Samuel estacionou o carro de Elias em frente ao restaurante. Escolheu um que ficava aberto até altas horas, já que era quase uma da manhã. Quando o amigo emprestara-lhe o dinheiro e o carro, apertara sua mão com orgulho. Iria crucificá-lo se soubesse que ele a estava levando para jantar. Quando desceram do veículo, Samuel contemplou-a mais uma vez: Arlequim abandonara completamente o visual de stripper; usava uma blusa folgada branca, de mangas compridas, e jeans azul. Os cabelos já secos haviam ganhado volume.
Deus, como é linda, pensou.
Os dois entraram no restaurante; ela o olhando intrigada. Não sabia qual a intenção dele levando-a até ali. Escolheram uma mesa para eles. O garçom aproximou-se e cada um pediu algo. Assim que se afastou, Samuel percebeu que ela o olhava intensamente nos olhos.
— Fico sem graça com esse olhar — disse sorrindo.
— Estou tentando descobrir de que planeta veio.
— Nossa, sou tão feio assim?
Ela riu.
—Eu olho em seus olhos e não vejo maldade, nem segundas intenções. Posso fazer uma pergunta que está me deixando louca?
— Claro.
— Você é gay?
Primeiro ele riu, depois pareceu ofendido.
— Claro que não. Eu pareço gay?
— Não — ela sorriu. — É que não consigo pensar em nenhum heterossexual que recusasse passar uma noite comigo de graça.
— Já disse que não recusei. Estamos juntos, não estamos?
Ela sorriu mais uma vez ternamente. Como uma figura colorida em um desenho preto e branco.
— Você dança muito bem — ele elogiou.
— É meu trabalho — ela disse olhando para baixo. Seu olhar tornara-se triste.
Samuel notou claramente que aquele era um assunto desconfortável para ela.
— Bebe cerveja?
— Também.
Ele chamou o garçom. Pediu uma cerveja gelada. Não queria realmente beber, mas além de querer dar a ela a impressão de que não era um menino, queria se soltar mais.
— Por que "Arlequim"?
— É um personagem da CommediaDell'arte, um gênero de teatro que surgiu na Itália no século XVI. Arlequim é na verdade um personagem masculino.
Ele estava impressionado com a resposta dela. Percebeu que a estava subestimando.
— Interessa-se por teatro?
— Meu sonho era ser atriz ou bailarina. Sabe, usar o corpo para encantar as pessoas — deu um sorriso triste. — de certa forma eu faço isso hoje.
Mais um assunto desagradável, pensou Samuel. Ele tentaria fazer ao máximo com que ela não ficasse triste ou constrangida. A cerveja chegou. O garçom derramou nas duas taças o líquido espumante e se afastou. Samuel bebericou pensando em alguma coisa inteligente para perguntar.
— Me fala um pouco de você — ela disse tomando um gole, olhos fixos nos dele, como se o estudasse o tempo todo.
— Não tenho muita coisa pra falar. Minha vida é um saco.
— Aposto que não. Já jogou "eu nunca"?
— Não.
—Jogava na faculdade. É bem simples. Mas só tem graça com bebida quente — ela disse já fazendo um sinal para o garçom. — Uma garrafa de tequila, por favor.
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Arlequim [completo]
Romance"Saiba, agora, de uma vez por todas, quem é Ariel, a mulher que mais amou você nessa vida, e como nasceu Arlequim, o monstro que mais amou você nessa vida. E que por você quase deixou de existir..." Se o amor é puro e divino, o que acontece se você...