueca e tudo, revelando as coxas peludas e o membro curto cercado de nojentos pelos pubianos em uma meia ereção, quase murcho.
Ela sentiu ojeriza. Aquela cena era no mínimo repugnante. Ele estimulava o pênis enquanto olhava para ela, na mesma posição em pé.
— Dá uma voltinha.
Ela obedeceu.
— Tira a calça.
Ela baixava o jeans quando ele a interrompeu:
— Devagar, putinha!
Putinha.
Ela sentiu o sangue ferver. Mas obedeceu. Baixou a calça jeans lentamente, revelando a calcinha rendada.
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Arlequim [completo]
Romance"Saiba, agora, de uma vez por todas, quem é Ariel, a mulher que mais amou você nessa vida, e como nasceu Arlequim, o monstro que mais amou você nessa vida. E que por você quase deixou de existir..." Se o amor é puro e divino, o que acontece se você...