15. A cor dos cabelos da morte

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Renata era uma ameaça. Uma vez que não havia como provar que fora ela quem colocara a arma na mochila, nem que havia feito o telefonema, ela estaria impune e poderia agir de novo a qualquer momento. E o pior era não saber do que ela era capaz.

Acompanhado por Daniel, Samuel registrou um B.O, apenas para constar, já que não daria em nada sem provas.

— A Miss Vagina? — surpreendeu-se Elias ao telefone. — Caralho, faz tanto tempo! Por que ela viria se vingar de você agora? Não fui eu quem espalhou o vídeo?

— Aí é que está, bicho. Não tenho ideia da motivação dela pra querer me prejudicar. Eu senti o ódio na voz dela!

— Procura os pais dela, vão dar uma coça nela.

— Saíram da cidade depois que o vídeo se tornou popular.

— Por falar em popular, o teu está com mais de quinhentas mil visualizações no Youtube. Sem falar que ainda hoje a galera compartilha nos grupos de What's App.

— É o que ela quer... Me desmoralizar como ela foi.

— Cuidado, Sam. Enquanto ela quiser só ferir teu orgulho, tudo bem. Ela pode querer te ferir fisicamente. Não sabemos do que essa louca é capaz.

Na segunda-feira Samuel teve seu primeiro dia de pena. Foi a um hospital público, foi apresentado ao chefe dos serviços gerais, e este lhe designou algumas tarefas de limpeza. Os primeiros dias foram leves; em uma hora não dava pra encerar um único corredor inteiro. Então foi alcunhado de lavar os banheiros. A hora de trabalho parecia o dia inteiro; era nauseante tanto o odor quanto o visual. Vômito, fezes, urina. Mas ainda assim era melhor do que a cadeia.

Mas apesar de tudo não era Renata que tirava a paz de Samuel. Não estava mais suportando a ausência de Ariel. Tinha que vê-la ou iria enlouquecer.

— Que cara é essa, Sam?

Samuel estava deitado no sofá da sala olhando para o teto. Daniel afastou os pés dele e se sentou.

— Nada.

— Preocupado com a Renata?

— Não. Nem estava lembrando dela pra falar a verdade.

— Então é a mulher misteriosa da boate, que roubou seu coração.

— Ela mesma — confessou.

— Não quer falar dela? Pode ser que eu ajude. Tenho mais experiência com a raça feminina.

— Aposto que sim. Quem sabe outro dia.

— Eu um dia vou conhecê-la?

Aperto no coração.

— Espero que sim.

— E onde ela está agora?

— Não sei.

— Já tivemos essa conversa. Ela está brincando com você, Sam.

— Não, não está... Na verdade eu não sei. Ela é misteriosa demais.

— Mulheres...

— O que eu faço, cara?

— Esquecer é uma opção?

— Acredite, é impossível.

— Vai atrás dela então. A dúvida e a esperança andam de mãos dadas no inferno; adiam sofrimentos que poderiam ser cortados logo no início.

— Como assim?

— Pensa bem, brother. Uma criança desaparece. Os pais sofrem por anos e anos, sem diminuir a dor em momento algum, e por quê?

Arlequim [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora