Samuel carregava um saco de lixo para a parte externa do pronto-socorro; usava luvas e uma máscara hospitalar. Quando voltava pelo corredor, surpreendeu-se ao ver Elias se aproximando, pálido.
— Elias? — retirou a máscara.
— Eles estão aí fora, Sam — disse em tom de urgência.
— Eles quem?
— Os caras da boate. Estão esperando você lá fora!
Samuel sentiu o impacto da notícia pelo corpo todo. Todos os sintomas do medo se manifestando.
— Como eles me acharam?
— Não sei! Eu vim falar com você sobre o que houve ontem, quando reconheci o com cara de índio esperando em um carro.
— Eles te viram?
— Não. Eu dei a volta a tempo e entrei pela urgência. Corre daqui, Sam, eu vou chamar a polícia — disse já pegando o celular. — Sai pelos fundos do hospital, rápido!
Samuel obedeceu. Correu em direção à área de depósito de lixo hospitalar e então para o portão de ferro, trancado com ferrolho. Destrancou o mesmo e ganhou a rua.
Parou sobre a calçada perguntando-se para onde ir.
Quando percebeu a aproximação do homem tatuado até o pescoço, este já estava perto demais. Samuel disparou em direção a um beco, com o homem em sua cola, poucos metros de alcança-lo; atravessou a rua movimentada de carros, quase sendo atropelado por um deles e seguiu rua abaixo, sem olhar para trás, desviando-se de algumas pessoas e chocando o ombro contra outras, quase as derrubando. Dobrou a esquina, para uma rua com vários carros estacionados no meio-fio, ainda pela calçada. Ao tentar atravessar a próxima rua, uma Land Rover negra parou bruscamente em sua frente, forçando sua parada. Samuel se desequilibrou e antes que conseguisse mudar de direção, sentiu um par de mãos o imobilizar com brutalidade por trás.
A porta traseira daLand Roverabriu, revelando Pajé em seu interior.
— Traz ele pro carro! — fez sinal com a mão.
O tatuado segurava Samuel com firmeza, prendendo seus braços às costas e forçando sua cabeça para baixo. Empurrou-o em direção ao carro, mas parou de repente, puxando-o para trás.
— CUIDADO!
O barulho dos metais se colidindo foi ensurdecedor. O veículo recém-chegado acabara de se chocar em alta velocidade contra o canto traseiro da Land Rover, fazendo-a dar um giro que forçou o segurança a soltar Samuel, na urgência de evitar que fosse atingido pelo carro. Samuel jogou-se ao chão, mas logo se pôs em pé.
—CORRE, SAM! — disse Elias dentro de seu carro, com o para-choque contra a parede do muro, a testa ensanguentada.
O tatuado se jogou para agarrar Samuel, que conseguiu correr a tempo.
As portas da Land Rover eram abertas e delas saíam um careca, que estava ao volante, Adão e Pajé, este também ferido, todos armados;
Elias tentou dar ré no carro;
Samuel atravessou a rua.
Disparos.
Vidros sendo estilhaçados.
Uma buzina ruidosa, barulho de pneus em atrito contra o asfalto, tudo ao mesmo tempo, e um segundo depois o impacto às costas de Samuel, próximo demais dele;
Ele não se virou para ver o corpo do tatuado atropelado pela van.
Nem os bandidos retornando ao Land Rover.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Arlequim [completo]
Romance"Saiba, agora, de uma vez por todas, quem é Ariel, a mulher que mais amou você nessa vida, e como nasceu Arlequim, o monstro que mais amou você nessa vida. E que por você quase deixou de existir..." Se o amor é puro e divino, o que acontece se você...