Samuel ajudou os outros zeladores com a limpeza de um corredor e assim que sua hora de trabalho acabou, saiu do hospital pensando em dar uma volta no shopping, almoçar por lá antes de ir para a universidade. Precisava de seu momento de solidão.
— Sam.
Ali, encostada no corredor da urgência, com o olhar triste, envergonhado, estava Ariel. Ficou olhando para ele com a respiração ofegante e foi tomado por um sentimento de raiva.
— Resolveu aparecer — virou as costas e atravessou a rua.
Ariel apressou o passo e o acompanhou. Segurou seu ombro.
— Preciso falar com você.
— Você precisa falar comigo? — disse alterado. —Depois desse tempo todo, Ariel? Eu pensei que você nunca mais fosse aparecer! Não sabe como minha vida tem sido um inferno desde que você sumiu! E foda-se essa sua filosofia barata de aproveitar o presente e cada adeus ser o último! Se é pra você sumir, que seja de uma vez, não me deixar em banho Maria num pote de ácido!
Ela ficou calada, cabisbaixa. Ele esperou uma reação dela, esperou que dissesse algo, ficou irrequieto olhando para sua inércia.
— Não tem nada a dizer?
— Preciso te mostrar uma coisa.
— Não sei bem se quero ver, Ariel. Qualquer coisa que me traga esperanças... Eu preciso acabar com isso.
Ela levantou os olhos, deu um sorriso triste.
— Acho que não dessa vez, Sam.
— Como assim?
— Eu preciso te mostrar uma coisa.
— Que coisa?
— Minha casa.
Ele ficou sem ação.
— Sua... sua casa?
— Sim. Quero que conheça minha casa.
— Mas... Por quê? Por que mudou de ideia?
— Por que preciso que me conheça. Quero que saiba quem é Arlequim de verdade.
— Quer dizer... Você vai me mostrar sua casa por que pretende se mudar?
— Não. Para que me visite sempre que quiser.
Samuel sentiu um nó na garganta. Deu um sorriso, o peito ardendo de alegria.
— Agora? — gaguejou.
— Não. Assista sua aula. Pego você na saída.
— De jeito nenhum! Não vai desgrudar de mim enquanto não mostrar o endereço!
Ela sorriu.
— Não quero que perca aula por minha causa.
— Eu perderia tudo por você.
— Deixa de ser brega.
Riram.
— Vamos?
— Vamos almoçar primeiro.
— Fechado — abraçou-a forte e deu-lhe um beijo.
Não havia grandes segredos. Ela morava sozinha em uma pequena casa em um bairro distante da Paraíso da Perdição. Era um bairro pobre, isolado e mal iluminado. Sua casa era murada e tinha cerca elétrica, mas era simples, não chamava a atenção.
— Você não mora aqui. Você literalmente se esconde — disse enquanto ela abria a porta. — Esse lugar não é perigoso para morar sozinha?
— Eu sou perigosa para esse lugar sozinho — piscou para ele.
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Arlequim [completo]
Romance"Saiba, agora, de uma vez por todas, quem é Ariel, a mulher que mais amou você nessa vida, e como nasceu Arlequim, o monstro que mais amou você nessa vida. E que por você quase deixou de existir..." Se o amor é puro e divino, o que acontece se você...