23. Requiem

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— Vocês se conhecem? — Samuel indagou confuso com as reações dos dois. Ela o chamara de Júnior, nome que ele execrava, já que preferia ser chamado pelo nome do pai.

Ariel olhou para ele, e de novo para Daniel. Balançou a cabeça inúmeras vezes negativamente, como se não quisesse acreditar em algo atroz demais para ser verdade.

— Este... é seu irmão? — a voz saiu trêmula.

— Sim, é ele, Daniel. O que está acontecendo aqui?

A expressão de assombro de Daniel permanecia. Ficou intacto e sem reação, de olhos fixos em Ariel. Ela sentiu as lágrimas lavarem os olhos e dimanarem pelo rosto. Deu mais um olhar para Samuel, carregado de pesar e compunção, como se pedisse perdão por algo inevitável. Então olhou para Daniel de maneira hostil e ameaçadora, enregelando a espinha do mesmo.

Saiu do quarto, batendo a porta.

Daniel teve ânsia de vômito, cambaleou, apoiou-se na parede. Samuel o olhava aguardando uma resposta àquilo tudo. Tomou fôlego, olhou para o irmão preparando-se para se explicar.

— Essa é a garota que conheceu na boate?

— Sim, Daniel, é ela. Agora me explica o que acabou de acontecer aqui!

— Afaste-se dela, entendeu?

— Por quê?

— Essa mulher está morta!

Samuel franziu o cenho.

— Morta? Do que está falando?

— Ela morreu, Sam. Eu a vi morrer.

— Acha que eu sou idiota? Por que vocês agiram desse jeito?

— Ela está usando você! Ela se aproximou de você para se vingar de mim!

Samuel ficou em silêncio, digerindo aquilo, junto com a confissão de assassinatos de Ariel. Estava inteiramente confuso. Daniel sentou-se na beirada da cama, fechou os olhos, então continuou:

— Há alguns anos conheci um cara chamado Leonardo, filho de um grande empresário. Foi por acaso, em um bar. Conversa vai, conversa vem, ele passou a me chamar de Júnior, preferia a Daniel. Disse a ele que ia casar, foi nessa época, lembra?

— ...

— Então ele disse que o pai estava viajando a negócios, me propôs uma despedida de solteiro; disse que gostou de mim, que seríamos grandes amigos — fez uma pausa. — Chamou uns amigos dele e contratou uma prostituta, essa, que acabou de sair.

— Prostituta?

Stripper e prostituta... Quando ela chegou na festa, não queria fazer sexo. Cara, eu estava muito alcoolizado, muito! Você sabe como fico quando bebo...

— O que aconteceu, Daniel — a voz despontava fria, maquinal.

— Eu tentei beijá-la e ela me chutou no meio das pernas. Eu estava fora de mim, dei um tapa nela — esperou alguma reação de Samuel, mas não viu nenhuma. — Ela enlouqueceu, disse que ia matar a todos nós, cada um! Puxou uma faca e tentou atacar a gente...

Samuel baixou o olhar vidrado.

— Cortou um de nós. Pedimos pra ela ir embora, mas ela não queria ir. Disse que só sairia quando matasse o último de nós. Ela é completamente louca!

Era quase impossível para Samuel imaginar aquela cena.

— Então Leonardo tentou imobilizá-la, e como ela se debatia muito, acabou... quebrando seu pescoço...

Arlequim [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora