Duas semanas haviam se passado. Samuel levara um bom tempo para digerir aquilo tudo, voltar a confiar e ficar confortável com seu irmão. O que havia acontecido era muito sério, mas ele passou a entender que Daniel de fato não tinha culpa; estava bêbado no meio de companhias erradas. Apesar da tentativa de assassinato, a verdadeira assassina era Ariel, a mulher que ele mais amava.
Seu único medo era que ela ferisse o irmão, fizesse com ele o que havia feito com os outros. Mas fora isso, apesar de tudo, não conseguia odiá-la ou sentir repúdio. O que vivera com ela não fora uma mentira, o sentimentos foram reais. E ela nunca mentira, sempre dissera que tivera um passado negro e que era um monstro. Era inimaginável que ela fosse capaz de cometer aquelas atrocidades, apesar de saber que era verdade. Não sentia medo de Ariel, mas não sabia se teria coragem de continuar com uma pessoa capaz de matar tão cruelmente, e sem razão. Ariel era doente, era tudo o que pensava. Chorava todas as noites sem medo de estar sendo sensível demais; era deveras doloroso ter que quebrar seus sonhos de construir uma vida com ela longe dali. Por enquanto, tudo o que queria era que seu irmão ficasse a salvo. Daria tudo para conversar com ela e implorar que deixasse Daniel em paz, que o deixasse em paz.
Mas a ideia de nunca mais a ver era terrível...
O médico o examinou mais uma vez e anunciou que teria alta naquela mesma semana. Estava ávido para sair daquele ambiente, ao mesmo tempo em que tinha medo de encarar o mundo lá fora agora que mudara completamente os planos.
Daniel naquela tarde sentara-se ao seu lado e segurou sua mão, apertando firme.
— Independente do que acontecer comigo, saiba que eu sempre amei você, brother.
— Nada vai acontecer com você, cara. Ela não teria coragem...
— Não quero falar dela. Quero falar de nós dois. Quero que saiba, e nunca se esqueça de que tenho muito orgulho de você.
— Que é isso, Daniel, não chora.
— Não estou chorando — sorriu limpando as lágrimas que lhe haviam escapado. — Malditos ciscos. Essa clínica tem que ser mais limpa.
Samuel queria falar muitas coisas ao irmão, mostrar a ele tudo o que ele significava, tudo o que nunca havia dito, mas sentia vergonha. Acreditava que um dia iria se sentir à vontade para dizer a Daniel que o amava e que ele era seu ídolo, seu herói.
Mas não naquela tarde.
Daniel saiu para voltar ao trabalho — escapara para visitar o irmão. — e dirigiu-se ao estacionamento subterrâneo. Entrou no carro, fechou a porta, mas antes de girar a chave na ignição, foi surpreendido por trás, com uma mão tapando sua boca e nariz com um lenço úmido. Daniel tentou lutar, mas o cheiro absurdamente tóxico o fez desfalecer.
Ariel empurrou o corpo dele para o lado, para o banco de passageiro, e deslizou para o banco da direção.
Deu partida.
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Daniel era levado pela polícia, algemado, diante de dezenas de pessoas, a grande maioria vomitando ofensas; se não fosse pela escolta policial, com certeza seria linchado. Do meio da multidão, Samuel o observava com desprezo, um olhar tão pesaroso e hostil que era difícil acreditar que era de seu próprio irmão.
— Sam! Brother!
Samuel se aproximou, o que deu a Daniel uma esperança de ao menos pedir perdão. Mas o que recebeu foi uma cusparada no meio dos olhos. Samuel deu as costas, sumiu entre as pessoas furiosas.
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Arlequim [completo]
Romance"Saiba, agora, de uma vez por todas, quem é Ariel, a mulher que mais amou você nessa vida, e como nasceu Arlequim, o monstro que mais amou você nessa vida. E que por você quase deixou de existir..." Se o amor é puro e divino, o que acontece se você...