28. Como se não houvesse amanhã

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Samuel não saberia dizer se estava frustrado ou aliviado por ver que a mãe de Juliette não era Ariel. A mulher de meia idade parecia-se muito com a filha — logo, com Ariel. — Mas definitivamente não eram a mesma pessoa. Samuel cumprimentou à família Lebrun e afastou-se, sentindo-se um idiota por fantasiar toda aquela conspiração.

Óbvio que Ariel estava morta. Tudo não passava de uma teia de coincidências que culminavam naquela embaraçosa cena digna de filmes de comédia. Quis sair dali imediatamente, esquecer aquilo tudo e voltar à sua vida solitária.

— Você está bem? — perguntou em português, com forte sotaque, um homem alto e sorridente, vestido refinadamente.

Samuel percebeu que estava suando frio.

— Sim, estou bem, obrigado.

— Você precisa de um drink — fez um sinal para um dos garçons. — O que você bebe?

— Qualquer coisa. Estou mesmo precisando.

O garçom ofereceu a bandeja e os dois retiraram uma taça de champanhe cada.

— Trabalha para a TV?

— Para o site.

— Fique à vontade para perguntar o que quiser. Sou o diretor de A Musa do Nunca.

Samuel surpreendeu-se. O próprio diretor for falar com ele. Não tinha mais perguntas a fazer, era uma farsa. Mas não podia se desmascarar ali.

— Parabéns pelo espetáculo. É simplesmente maravilhoso.

— Agradeço.

Samuel fez algumas perguntas sobre A Dama do Nunca, a maioria que já havia feito a Juliette. Além de muito solícito, o diretor era simpático.

— Perdoe, não perguntei seu nome.

— Vernon Lacaze— ele estendeu a mão.

— Samuel.

— Muito prazer.

— Então, Samuel, o que veio fazer aqui?

— Como assim?

— Você claramente não é um repórter — disse com um sorriso que passava naturalidade na acusação.

Samuel sobressaltou-se por ser pego, mas o pior que poderia acontecer era ser enxotado dali. A menos é claro que fosse entregue à polícia, o que implicaria no envolvimento de Alcides.

— Por que diz isso?

— Você age como um novato. Vem à festa de estreia do show e não sabe quem é o diretor, muito menos o nome? Sem falar em suas perguntas bastante genéricas. Juliette pode não ter percebido, mas eu tenho muita experiência com imprensa, e você nem por um novato se passaria.

— Vai chamar a segurança?

— Não vejo motivos até aqui. Só quero que esclareça o porquê de se infiltrar na festa.

— Sou um penetra. Foi a maneira que consegui para entrar. Sempre faço isso em estreias — mentiu.

Vernon riu.

— Péssimo mentiroso também.

— Se quiser chamar a polícia vá em frente — Samuel ficou sério. Não tinha paciência para joguinhos.

— Já disse, não há razão para fazer isso. Você não aparenta ser o tipo perigoso, muito menos um terrorista.

— Qual sua teoria sobre mim então?

Arlequim [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora